terça-feira, 1 de novembro de 2022

O Brasil corou

Fontes: Rebelión [Imagem: Lula cumprimentando seus seguidores na Avenida Paulista após saber dos resultados eleitorais de 30 de outubro de 2022. Créditos: site de Lula]


Traduzido do português para Rebelión por Alfredo Iglesias Diéguez

Neste artigo o autor reflete sobre o caminho que se abre diante da classe trabalhadora após a vitória de Lula: manter-se atento e organizado, "porque ainda haverá muitas lutas a serem travadas".

Após uma semana tensa, em que um apoiador de Jair Bolsonaro feriu policiais com tiros e granadas e um deputado de Bolsonaro perseguiu um negro pela rua, armado com uma pistola, a população brasileira se manifestou. Chegara a hora de acabar com um dos governos mais destrutivos da história do país. Derrotar Bolsonaro e sua política de morte tornou-se uma questão de honra, favorecendo a formação de alianças nunca antes vistas. Foi uma campanha bastante despolitizada, sem um debate aprofundado sobre grandes questões nacionais, justamente porque Bolsonaro conseguiu impor sua agenda cheia de mentiras. Na verdade, foi preciso muito esforço para desvendar toda a teia de mentiras. Por esse motivo, questões econômicas e políticas foram deixadas de fora da campanha. O clima de guerra religiosa e moral estabeleceu o padrão geral para toda a campanha, enquanto a violência se generalizou. O último ato foi o do ex-deputado Roberto Jefferson, que tentou se tornar mártir, buscando reconstituir o clima que o candidato Bolsonaro havia criado com sua famosa facada durante as eleições de 2018. Ao atacar a Polícia Federal, esperava umarenascimento disso, mas não houve. O balão explodiu causando vários estragos na campanha bolsonarista. No campo da oposição ao governo, as comportas se fechavam e velhos adversários se uniam para derrotar Bolsonaro.

E veio a derrota. Apertado, mas veio.

É importante notar que o governo usou toda a maquinaria à sua disposição para impedir a vitória de Lula. O Nordeste, a região brasileira com mais votos para o petista, foi o campo de batalha. A Polícia Rodoviária Federal foi condenada a impedir que as pessoas chegassem às urnas: ônibus, carros, motocicletas, tudo ficou retido e os passageiros sofreram humilhações. Ainda assim, não foi suficiente. A resposta do Nordeste foi a esperada: a vitória esmagadora de Lula. Minas Gerais, estado que sempre é referência para os shows, também surpreendeu e Lula conquistou mais de 50% dos votos. E na região Norte, os estados do Amazonas e Pará também responderam bem contra Bolsonaro. Sul, Centro-Oeste e parte do Sudeste mantiveram preferência por Bolsonaro,

Por fim, após longa recontagem, chegaram os resultados: 50,90% para Lula e 49,10% para Bolsonaro, uma diferença de pouco mais de dois milhões de votos.

Olhando para o mapa do Brasil, é fácil perceber que foi a população que mais sofreu quem decidiu a derrota de Bolsonaro. Não surpreendentemente, foram quatro anos em que os trabalhadores perderam direitos e sofreram brutalmente os efeitos da ação governamental durante a pandemia. Bolsonaro não atuou no combate à doença, fez campanha contra o uso de máscaras e o uso de medicamentos ineficazes. Além disso, fez campanha contra a vacina e só comprou o imunizante após uma dura batalha da população. O resultado foi de quase 700 mil mortes. Não bastasse isso, facilitou os negócios das empresas armamentistas, fez vista grossa para os fazendeiros e garimpeirosque invadem terras indígenas, não agiram diante das queimadas na Amazônia e no Pantanal, permitiram que a gasolina chegasse a sete reais por litro e fez disparar os preços dos alimentos.

No campo da moral, Bolsonaro, esposa e filhos espalharam uma série de mentiras: que o comunismo estava chegando, que o PT fecharia as igrejas, que Lula era um satânico, que obrigaria meninos e meninas a usar o mesmo banheiro em escolas, que os ensinariam a ser gays e absurdos sem fim que estavam cimentando um exército de fanáticos. Diante de uma economia em colapso, o avanço da fome e da miséria, essas questões criaram cortinas de fumaça que inibiram muita gente. Portanto, não é de surpreender que Bolsonaro tenha obtido 58 milhões de almas para seu projeto. O medo foi decisivo para uma grande camada da população.

Mas apesar disso, Bolsonaro foi derrotado nas urnas. E agora, espera-se que um novo tempo venha. Não há ilusões sobre o governo Lula. Será um governo social-democrata, com muitas concessões de última hora aos aliados. Mas, sem dúvida, haverá uma retomada da racionalidade, na medida em que o projeto político do presidente da nação não será mais dominado por mentiras e absurdos moralistas. Resta agora aos trabalhadores se manterem vigilantes e organizados, pois ainda haverá muitas lutas a serem travadas.

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