quinta-feira, 13 de junho de 2024

Os milhões de milhões que custam à Europa um banco central concebido em benefício dos bancos privados


Juan Torres López [*]

O Eurostat, o gabinete de estatísticas europeu, publicou no mês passado os últimos dados sobre o custo do serviço da dívida pública e os juros que esta gera. Por mais um ano, estes dados mostram o gigantesco desperdício que resulta da existência de um banco central que não financia diretamente os governos.

Em 2023, os 27 Estados-Membros da União Europeia terão uma dívida pública total de 13,86 milhões de milhões de euros. Isto é 4,4% mais do que em 2022: mais 559 715 mil milhões de euros.

A dívida dos 19 governos da área do euro era de 12,68 milhões de milhões de euros no ano passado. Um aumento de 3,8 % e mais 462 447 mil milhões de euros do que no ano anterior.

O que é interessante, no entanto, é verificar o peso dos juros no aumento desta dívida pública europeia.

Em 2023, os 27 países da UE pagam 289 997 milhões de euros de juros (aumento anual de 13%) e os 19 países da zona euro 246 785 milhões de euros (mais 8,4%).

Isto significa que pouco mais de metade do aumento da dívida pública de toda a UE (27), exatamente 51,8%, corresponde ao pagamento de juros. E, no caso da zona euro, 53,37%. Trata-se de percentagens muito elevadas, mas inferiores às registadas no período 2000-2023.

Nos últimos 23 anos, a dívida pública da UE-27 aumentou 8,63 milhões de milhões de euros e 6,56 milhões de milhões de euros foram pagos em juros durante este período: 76%. É quase a mesma percentagem que na zona euro, onde a dívida aumentou 7,81 milhões de milhões de euros desde 2000 e 5,96 milhões de milhões de euros deste aumento foram gastos em juros.

Em poucas palavras: três quartos do aumento da dívida pública na União Europeia e na zona euro desde 2000 foram consagrados ao pagamento de juros aos bancos privados. É fácil deduzir, pelo contrário, a enorme quantidade de milhões de milhões de euros que poderiam ter sido poupados ou utilizados para outros fins produtivos se, em vez de os bancos privados financiarem os governos, o banco central o fizesse sem cobrar juros. Isto é técnica, política e economicamente possível e desejável e tornaria a dívida pública muitíssimo menos volumosa.

A proibição do financiamento público não tem qualquer justificação econômica. É um desperdício, um privilégio concedido aos bancos privados e tem pelo menos quatro efeitos muito negativos:

- Aumento da dívida, uma vez que é necessário pagar juros, como já vimos.

- Pressão constante dos bancos para que as políticas econômicas gerem dívida, pois é esse o seu negócio, o que faz com que acabem por ser aplicadas políticas contrárias ao interesse geral e à atividade produtiva e empresarial.

- Aumento da corrupção, pois os bancos financiam partidos, autoridades e todo o tipo de operadores para tomarem decisões que promovam o seu negócio de crédito como um fim em si mesmo.

- Pior funcionamento das economias como consequência de tudo isto, mais instabilidade e crises econômicas recorrentes.

Estão a ouvir isto dos partidos (de direita ou de esquerda) que se apresentam às eleições europeias?

Aí temos outro problema.

03/Junho/2024


[*] Professor catedrático da Universidade de Sevilha.

Este artigo encontra-se em resistir.info



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

12