terça-feira, 10 de abril de 2018

Paulo Maluf e o coral das hárpias e das hienas, por Luis Nassif


As cenas de um Paulo Maluf em cadeira de rodas, quase agonizante, sendo exibido no coliseu da Justiça para um público sedento de sangue, é um dos momentos mais vergonhosos desses tempos de descalabro e de instrumentalização da Justiça.

Ao assumir o ônus de autorizar a prisão domiciliar de Maluf, o Ministro Dias Toffoli expôs-se à turba dos sanguinários que habitam, hoje em dia, não apenas a malta das ruas, mas os escaninhos do Judiciário e do aparato repressor.

Para a cena dantesca se completar, faltaram apenas selfies de policiais com seu prisioneiro ilustre.

A esquerda não se comoveu com o martírio de seu adversário histórico. A direita, há muito trocou Maluf por novos centuriões, na forma de juízes e procuradores inclementes, ou, nesse país de paradoxos, bandeando-se para o lado dos herdeiros de Mário Covas, um adversário histórico do malufismo.

Sem seguidores, sem cacife político, sem saúde, a prisão de Maluf serviu para apenas um propósito: alimentar o a curiosidade sádica da turba e a falta de respeito e discernimento da mídia. Aliás, Maluf sempre foi tratado como um dos Vampiros da mídia – os adversários que a mídia transforma em monstros invencíveis como forma de impressionar seu público.

Há anos aguardo a prisão do mais óbvio, rico e desleal dos políticos que conheci, o senador José Serra e sua máquina de lavar dinheiro. Mas chega-se em um ponto em que o acerto de contas com o passado custa muito caro, pelo poder conferido aos verdugos. E, provavelmente, porque o castigo chegará, e não falta muito, apenas quando o poder de Serra, que a cada dia definha, bater no chão, e sua punição não tiver mais significado algum, do mesmo modo que a punição aplicada a Maluf.

Quando o escracho bater na porta de Serra, a mesma imprensa que o incensou exporá suas entranhas às hienas. E os jornalistas que o temiam, e que foram alvos de sua perseguição, estarão na linha de frente atirando ovos, pedras e adjetivos.

Eu, que só entendi sua verdadeira natureza após se tornar prefeito e, desde então, dei minha contribuição para evitar que o país caísse em suas mãos, não ajudarei a compor o coral das hárpias. Contento-me em vê-lo se esgueirando pelos vãos do Senado, medroso como sempre foi, mas, agora, sem a blindagem dos jornais e de Fernando Henrique Cardoso.

Sua sorte é que Gilmar Mendes não abandona os amigos feridos no campo de batalha.

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