sábado, 14 de setembro de 2019

Lula é síntese de um ideal: desenvolvimento inclusivo e soberano, por Rafael Vier

Qual nosso modelo de desenvolvimento e qual nosso papel no grande jogo das nações? Ou se tem uma resposta que combine questões interna e externa, ou nunca se sairá do impasse que reina desde 1930 no país

       Por Rafael Vier
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Foto: Ricardo Stuckert

Por Rafael Vier


O Lula só está preso porque representa uma ameaça as forças golpistas, que se unificam em torno de um projeto modernizante internamente excludente e externamente dependente.

O problema não é a pessoa do Lula, mas a força simbólica de sua liderança, capaz de aglutinar as forças que colidem com esse projeto golpista.

Em suma, desprezar Lula é o mesmo que ser contra uma ideia capaz de aglutinar forças reativas ao golpe. Ou seja, mesmo que inconscientemente, dizer que o LULA LIVRE é uma bandeira menor, é o mesmo que contribuir para a consolidação do golpe.

Afinal, “Lula” é uma ideia força que aglutina as massas capazes de fazer frente ao projeto golpista. Pois trata-se de uma ideia de desenvolvimento inclusivo e soberano. É isso que Lula, a exemplo de Getúlio, representa. A síntese de um ideal, encarnada numa pessoa. Negar isso é abrir de um ativo indispensável para romper o projeto golpista (modernizante – concentrador – dependente) em curso.

Uma observação. O cerne da crítica da Globo/Armínio/PSDB e cia. aliada ao grande capital internacional, não é relativa a perda de direitos trabalhistas e as privatizações (leia-se, teto dos gastos, reforma trabalhista e previdenciária e venda das estatais, empresas e ativos nacionais), mas ao projeto personalista, tosco, mafioso e moralista-conservador do clã militar-evangélico-bolsonarista.

Observo que o discurso social da turma da bufunfa, na Vênus Platinada da Globo News, é apenas para dourar a pílula. Afinal, foi essa turma da Globo/Civita/FHC/Serra/Aécio/Hulck e cia., que cevaram, desde a farsa do Mensalão, o golpe 2015/2016 que resultou na eleição de um projeto abortador de direitos, privatizante e dependente dos EUA, que Bolsonaro também encarnava, apenas o diferenciava a esperta pitada evangélico-moralista (para conquistar as massas e que a turma da bufunfa engoliu, para ver seu projeto, ao menos parcialmente representado, pensado em repetir a saga Collor, se não der certo, depois a gente – que botou ele lá – tira).

Agora, que deu errado, porque ninguém controla a fera (e eles perderam as rédeas do poder), estão arrependidos. Por isso, ajustam o discurso.

Lógico, antes um neoliberal que um neofacista, mas isso é muito diferente de achar que os neoliberais defendem um projeto de desenvolvimento includente e soberano. A turma da bufunfa se desenvolve atavicamente da relação entre concentração de renda interna e dependência econômica externa.

Ainda está para nascer a chamada “burguesia nacional”, que tenha um projeto para o Brasil associado ao seu papel como ator soberano, definidor da geopolítica global. Pois, só haverá saída quando se construir um projeto nacional associado ao papel de player global de um país da dimensão do Brasil. Do contrário, será impossível superar o dilema, que vem desde 1930, entre dois projetos: modernização concentradora dependente (UDN/PSDB) X desenvolvimento (sustentável), inclusivo e soberano (PTB/PT).

Observa-se que os governos militares representaram uma síntese nacional parcialmente unificadora ao construírem um projeto de desenvolvimento soberano, porém, concentrador. Aliás, foi por conta dessa síntese capenga que estourou a crise, devido ao baixo poder de compra da massa trabalhadora a qual não permitiu alavancar o mercado interno (a exemplo do Fordismo nos EUA). Assim, veio a fome e migração no nordeste e as greves no ABC.

Diante disso, a solução, ainda mais capenga, foi apresentada pelos grandes relações públicas da turma da bufunfa no Brasil, a Globo-Marinho/Abril-Civita. Através deles e sua pregação neoliberal modernizante se propagava o atraso do estatismo militar brasileiro, uma espécie de estado soviético às avessas. É daí que vem Collor/FHC como solução “modernizante-dependente”. Um projeto que se esgota em 2002 porque não inclui e não foi soberano e, portanto, não gerou desenvolvimento para os quase duzentos milhões de brasileiros na época.
Outra vez, agora em 2002, o pendulo do desenvolvimentista inclusivo e soberano retorna. Persiste até o final de 2015, quando outra vez volta o modelo concentrador dependente com aparência de modernização econômica (vide Paulo Guedes – pausa para rir ou chorar ao gosto do freguês, e também dos yuppies da XP e cia.).

Eis o impasse novamente. E a grande questão é: qual nosso modelo de desenvolvimento e qual nosso papel no grande jogo das nações?

Essa é a grande questão a ser respondida. Ou se tem uma resposta que combine essas duas questões (interna e externa), ou nunca se sairá do impasse que reina desde 1930 no país.

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