
Fotos: Reprodução
A live da Arábia do presidente apenas criou deixas oportunas para a Globo responder no dia seguinte em rede nacional
O timing de uma sequência narrativa análoga às ficcionais: a perfeita marcação de cena dos atores, um teaser, o thriller, a live action e, no final, a “escada” perfeita do ator coadjuvante para o sucesso final do esquete… Estamos falando do timing da sequência desses eventos: o vídeo das hienas inimigas simbólicas do Rei Leão Bolsonaro seguida pelo depoimento-bomba do porteiro do condomínio do presidente no JN da Globo, a live action paródia de Bruno Ganz no filme “A Queda” perpetrada por um presidente indignado na Arábia, finalizado pelo rabo entre as pernas da Globo em respostas protocolares. A denúncia-escada do JN não passou de um conjunto de ilações, a participação numa operação psicológica ao estilo de uma “false flag” típica das agências de inteligência – “Operação bandeira falsa” ou “inside job”, espécie de autoterrorismo onde atentados são criados pelo próprio Estado para justificar uma agenda política. Típica operação militar de guerra híbrida para criar a Conspiração Perfeita: protestos no Chile, virada à esquerda argentina, Lula solto, Globo sacaneando, “PSL traindo”, ecoterrorismo de ONGs no Nordeste. Códigos para a criação do cenário perfeito para um golpe dentro do golpe.
O chamado “escada” é aquele ator que auxilia o seu parceiro de cena a atingir um sentido inesperado na interação. Embora muitas vezes visto como “sem graça”, esse ator é fundamental para a construção do risível nos esquetes de humor. Nesse sentido relacional, o humor é uma questão de timing, o tempo certo para a “deixa” para, através dela, a “punch line” da piada dar certa.
Acompanhamos nesses últimos dias os desdobramentos de um cenário político com a perfeita marcação de cena dos atores, teaser, live action e, no final, o “escada” perfeito para o sucesso final do esquete, no caso de humor negro – o papel de “escada” desempenhado pelo personagem mais sem graça e odiado por todos os lados: a TV Globo.
Óleo invadindo as praias do Nordeste; manifestações e protestos violentos explodindo no Equador e Santiago; a vitória eleitoral das esquerdas na Argentina; crise na Bolívia com a vitória de Evo Morales no primeiro turno; Bolsonaro vagando perdido pela Ásia e Arábia entre a gafe de não ter levado um tradutor; franqueando para turistas entrada no Brasil sem vistos e promessas e acordos genéricos de negócios. Tudo sob o mantra: “o Brasil é um país de oportunidades”, como fosse um feirante desesperado na xepa.
Até o momento em que Carlos Bolsonaro tuitou no perfil do pai um vídeo toscamente editado e metaforicamente primário sobre um Leão assediado por hienas simbolizando os inimigos que tentam derrubar Bolsonaro – PT, STF, PSL e por ai vai…

Globo é o “escada”
Foi o teaser para a entrada de cena do “escada” perfeito: a TV Globo e a câmara de eco do Jornal Nacional – a denúncia de que o assassino de Marielle esteve no condomínio de Bolsonaro na Barra da Tijuca/RJ no dia do crime. E interfonado para a casa do presidente pedindo autorização para entrada.
JN levantou a bola para Bolsonaro dar a cortada final: uma live na Internet em plena madrugada na Arábia numa performance paródia da clássica sequência do ator Bruno Ganz no filme A Queda: cólera e descontrole bem controlados que, por sua vez, ofereceram ganchos para a contemporização cínica da Globo na edição seguinte do telejornal.
Praticamente, a explosão de Bolsonaro foi uma espécie de live action do teaser-pastiche anterior com ares de National Geographic.
Foram lances de uma guerra criptografada (e dessa vez bem coreografada e complexa) numa articulação perfeita de elementos cênicos: o contexto (o suposto contra-ataque do Foro de São Paulo na América Latina somado ao ecoterrorismo de ONGs como o Green Peace), o trailer-teaser de Carluxo, a “escada” da “denúncia” da Globo (que apenas retro-alimentou o plot do leão encurralado por hienas) e o thriller do desfecho (a paródia de Bruno Ganz), com direito a uma espécie de making of da própria Globo tentando justificar como a matéria do JN foi jornalisticamente “equilibrada” e “séria”.
A denúncia-escada do JN não passou de um conjunto de ilações, uma operação psicológica ao estilo de uma “false flag” típica das agências de inteligência – “Operação bandeira falsa” ou “inside job”, espécie de autoterrorismo onde atentados são criados pelo próprio Estado para justificar uma agenda política.

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