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Há um habeas corpus em favor de Lula no supremo. Seu relator é o ministro Edson Fachin. Os habeas corpus tem precedência e prioridade porque lidam com a liberdade. Portanto, já não é de hoje, Fachin deveria ter levado o habeas corpus de Lula para julgamento. Mas uma estranha dança macabra vem sendo ensaiada entre Fachin e a celebridade do momento, Cármen Lúcia. Isso mesmo. A presidente do Supremo que, para garantir a prisão de Lula, resolveu bloquear qualquer discussão sobre a inconstitucionalidade da prisão em segunda instância, virou celebridade entre coxinhas e zumbis. Houve, segundo a Folha, uma alta de 670% na busca de seu nome Google.
E isso que ocorre no Google tem a mão da Globo.
Essa dança macabra de famosos, no mais puro estilo Transilvânia, é explicada por Josias de Souza, insuspeito escriba cortesão e entusiasta febril do encarceramento de Lula (Josias parece não ter percebido o horror da coreografia, ao contrário, ele achou até bonito):
Há quatro dias, Fachin divulgou um despacho no qual negou pedido dos advogados de Lula para submeter ao plenário do Supremo o julgamento do habeas corpus que pode livrar o ex-presidente petista da cadeia. Embora Cármen Lúcia atribua ao relator da Lava Jato decisão de solicitar a apreciação do pedido, Fachin empurrou a batata quente para a presidente da Suprema Corte. Escreveu que será necessário aguardar ”a designação de julgamento a critério da Presidência”.
Ou seja, Cármen Lúcia diz que cabe a Fachin pedir a apreciação do habeas corpus de Lula, e Fachin diz que é Cármen Lúcia quem deve designar o julgamento. Nessa reciproca impostura, ambos buscam ganhar tempo para ver Lula preso assim que o TRF-4 der o sinal verde para Moro emitir a ordem de prisão.
Por falar em impostura, Cármen Lúcia aceitou, em reunião na segunda-feira (19) com Celso de Mello e Luiz Fux, convocar para a terça-feira uma reunião com todos os ministros para discutir o assunto da prisão em segunda instância. Na manhã da terça, a presidente do STF deu entrevista à Rádio Itatiaia confirmando essa reunião, e ainda disse que “seria algo absolutamente absurdo que nós não conversássemos”. No entanto, o dia passou, e a reunião não foi convocada. E pior: coroando sua manobra tosca, Cármen Lúcia mandou dizer, através de sua assessoria, que não entendeu que a iniciativa de chamar os demais ministros para a reunião seria dela. Estranho, já que isso é o mesmo que declarar que não sabia que a presidente do STF era ela mesma.
Jeferson Miola esmiuçou o esforço da Globo que, ontem, mobilizou suas tropas para implodir o encontro marcado do STF com a Constituição – A Globo emparedou o STF. Mesmo não sendo simpática a Lula, a maioria do STF sabe que não se pode sapatear indefinidamente sobre as leis e o estado de direito no país.
Celso de Mello já havia mencionado que a primária teimosia de Cármen Lúcia, em seu ódio desmedido a Lula, poderia conduzir a uma saída drática: “Talvez uma questão de ordem, mas isso nunca aconteceu na história do Supremo, e para evitar exatamente uma situação de constrangimento inédita é que se sugeriu, e a presidente aceitou esse encontro.”
Mônica Bergamo publicou ontem à noite em sua coluna, como desfecho do episódio, que Marco Aurélio de Mello, solicitará hoje, justamente através de uma “questão de ordem”, que a “prisão depois de condenação em segunda instância seja pautada imediatamente por Cármen Lúcia, presidente da corte”.
Celso de Mello diz que essa é uma situação inédita, que há décadas não ocorre, enfim, que Cármen Lúcia terminará emparedada. De fato, se terminará emparedada, mumificada ou empalhada, pouco importa. O fato é que o vexame inédito que ronda como um espectro o espelho da mais nova celebridade brasileira, degrada a justiça do país. Principalmente porque os fatos não são de hoje, bastando lembrar de sua “solução” para a prisão de Aécio, de seu encontro furtivo em atmosfera bruxuleante com Michel Temer, e de sua subserviência compulsiva à Globo.
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