por Mauro Santayana, em seu blog
Estamos no universo orwelliano de
“1984”. É quase impossível a alguém andar sem ser monitorado por alguma câmera;
vigiado, passo a passo, onde quer esteja, pelos satélites; localizado quando
usa o aparelho telefônico celular, e assassinado por controle remoto. Todo esse
sistema, que deixa anacrônica a ficção, é dominado, em escala mundial, pelo
grande irmão, o governo norte-americano. O sistema financeiro, industrial e
militar, que manipula o poder, conta com as maiores empresas
internacionais de comunicação eletrônica, por ele controladas.
Contra o voto de pequena minoria, o
Congresso dos Estados Unidos acaba de renovar lei do Governo Bush,
autorizando a escuta telefônica e o monitoramento de comunicação eletrônica sem
autorização judicial, incluindo emails, de cidadãos estrangeiros de todo o
mundo, por parte dos serviços secretos norte-americanos – sobrepondo-se à
soberania de todas as outras nações.
Embora a desculpa seja a luta contra o
terrorismo, não há como saber onde acaba a preocupação com a “segurança
nacional” dos Estados Unidos e começa a espionagem comercial e tecnológica, ou
a coleta de informações que sirvam para pressionar ou chantagear
“inimigos” dos EUA, como os ativistas da democracia ou da transparência, como
Julian Assange.
Todos nós, a começar pelos nossos
líderes políticos, podemos ser espionados pelos vários serviços
norte-americanos, como a CIA e o NSA. Dentro da paranóia ianque, qualquer
estrangeiro, que não for seu vassalo e assalariado, é inimigo potencial de seu
país.
O monitoramento de “inimigos” dos EUA
pelos seus serviços de informação não é novidade. Ao longo do século XX,
jornalistas, políticos, lideranças sindicais e sociais de todos os continentes
foram monitoradas, perseguidas, e, em muitos casos, diretamente seqüestradas
e assassinadas por agentes da CIA, ou matadores por ela contratados –
conforme vários livros de ex-agentes, que deixaram suas atividades.
Essa legislação de exceção, aprovada
logo após 11 de setembro, foi agora incorporada às leis norte-americanas ordinárias.
O que os Estados Unidos estão dizendo ao mundo é que, ao aprovar essa lei,
colocam sob a proteção de seu poderio militar qualquer assassino a soldo de
seus interesses que seja identificado e detido, em qualquer lugar do mundo. É a
velha prepotência, denunciada pelos seus pensadores mais eminentes, como o
Senador Fullbright – que foi contra a guerra do Vietnã, e se opunha a toda
ingerência de seu governo nos assuntos internos de qualquer outra nação -
em seu livro Arrogance of Power:
“O Poder se confunde com a virtude e
tende também a ver-se como onipotente. Uma vez imbuído da idéia de missão, uma
grande nação facilmente assume que ela possui todos os meios para usá-los como
um dever, no serviço de Deus”.
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