terça-feira, 13 de agosto de 2019

Argentina: como os patetas podem ser batidos

Larga vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, em primárias nacionais, torna quase irreversível derrota de Macri, o Bolsonaro portenho. Há enormes lições a aprender — especialmente no Brasil



Quase tudo pode acontecer na política, mas poucos resultados são tão dificilmente reversíveis quanto a vitória da chapa peronista — Alberto Fernández e Cristina (Kirchner) Fernández — ontem, nas eleições primárias para a Presidência da Argentina. Primeiro, pela dimensão do triunfo:47,7% x 32,2% de Maurício Macri. Segundo, pelo caráter destas primárias. Não são mera consulta interna realizada pelos partidos. Parte de um curioso processo eleitoral, têm comparecimento obrigatório, são realizadas pela Justiça Eleitoral e envolvem todo o país — 75% dos eleitores votaram, ontem.

As eleições efetivas ocorrerão em onze semanas (27/10). Que não haja dúvidas: a muito possível vitória de Fernández e Cristina será um vendaval político. Marcará o primeiro fracasso da onda conservadora que varre a América do Sul. E terá sido conquistada contra a ação coordenada da oligarquia financeira (FMI incluído), da mídia e dos grandes grupos econômicos argentinos.

Maurício Macri é uma versão portenha de Jair Bolsonaro. Aplica um programa ultracapitalista. Mas elegeu-se por ter conseguido posar de antiestablishment e conquistar os votos dos deserdados pela velha política. É preciso entender como se pôde vencê-lo. E uma parte importante da resposta está no gesto estratégico da ex-presidente Cristina Fernández. Tendo todas as condições de ser a candidata de seu partido à Presidência, ela renunciou ao posto em maio, preferindo assumir a candidatura a vice. O passo desarmou por completo a estratégia de Macri. Sem nenhum resultado positivo a apresentar, ele apostava em mobilizar os argentinos que se opõem à ex-presidente. Está a ver navios, como previa o texto que Outras Palavras publicou então, sobre o tema. Vale lê-lo agora — assim como assistir à fala — extremamente politizada e sensível — em que Cristina comunicou sua decisão aos argentinos. Está a seguir:


MAIS:
Ao renunciar à candidatura à presidência, ela qualificou-se como estrategista da vitória sobre a direita – agora mais possível que nunca. Seu gesto diz muito, a Brasil às voltas com Bolsonaro e a uma Europa ameaçada pelo neofascismo (Por Antonio Martins)

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