quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Entre Bolsonaro e Paulo Guedes, fico com o gordinho do Posto Ipiranga

          RUI DAHER
PAULO GUEDES E JAIR BOLSONARO

Enquanto isso, ler a entrevista da antropóloga e professora luso-brasileira Manuela Carneiro da Cunha é um alento
Em tempos tão incertos e trevosos, ler a entrevista da antropóloga e professora luso-brasileira Manuela Carneiro da Cunha (1943-), publicada no (Valor, 16/9, por Daniela Chiaretti) é um estrondo de conhecimento, bom-senso e humanismo.

Título: “Opressão vivida hoje por indígenas é rara”. A ninguém ela poupou, sobretudo à estirpe do Regente Insano Primeiro.

Tive a felicidade e honra de assistir a algumas de suas palestras, década de 1980, na USP. Biografia e obra extensas. Trata-se de uma intelectual séria, comprometida e honesta. Nas ascendências e concepções, uma Maria da Conceição Tavares.

Duas pinceladas para reflexão de meus leitores e leitoras: “Esta história da cobiça internacional pela Amazônia é uma retórica sempre usada na hora que convém”. Mais? “O que vivemos hoje é uma situação gravíssima. É a festa dos grileiros e a festa do desmatamento”.

Seus números são incontestáveis, se você for honesto.

Enquanto isso, o Regente Insano Primeiro e seu séquito destroem nossos aparelhos econômicos, assistenciais, culturais, ambientais e de soberania. E “a gente vai levando”, como escreveu Chico Buarque ao seu amigo Augusto Boal.

Claro que apoiados na agropecuária pela ministra e lobista do ruralismo, Tereza Cristina, que aprova agrotóxicos a mancheias, mesmo que eles não tragam qualquer inovação, além daquelas que vão para o faturamento das multinacionais que operam no Brasil.

Não é somente obra dessa deusa de óculos em grossos aros. Segundo o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entre 2009 e 2019 foram concedidos registros a 580 moléculas de produtos classificados como extremamente e altamente tóxicos.

Inovações? Poucas. Grana? Muita. Deixemos os medianos e pouco tóxicos. Insisto: inovação nenhuma; vendas muitas, à cause de notre imbécilisation agronomique.

O que os agricultores deveriam estar praticando é a redução das doses de agroquímicos e de moléculas de alta toxicidade e aumentarem a aplicação de produtos com alto teor de carbono orgânico nos solos e nas folhas.

Junto à revolução dos controles biológicos, que reduzem o nível de toxicidade. Mas, mesmo em 2014 e 2015, quando ainda se incentivava o registro dos biológicos, passou de 8 para 29 produtos, segundo a ABCBio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico). Vejam a desproporcionalidade.

Os grandes produtores nacionais ainda mantêm um alto nível de covardia diante de propostas que não sejam a eles inculcadas pelo poder de divulgação dos grandes complexos industriais de agroquímicos. São cagões até para cederem 2% de suas áreas para experimentos com matérias orgânicas.

Vivem no conforto do ‘assim tá bão … pego o meu avião, levanto voo amanhã … na volta promovo uma churrascada … esses organominerais são perfuminhos de que não precisamos … prefiro pagar USD 450/500 (depende da concentração da fórmula) por um NPK e dormir sossegado’.

Poderia gastar metade, não fosse burro.

Atenção! O mundo hegemônico é mais inteligente do que nós.

Paulo Guedes anuncia querer vender todas as estatais. Concordam? Em qual país isso foi feito ? Quem é Guedes? Não são três os poderes da República Federativa do Brasil? Quem é esse secretário de terceiro escalão da economia, para determinar sua única vontade? Para mim, é um aloprado como seu chefe.

Fico com o gordinho do Posto Ipiranga.

Inté.

Este texto não reflete necessariamente a opinião de CartaCapital.

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