Por Kiko Nogueira
Os ataques fascistas à caravana do ex-presidente Lula na região Sul do país subiram mais um degrau na escalada do terror.
Além de maníacos estarem utilizando-se de trincheiras típicas de guerra, dois ônibus da comitiva foram atingidos nesta terça (27) por pelo menos quatro tiros.
Por sorte, ninguém ficou ferido. Desta vez.
Já é dado como certo por 10 em cada 10 analistas da política brasileira que em 2018 não teremos uma campanha, mas uma verdadeira contenda com consequências imprevisíveis.
O aprofundamento da crise política causado pelo golpe de 2016 e os seus inevitáveis reflexos numa sociedade completamente bipartida resultaram num cenário tenebroso onde o debate de ideias foi sendo sistematicamente substituído pela imposição da vontade de uma minoria através de métodos pouco ou nada democráticos. Entre eles, o emprego da força física.
É óbvio que a caminhada que nos trouxe até esse vergonhoso momento de nossa história foi longa e tortuosa. Claro está que não se constrói uma legião de protofascistas como o que estamos presenciando agora de uma hora para a outra.
Diferenças no processo de colonização, particularidades na preservação identitária e políticas nacionais que visaram por décadas o desenvolvimento de determinadas regiões em detrimento de outras são apenas alguns exemplos de um universo muito maior que contribuiu para esse sentimento de equivocada superioridade compartilhado por determinados grupos.
Todavia, não é menos verdade que a recente falência de nossas instituições também tenha dado a sua enorme contribuição para esse terrível estado de coisas.
A eleição do mais corrupto parlamento já visto na história republicana desse país, o acovardamento às últimas consequências de nossa mais alta Corte e a putrefação em estado avançado da grande imprensa nacional tiveram participações incomensuráveis para o atual quadro político, econômico e social do Brasil.
É simplesmente impossível entender essa reinstalação do fascismo país afora desconsiderando a atuação militante desses três fatores em afinada sintonia de movimentos.
Apenas para ficarmos no caso em questão, basta vislumbrarmos que ao mesmo tempo em que uma senadora da República comemora e incentiva atividades criminosas, a grande imprensa, como de costume, desinforma a população ao abrandar o que está acontecendo enquanto a presidente do STF, Cármen Lúcia, finge que nada tem a ver com o basquete.
Se considerarmos que o nosso Congresso nunca foi exatamente um exemplo de retidão (Ana Amélia está aí para provar a cretinice do negócio) e que a grande imprensa brasileira sempre foi composta por meia dúzia de famílias que enriqueceram não à custa do trabalho, mas, sobretudo, de alianças espúrias com os governos militares, era de se esperar, pelo menos num país minimamente civilizado, que fosse a justiça o último amparo à legalidade.
Longe disso, é exatamente ela, a justiça, da base às suas mais elevadas instâncias, a principal promotora da instabilidade política e insegurança jurídica da qual todos nós estamos sendo vítimas.
Note-se, porém, que a causa do cerne da questão transita na exata contramão do que indigentes mentais como Noblat, Merval e Villa apregoam na sua diária labuta pela salvaguarda dos interesses patronais.
Ao contrário do que afirmam, foi justamente a atividade política dentro dos tribunais sob pressões midiáticas que inflamou os ânimos numa seara cuja atuação deveria ser exclusivamente técnica no âmbito jurídico.
Ao cobrarem insanamente do STF a prisão em segunda instância de Lula ao arrepio do que está expresso na Constituição Federal, não só tentam usurpar as prerrogativas de um poder constituído como trouxeram para dentro do Supremo Tribunal Federal uma horda de fanáticos com tochas na mão.
Evidente que esse absurdo só foi possível pela inaptidão, fraqueza e conivência da presidência daquela casa. Cármen Lúcia não apenas deixou que a pauta do judiciário fosse ditada pelos jornalões como assegurou que os seus interesses fossem privilegiados em detrimento dos interesses da própria justiça.
O resultado não poderia ter sido mais desastroso.
Enquanto os onze ministros se digladiam para achar uma solução à desmoralização internacional pela qual a casa que representam está passando, um ex-presidente da República corre risco de morte pela irresponsabilidade, subserviência, indecisão e inoperância do Poder Judiciário.
Inerte a tudo isso, Cármen Lúcia parece preferir sujar suas mãos de sangue a correr o risco de estragar o grande final sonhado pela família Marinho.
O Brasil de hoje daria um excelente filme de terror, pena que os mecanismos do fascismo já cooptaram também boa parte do cinema nacional.
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