quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Lula aponta cilada na frente da direita limpinha


(Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)

Por Denise Assis
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Em entrevista ao editor da Revista Fórum, Renato Rovai, o ex-presidente Lula disse que não tem como formar frente ampla “por direitos” com quem tira direitos. “O PT não vai aceitar isso. Não dá para formar uma frente ampla por direitos com quem tira direitos, com quem fez o impeachment”. Afirmou, ainda, que as reticências do PT com relação à frente nunca foi o “Lula Livre”.
O cenário – guardadas todas as devidas proporções - tem alguma semelhança com um outro setembro, o de 1967 (há 52 anos, portanto), em que o país havia mergulhado, três anos depois do golpe que derrubara João Goulart com a ajuda dos americanos do cargo de presidente da República, em que o Brasil vivia um momento muito delicado.

Ali os militares começavam a desenhar o “milagre econômico” (que atingiu o auge entre 1968 e 1973, abatido pela crise do petróleo). Tal quadro apontava para um apoio aos ditadores, por parte da sociedade, enquanto movimentos de resistência começavam a pipocar, com ações de impacto. Neste mesmo mês, o presidente do Partido Comunista, Luiz Carlos Prestes, havia expulsado Carlos Marighella de suas fileiras, por ter, em um ato de desobediência ao centralismo, ido a Cuba, em agosto, participar do Congresso de criação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS). 
A organização, composta por diversos movimentos revolucionários da Ásia, da África e da América Latina, pretendia ampliar a luta contra o imperialismo norte americano e expandir a revolução cubana à toda América Latina. Posição totalmente descartada pelo PC, que condenava a luta armada. Tal gesto impulsionou mais rapidamente Marighella para seus planos de ações armadas.
No alto-Comando militar, à frente do governo, a discussão era em torno da criação da pena de morte regulamentada por decreto-lei, já assinado pelos ministros militares, e que previa a morte por fuzilamento, (podendo ser comutada apenas pelo presidente da República), leia-se, o ditador da vez, para os adeptos de tais ações.
Muda tudo. Certos de que o excesso de carga sobre uma pauta liberal e de direita os jogou no colo do fascismo que ora dirige o país, os liberais de sempre, os derrotadíssimos e quase esmagados na eleição de 2018, entram na costureira e pedem uma reforma no guarda-roupa. A fórmula é esperta. Mandam para a TV o formulador de políticas econômicas, que com cara compungida recita – certamente com ordem do “mercado” – um discurso muito próximo da esquerda: “pela redução das desigualdades”. 
Com um desafinado canto de sereias, tentam atrair o principal partido de esquerda para o seu leito. Certamente já prevendo a recusa, para assim ter o recibo de radicalização escancarado para a sociedade. Desta forma, limpinhos e cheirosos, sairão por aí consolidando a ideia de que, num país “polarizado” (esta é a palavra da vez, outra vez), a solução está com eles, os limpinhos, cheirosos e chiques. Lula, o grande articulador político, sabe do que fala. Esta Frente é a que apunhala pelas costas. É da natureza deles.

Jornalista há 43 anos, vencedora dos prêmios Esso e Ayrton Senna de Jornalismo, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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