terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Xadrez para entender as ligações dos Bolsonaro com a Bahia, por Luis Nassif

No recente episódio da execução do chefe do Escritório do Crime na Bahia, duas interrogações: qual a razão do miliciano Adriano da Nóbrega ter escolhido a Bahia e ser abrigado por um empresário do ramo das vaquejadas e, depois, com um vereador do PSL; e qual o motivo para Eduardo Bolsonaro estar de passagem por lá.

         Por Luis Nassif
         https://jornalggn.com.br/

No recente episódio da execução do chefe do Escritório do Crime na Bahia, duas interrogações: qual a razão do miliciano Adriano da Nóbrega ter escolhido a Bahia e ser abrigado por um empresário do ramo das vaquejadas e, depois, com um vereador do PSL; e qual o motivo para Eduardo Bolsonaro estar de passagem por lá.
Há duas hipóteses de investigação, que podem ou não estar interligadas.

Peça 1 – O caso da Termobahia

Alexandre Rodrigues é um bem-sucedido executivo da Petrobras. Entrou na empresa em 2002, indo trabalhar na Gerência de Desenvolvimento de Soluções Energéticas. Em maio de 2010 assumiu uma cadeira no conselho de administração da Termobahia S.A., empresa de energia da qual a Petrobras é sócia.


Em julho de 2018, o grupo chinês Jiangsu Communication Clean Energy Technology (CCETC) anunciou um investimento de R$ 400 milhões para construir duas termoelétricas na Bahia: Camaçari Muricy II e Pecém Energia, de 143 megawatts (MW) cada.

Na fase de queima de ativos da Petrobras, comandada por Pedro Parente, houve a venda de 50% das Termobahia para a francesa Total – a multinacional de petróleo que tinha a preferência de Parente.

No dia 6 de agosto de 2019, a Petrobras anunciou a intenção de juntar as empresas de termoeletricidade e fazer um IPO no mercado, incluindo os 50% restante da Termobahia. Divulgou-se que os chineses poderiam adquirir 100% das térmicas futuramente.

A Kryafs Participações

Pouco antes, no dia 27 de junho de 2019, Flávio Nantes Bolsonaro se tornou sócio da Kryafs Participações, uma holding típica, com a função única de distribuir lucros para os sócios.


Dentre os sócios, uma família ligada a um escritório de direito. Mas o nome que chama atenção é o de Alexandre Rodrigues Tavares, o homem da Termobahia, a esta altura alçado ao cargo de presidente do Conselho de Administração.

Ou seja, o governo Bolsonaro toma a decisão de vender sua participação na Termobahia, através de um IPO. Ao mesmo tempo, fica-se sabendo do interesse chinês pela empresa. E, pouco antes, o filho de Jair Bolsonaro se associa ao principal representante da Petrobras na empresa.

Pode ser coincidência; pode ser que não. Fica o registro para acompanhamento.

Peça 2 – o caso das vaquejadas

O fazendeiro que abrigou o miliciano Adriano da Nóbrega em sua fazenda é Leandro José Abreu Guimarães, tido como empresário do ramo da vaquejada. O setor movimenta R$ 800 milhões por ano, segundo algumas estimativas, em mais de 4 mil eventos anuais. Leandro é empresário do setor, além de seu irmão

Segundo matéria da Folha,

“O empresário e pecuarista Leandro Abreu Guimarães, dono da fazenda e parque de vaquejada Gilton Guimarães, também foi preso durante a operação das polícias da Bahia e do Rio sob acusação de porte ilegal de armas —ele tinha duas espingardas e um revólver não registrados.

Em depoimento, ele confirmou que Adriano utilizou sua propriedade como seu penúltimo esconderijo, segundo a Folha apurou. O ex-capitão, segundo ele, chegou à região de Esplanada no final de 2019 afirmando que estava em busca de fazendas para comprar.

Leandro e Adriano já se conheciam do circuito de vaquejadas, conforme a versão do pecuarista. Herdeiro da terceira geração de uma das principais fazendas de criação de gado da região, Leandro costumava abrigar uma vaquejada anual na fazenda e participava de competições em outras cidades do Nordeste.

O pecuarista afirmou à polícia que conhecia Adriano como um criador de cavalos e disse que não sabia que ele era um foragido da Justiça nem envolvido com crimes”.

Na Receita Federal, é tido como um dos setores preferenciais para lavagem de dinheiro, assim como a indústria clandestina de cigarros e bebidas.

Como não há parâmetros para definir a lucratividade desses eventos, e a maneira como os organizadores ganham dinheiro, é caminho fácil para lavagem de dinheiro de outras atividades.


Qual é a lógica de um chefe miliciano do Rio de Janeiro participar de vaquejadas do Nordeste? É evidente que Leandro não está dizendo a verdade. E se Adriano participasse, de fato, das vaquejadas, seria mais um indício das ligações das vaquejadas com as milícias.

Em 2015, a Operação Pedra 90 da Polícia Federal desasrticulou quadrilha especializada no tráfico de crack no Nordeste. A lavagem do dinheiro se dava através de fazendas, haras, cavalos de vaquejada.


Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro participou da festa do Peão e Boiadeiro em Barretos. Na ocasião, fez as seguintes promessas, segundo reportagem de O Globo..

Numa cerimônia marcada por gritos de “mito”, o presidente da República assinou decreto que estabelece padrões de bem-estar para animais utilizados em festas de rodeio.

Com o decreto, tanto Barreto quanto outras cidades passam a ter autorização para atividades como a Prova do Laço. Além disso, a fiscalização das regras que vão garantir o bem-estar e as condições sanitárias dos animais que participam de rodeios ficará sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura.

— Respeito todas as instituições, mas lealdade eu devo a vocês. O Brasil está acima de tudo. Neste momento em que muitos criticam a festa de peões e a vaquejada, quero dizer com muito orgulho que estou com vocês. Não existe politicamente correto. Existe o que precisa ser feito — disse.

Após o discurso, Bolsonaro deu duas voltas ao redor da arena principal montado em cavalo oferecido pela organização da festa. Em seguida, partiu sem falar com a imprensa.

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