“Nessa falta de estratégia comunicacional, o governo de Dilma Rousseff foi desossado, ficando sem vértebras, sem esqueleto, até que caiu. O governo precisa falar, responder, se posicionar, escutar”. A referência escolhida pelo blogueiro é Hugo Chávez, na Venezuela, que promovia com frequência diálogos públicos com presenças de líderes de governo e populares, além de ter fomentado meios comunitários, populares e públicos.
Colunista do Jornal do Brasil, Hildegard Angel lamenta que a necessidade de se fazer comunicação ainda seja tratado como desafio para as administrações públicas de esquerda. “Nos governos progressistas, não deveria haver desafios de comunicação. Ora, são progressistas”, diz. “Mas o que vimos com Lula e Dilma foi uma grande distância dos meios alternativos, dos setores democráticos e populares, da radiodifusão comunitária”, complementa, opinando que esta lógica tem sido hegemônica no setor.
Os governos democráticos e populares se abstiveram em relação à guerra vigente na mídia e nas redes, critica Angel. Desde a diputa contra Serra, em 2010, Dilma ganhou pechas das quais nunca se livrou. “No Brasil, se prática a opinião única. A d’O Globo. Em todos os veículos é a repetição das mesmas opiniões, empobrecendo o espírito crítico”.
“Sabemos que o que sustenta a grande mídia é a publicidade oficial. Faltou decisão política de distribuir esses recursos com outros atores da mídia, principalmente os que estavam ao lado do projeto democrático e popular”, diz a jornalista. Agora, com a passagem do bonde da história, Hildegard Angel alerta: “Tenho a forte sensação de que esses são os últimos momentos da liberdade de expressão no país e, muito em breve, assistiremos novamente a um filme triste, que já esteve em cartaz por mais de 20 anos no Brasil”.
Detentor de um currículo e experiência notáveis no que diz respeito ao tema do seminário, o jornalista Fernando Brito opina que não pode existir movimento progressista sem que haja uma imprensa progressista. Brito foi assessor de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e acompanhou de perto o que pensava o líder popular sobre o assunto. “Eu dizia a Brizola que talvez ele precisasse parar com os tais ‘tijolaços’, que ele escrevia. Ele respondia: ‘Temos de dar munição para o nosso pessoal conversar na rua, no ônibus, no botequim. Não são só os intelectuais e comentaristas que podem falar sobre esses temas’”.
Segundo ele, esse enfrentamento é fundamental. “Comunicação no governo progressista é algo que permite que a população perceba a identidade desse governo, as propostas e o projeto desse governo”, diz. “Um governo progressista, seja numa metrópole, numa cidade de médio ou até pequeno porte, tem de ter suas marcas. Tem de transmitir o que é seu projeto e como este governo pensa”.
Conforme argumenta Brito, a comunicação no governo progressista não deve se limitar a falar que “secretário tal esteve em lugar tal dia tal para falar de tal assunto”. O governo progressista precisa de símbolos, assevera. “Por isso que a direita tem horror a esses símbolos criados por Lula e Brizola, por exemplo”.
“Não interessa o que pensamos da igreja, mas quando falamos que algo ‘fica ali atrás da igreja’, ou ‘fica ali na frente da igreja’, é porque olhamos aquele prédio e identificamos a igreja como referência. Os governos progressistas precisam criar referências que o povo assimile”, explica. “Pra mim, comunicação é a capacidade de nos darmos, perante à população, identidade. Identidade como clareza de propostas, de propósitos, de ideias e, tanto quanto possível, informação”.
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