sexta-feira, 2 de junho de 2017

Um dia ao estilo PSDB/PMDB: Violência, oportunismo e armas letais


do Psicanalistas pela Democracia


“…o Estado proibiu ao indivíduo o uso da injustiça, não porque pretenda abolí-la, mas porque quer monopolizá-la, como o tabaco e o sal. O Estado combatente permite a si toda a injustiça e toda a violência que desonraria o indivíduo.”

Sigmund Freud-Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)

Em meio a uma crise e a uma sucessão de violências inacreditáveis que supunhamos ter ultrapassado, vamos observando os movimentos pusilânimes que fazem os partidos hoje no poder. Mas relembremos o alerta de Freud no contexto da primeira grande guerra: “Na realidade, tais homens não caíram tão baixo como temíamos, porque também não tinham subido tão alto, como a seu respeito julgávamos.”

A total indiferença de supostos líderes cujos movimentos rasteiros tem um único objeto: manter-se na área de influência e mando. Membros do parlamento, representantes eleitos, ex-presidentes, ex-governadores testemunham todos os dias brasileiros sendo massacrados, assassinados, mal tratadas e humilhados mas não se importam, não empunham a palavra para interceder, não reinauguram e nem interpretam a bestialidade dos discursos que jogaram a nobreza da política para o esgoto do sem fundamento e do ganho pessoal. Ao contrário são hoje eles os grandes promotores das violências que explodem contra o corpo de brasileiros e brasileiras.

A grande imprensa adestrada, corre para ouvi-los, lhes concede entrevistas, páginas e páginas nos jornais, horas nas rádios e na TV. E eles não dizem nada. Vamos ouvir FHC, os ministros do supremo, os líderes de partido? De onde virá a lucidez, a dignidade e a preocupação com o Brasil e os brasileiros?

Quase não é preciso ir à Hannah Arendt para, mais uma vez, constatar sem surpresa, mas ainda com espanto: Poder sem legitimidade não é poder, é mando. Mando sem legitimidade é força bruta. A força bruta esboroa os limites entre a representatividade e a barbárie. Trai o sistema representativo, mas enquanto tenta alcançar isso, massacra pessoas.

É estarrecedor ver um ex-presidente da república como Fernando Henrique brincando de emitir análise, dar opiniões sobre a importância dos movimentos sociais no Brasil, Chile e França, afirmar que sempre produzem importante papel para, de outro lado continuar exercendo sua influência política pautada nos desconhecimento dos movimentos sociais que hoje clamam por diretas no país, apoiar um presidente absolutamente ilegítimo no poder e aguardar a terra arrasada das reformas para oferecer os serviços da empreiteira PSDB que, aliás, como vimos em São Paulo, adora tratores.

Ele mesmo que, logo após a informação dos áudios da conversa criminosa entre Joesley e Temer manifesta sua opinião magnânima de que Temer deve renunciar, para em seguida, dias depois, abrandar os ânimos, ligar para Temer e depois conceder entrevistas dizendo que não queria apunhalar o presidente pelas costas. Quanta civilidade!

O próprio FHC e o então governador do Pará, também do PSDB à época, carregam nas costas o massacre de Eldorado dos Carajás ocorrido em 1996.

No cai não cai da (con)gestão Temer a estratégia é bem outra: apunhalar Temer duas vezes. Manter o apoio para, com a anuência de um PMDB moribundo, recolocar na presidência outro soldadinho das reformas impopulares e, até 2018, buscar novo alinhamento da direita para manter a continuidade do projeto de 20 anos de esfacelamento de direitos, acompanhado da privatização sem precedentes e submissão total às nações hegemônicas no contexto global.

O plano é dar continuidade à eterna nação sem indústria, sem tecnologia, sem educação, sem pesquisa, sem vergonha e líder em quase todos os rankings de violência contra o jovem, a mulher, a população gay, homicídios cometidos por policiais, etc.

O velho e bom país do atraso, do carnaval, dos macacos que jogam futebol e dos bumbuns que aguardam o turismo sexual como seu produto de exportação. Nação indigna e desrespeitada. Para isso o estilo PSDB/PMDB de governar trabalha duro para, uma vez mais, empurrar o país. O padrão é o mesmo, se repete e tem seus operadores.

Fernando Henrique e sua tropa combalida farão de tudo para fazer passar o relatório das reformas trabalhistas e previdenciárias, e guardam a adaga para quando Temer estiver encurvado e pedindo água. Daí sim a apunhalada de misericórdia numa incrível contenda entre omissos. E eles, os psdbistas, seriam alçados mais uma vez ao poder à base da violência, nesse caso, contra seus comparsas do golpe.

Sai Aécio entra Jereissati, o coroné de zóio azul. Que bela troca!

Um partido que nasceu na democracia, o PSDB, tem hoje entre seus caciques 3 acusados, 1 que conclama sua senilidade para dar opiniões sem compromisso e um recém apunhalado pelas costas pelo seu afilhado. Esse, eterno Junior que, acompanha Temer num estilo mini Trump, que logo será reconhecido como um dos maiores desastres da administração paulistana.

Não apenas porque faz questão de destruir as poucas coisas que a cidade possuía em termos de políticas públicas vencedoras, mas porque faz isso com uma truculência e violência sem limites.

Suas últimas realizações incluem o esvaziamento de uma das experiências cidadãs mais promissoras dos últimos anos na cidade-a Virada Cultural-; o ataque sorrateiro às poucas ciclovias da cidade, a dificultação dos remédios populares pela população mais pobre, e a ignorância ou desapreço pelos princípios fundamentais do respeito aos direitos humanos.

O ataque sem clemência a uma população frágil, de pessoas que precisam de ajuda e tratamento e não tem onde morar não é apenas covarde, mas perigoso. O prefeito Dória faz tudo isso sem ter a menor ideia do que colocar no lugar. Insufla ódio e rancor nas populações que ataca e torna a cidade mais perigosa do que já é.

Sobre o episódio ocorrido no último domingo e sobre as ações pretendidas pelo prefeito Dória Junior comenta o promotor Arthur Pinto Filho: “É uma caçada humana que não tem paralelo no mundo”.

Por pouco a cidade não testemunha o prefeito prodígio, em sua primeira demolição com pessoas ainda no prédio, pilotando um trator, não sem um macacão característico, assassinando pessoas que não fez a menor questão de retirar do edifício que orgulhosamente derrubaria.

Como seriam a propaganda e as manchetes sobre o prefeito?

Dória assassina pessoas sem dó em nome de uma cidade linda?

Enquanto isso, em Brasília, Temer coloca as armas de uso letal para serem disparadas contra manifestantes desarmados e, depois, ratifica essa opção convocando o exército. Não há um golpista que prescinda da força bruta para sem manter no comando ilegitimamente. O velho e bom Temer não seria a honrosa exceção.

Como vemos Pmdbistas e Psdbistas gostam de armas, cavalos, soldados e bombas. Basta ver como a polícia militar age na Universidade de São Paulo cotidianamente para reprimir manifestações de funcionários, estudantes e professores há anos. Prisões arbitrárias, tortura a céu aberto e espancamentos sem limites em meio a manifestações pacíficas tornaram-se useiras e vezeiras na USP.

No domingo em que acontecia a Virada Cultural a dupla Alckmin/Dória protagonizaram outro espetáculo de sangue e dor. De mãos dadas estraçalham com a população pobre na cracolândia e, em operação bárbara, empurram mais de 500 policiais para aterrorizar pessoas subnutridas, sob efeito de drogas e vulneráveis.

Outras vezes já discutimos a escalada da violência entre manifestantes e as forças policiais. Desde os eventos da passeata dos 100 mil que terminou no largo da Batata já era evidente a propensão do PSDB/PMDB de atacar as pessoas, com objetivos letais, após o golpe de abril do ano passado.

Tratava-se de uma exibição, sempre é. A violência tornou-se o luxo dos políticos brasileiros que compõem esses dois partidos.

Não esquecemos da ação da Polícia Militar paranaense, convocada pelo governador Psdbista do Paraná Carlos Alberto Richa, que feriu e violentou mais de 200 professores em 2015.

E nem dos descalabros cometidos contra os secundaristas que foi parar no Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde Alckmin é freguês.

Tudo isso deixa claro o seguinte: estamos a um passo de progredir para um golpe com a participação efetiva das forças armadas, com ou sem Temer, com ou sem PMDB, mas certamente com o PSDB. As forças progressistas e os democratas precisam discutir urgentemente, e sem meias palavras, o que podem fazer para evitar isso ou para enfrentar isso de uma maneira eficaz e a altura dos acontecimentos que estão por vir.

Não sabemos quem eram os mascarados na manifestação em Brasília. Não importa. Vidros quebrados e fogo controlável não podem ser respondidos com armas de fogo e tiros a esmo contra a população.

Ao longo de inúmeras manifestações desde o golpe, centenas de pessoas tem sido alvejadas, com sérios danos à saúde e sequelas permanentes. Ninguém, muito menos os corajosos manifestantes, tem sangue de barata. Reagirão. Vândalos com V maiúsculo, por enquanto, só os que ocupam os ministérios, parte do parlamento e fazem a guarda pretoriana do presidente que ninguém apoia.

Os Black blocs, em seus princípios de confronto com os neofascistas na Europa, também deveriam atuar para dispersar as forças policiais violentíssimas, evitar que ela avance com força total sobre a população desarmada e composta de crianças e pessoas de idade.

Quebrar algumas vidraças para tentar evitar que a cavalaria, e os soldados caninos armados machuquem homens, mulheres e crianças nas manifestações não é tão ilógico assim. São infiltrados? É preciso descobrir.

Obviamente não se trata de apoiar essa estratégia incondicionalmente, mas de reconhecer nisso também uma tentativa de atenuar a violência sem limites das polícias brasileiras, uma das mais violentas do mundo.

Nem sempre os mascarados estão errados. Antes de somarmos com a grande mídia e os partidos do governo pedindo a prisão dos mascarados devemos saber quem são e qual sua função num movimento que cresce, se complexifica e que é invariavelmente recebido com armas(letais) em punho, sempre que pessoas se aglutinam para se manifestar.

Sabemos do receio que o tema deixou numa sociedade que mal saiu do golpe militar de 64 e do que se seguiu a ele, mas justamente por isso talvez tenhamos condições de entender como prosseguir uma luta cujos adversários estão cada vez mais dispostos a ferir e eliminar seus oponentes, e a utilizar armas que podem tirar a vida de muitos.

Diante da inequívoca força bruta e da violência qual a melhor forma de defender os republicanos e nossa democracia que, hoje, respira por aparelhos?

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