domingo, 15 de setembro de 2024

Universidade dos EUA insinua que submarino nuclear, desenvolvido pela Marinha Brasileira, é fachada

(Foto: Reprodução)

De acordo com apuração de Denise Assis, artigo sugere que o projeto de submarino nuclear pode estar “escondendo intenções de desenvolver armas nucleares”

Denise Assis

No último dia de agosto circulou entre nós uma matéria no mínimo instigante. O timbre da Universidade Georgetown, dos Estados Unidos – o que não é garantia de nada, pois em época de fake News tudo é duvidoso-, levou a que o tema merecesse tratamento sério. (Há, inclusive, um atalho para levar à fonte original).

A matéria trata de um artigo publicado pela Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, e foi reproduzido no Brasil pelo jornalista Noel Budeguer, na revista “Sociedade Militar”, um informativo voltado para as FAs. O texto sugere que o projeto brasileiro de submarino nuclear (o Álvaro Alberto) pode estar “escondendo intenções de desenvolver armas nucleares”. De acordo com o jornalista, “A acusação levantou diversas questões e preocupações tanto para o Brasil quanto para a comunidade internacional”, e ele nos promete: “Vamos analisar os argumentos apresentados no artigo e as possíveis implicações dessa polêmica para a Marinha”.

E prossegue: “O artigo destaca o corte de chapa realizado pela Marinha do Brasil, que marcou o início da construção do submarino, mas que passou despercebido pela comunidade internacional. Essa comparação é feita com projetos semelhantes em outros países, como a Austrália, e levanta dúvidas sobre as verdadeiras intenções do Brasil”, detecta.

O que chamou a atenção de Budeguer foi o fato de o artigo da Universidade de Georgetown destacar várias preocupações sobre o projeto brasileiro. “Uma das principais é que o Brasil possui um ciclo de combustível nuclear doméstico autônomo, colocando o país em uma posição única em comparação a outras nações que buscam capacidades nucleares. Essa autonomia (de acordo com a paranoia estadunidense, grifo meu), poderia ser usada para fins além dos civis, incluindo a fabricação de armas nucleares. Além disso, o histórico do Brasil durante o regime militar é citado como um fator que aumenta as suspeitas sobre as intenções do projeto”.

História – Base militar na Serra do Cachimbo

Ao que a Revista Sociedade Militar se refere é a uma história mantida em segredo no período dos ditadores militares, sobre a existência de buracos profundos e fortemente concretados, na Serra do Cachimbo, ao sul do Pará que, reza a lenda, serviriam para uma base nuclear brasileira construída com apoio da Alemanha.

De caráter secreto, o acordo de troca de tecnologias só foi assumido publicamente após o encerramento do mandato de José Sarney (1985/1990).

A publicação pelos jornais de todo o país das matérias sobre o Programa Nuclear Paralelo, em 1986, deixou o presidente José Sarney exasperado. Quem inicialmente divulgou com exclusividade a existência das covas revestidas de cimento, para a realização de testes nucleares, foi a Folha. Assim, o programa nuclear brasileiro foi revelado.

As cisternas chegavam a ter 320 metros de profundidade, mas só foram assumidas publicamente, pelo presidente, como estruturas para receber bombardeios, após o fim de seu mandato, no ano de 1990, durante uma entrevista para a TV Globo. O programa começou a ser executado durante o período dos militares no poder.

O local escolhido para os buracos concretados para a realização dos testes foi a Serra do Cachimbo, após estudos geológicos e hidrológicos feitos na região desde 1981. A pesquisa apontou que o local seria seguro para a execução da obra. A solicitação de averiguação partiu do Centro Técnico Aeroespacial, administrado pelo extinto Ministério da Aeronáutica e o motivo seria a implementação do Acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975 pelo presidente Ernesto Geisel.

O tratado buscava a transferência de tecnologias: a construção de oito reatores nucleares no Brasil permitia que a energia nuclear fosse compartilhada por ambos. Porém, com interferência dos Estados Unidos, não foi permitida a transferência de tecnologia alemã para o enriquecimento de urânio. A intromissão levou ao desenvolvimento de um sistema próprio nacional.

Dos oito reatores projetados, apenas dois foram concluídos até hoje e um permanece com a construção interrompida, ambos em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além dos testes nucleares, o lugar seria dedicado também para o armazenamento de lixo atômico proveniente da produção de urânio dos reatores instalados em Angra.

Quando as adaptações começaram a ser instaladas, a previsão de conclusão era dada para 1991. Porém, depois do vazamento inesperado para a imprensa, o Governo viu os seus planos malogrados. Não era mais possível prosseguir em busca dos resultados de pesquisas sobre bombas nacionais. No ano seguinte o senado solicitou a criação de uma comissão a respeito de informações sobre as instalações na Serra do Cachimbo, mas o assunto foi barrado.

Apesar do potencial desenvolvimento nuclear do Brasil, o programa foi interrompido a mando do presidente Fernando Collor de Mello. Numa cena espetaculosa, ele se deslocou até a Serra para inspecionar o fechamento da base, vedando todos os buracos de explosão subterrânea. Simbolicamente, o presidente foi convidado pelos membros da FAB a jogar uma pá de cal sobre o buraco, representando o fim do projeto.

Feito o retrocesso histórico – necessário para se entender o porquê da paranoia dos EUA, voltemos ao ponto levantado sobre o up grade que o Brasil, o maior país da América do Sul teria, do ponto de vista do poderio militar, caso conseguisse concluir o seu submarino nuclear.

Justificativa para a paranoia dos EUA

Na visão estadunidense, isso poderia causar um desequilíbrio de poder na América do Sul, gerando tensões regionais. “O artigo também menciona que a mudança de presidência no Brasil não afetou o projeto, sugerindo que ele se tornou uma questão de estado, transcendendo governos”, é o que descreve o jornalista da SM.

Ele aponta: “A possível intenção do Brasil de desenvolver armas nucleares sob a fachada de um submarino nuclear civil levanta diversas preocupações para a comunidade internacional. A falta de transparência em torno do programa brasileiro é vista como um risco para a segurança nuclear e a proliferação de armas nucleares. Se o Brasil estiver realmente buscando capacidades nucleares militares, isso poderia desestabilizar a região e aumentar as tensões internacionais”, reproduz, do artigo da Georgetown.

Interessante é o fecho dado ao artigo, publicado na revista. O tom é de alerta, quase conselho, e parte de uma fonte da Marinha: “O desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro é um assunto complexo, envolvendo questões de segurança nacional, geopolítica e proliferação nuclear. A comunidade internacional, especialmente a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), deve estar atenta para garantir que o Brasil cumpra suas obrigações no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear. A transparência e a natureza pacífica do programa brasileiro são cruciais para evitar desconfianças e possíveis conflitos”.

O jornalista conclui repassando o tom de desconfiança, ao reproduzir a fala de alguém de dentro da Marinha, como se houvesse a intenção, por parte do Brasil, de quebrar o tratado. “As suspeitas levantadas pelo artigo da Universidade de Georgetown sobre o projeto de submarino nuclear do Brasil trouxeram à tona a preocupação com o possível desenvolvimento de armas nucleares. Embora o Brasil afirme que o projeto tem fins pacíficos, a comunidade internacional deve continuar vigilante para garantir a segurança e a estabilidade na região. O futuro do submarino Álvaro Alberto e suas implicações para a proliferação de armas nucleares serão acompanhados de perto nos próximos anos”, garante a fonte.

Anexo aqui, o link fornecido pela Revista Sociedade Militar, como sendo o do artigo original: A justificativa estratégica para o submarino nuclear do Brasil não se sustenta – Georgetown Security Studies Review




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