Augusto Heleno e Walter Braga Netto (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil | Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
"O mutismo desses dois vetustos quadros do militarismo bolsonarista depõe contra o próprio Exército", afirma Gilvandro Filho
Gilvandro Filho
Onde estão, hoje, os generais Augusto Heleno e Braga Netto? O que dizem eles dos atos terroristas do domingo passado? O que fazem e o que planejam para suas carreiras, agora fora do poder? Com quem se articulam? Têm contato com o ex-presidente, hoje em viagem mal explicada à Flórida? Quem conseguir responder a algumas dessas perguntas terá contribuído para que se chegue perto do que de fato aconteceu em Brasília, no fatídico 8 de janeiro.
O silêncio desses dois militares, nesses dias de terrorismo bolsonarista, é inquietante. Até pelo protagonismo exercido por eles ao longo do governo passado e do próprio bolsonarismo, do qual são ideólogos e operadores. Heleno foi um grande mentor militar do bolsonarismo. Braga Netto, o candidato a escolhido a dedo para ser o vice-presidente de um projeto de governo civil-militar que não vingou por causa da vontade majoritária dos brasileiros.
Favor não esquecer que, logo após a eleição, quando o então presidente derrotado chorava suas pitangas e fazia beicinho longe de tudo e de todos, Braga Netto foi ao “cercadinho” confortar os apoiadores bolsonaristas com conselhos do tipo “Calma! O presidente sabe o que faz”. Sabe-se lá quantos desses apoiadores fanáticos do cercadinho estavam domingo nos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes.
Vale ter em conta que o GSI, vértice para onde converge grande parte das desconfianças quanto ao "corpo mole" feito durante a invasão do Palácio do Planalto, ainda mantém a estrutura montada por Heleno, seu chefe até 31 de dezembro. De lá, durante a invasão bolsonaro-terrorista, é que foram roubados armas, munições, equipamentos e documentos, como se os larápios já soubessem o que iriam encontrar e onde.
O mutismo desses dois vetustos quadros do militarismo bolsonarista depõe contra o próprio Exército, hoje no olho de um furacão de desconfiança e de episódios mal explicados. O sono com que a instituição militar se comportou ao longo de toda a temporada de acampamentos e convescotes de fanáticos em frente a seus QGs espalhados por todo o País, por exemplo, contrasta com a presteza com a qual alguns de seus batalhões tentarem impedir a prisão de terroristas pela recém acordada PM do Distrito Federal.
A postura de parte das Forças Armadas, o Exército em particular, colocou toda a área militar sob suspeição. E por pouco não causou a primeira grande baixa do governo Lula, o ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro, cuja cabeça chegou a ser pedida por setores do PT, inclusive ministros palacianos. Múcio apostou numa exagerada conciliação com setores mais radicais do Exército e até dos acampados, “democratas” para ele. Mas, ao que tudo indica, o ministro reviu sua posição após o 8 de Janeiro.
Todo cuidado é pouco, pois a Paz ainda é um objetivo distante num país em que quase metade da população escolheu o fascismo como projeto de governo. Onde a quantidade de armas e munições nas mãos dos tais CACs, majoritários entre os financiadores do terrorismo, ainda supera todo o armamento das Forças Armadas e das PMS. Onde militares como Augusto Heleno e Braga Netto ainda exercem influência junto a setores militares radicais insatisfeitos com o fim melancólico do governo bolsonarista.
A nossa jovem Democracia ainda corre sério risco em um país onde o Bolsonaro foi deposto pelo povo, no voto, mas o bolsonarismo fanático e terrorista está vivo e bolindo.
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