LÚCIO DE CASTRO NA ESPN:
A OPERAÇÃO CONDOR E O FUTEBOL
A OPERAÇÃO CONDOR E O FUTEBOL
Tão logo o poder se consolidava, os
regimes militares enxergavam a necessidade de controle do futebol e o potencial
de utilização.
O Conversa Afiada recomenda com entusiasmo (e indignação) o esplêndido documentário de Lúcio de Castro exibido na ESPN:
O Conversa Afiada recomenda com entusiasmo (e indignação) o esplêndido documentário de Lúcio de Castro exibido na ESPN:
EXCLUSIVO- TV AFIADA
Veja o Vídeo
http://www.conversaafiada.com.br/tv-afiada/2013/01/03/lucio-de-castro-na-espn-a-operacao-condor-e-o-futebol/
O futebol nos tempos do Condor que é parte do título de “Memórias do Chumbo …”, aqui na ESPN Brasil, de 18 a 21 próximos, tem razões muito além do óbvio recorte temporal que o nome sugere. A série vai mostrar que os anos do condor estiveram presentes no futebol obedecendo a um receituário e ideário comum aos países que fizeram parte da sinistra multinacional do terror.
As
mesmas práticas que foram adotadas pelos participantes em todos os setores das
sociedades onde pousou se fizeram presentes no mais popular dos esportes. Umas
das grandes convicções formadas ao fim de todo esse tempo em arquivos,
entrevistas e leituras é a de como o aparelhamento e controle do futebol foi
sistematizado e pensado ao longo das ditaduras militares do continente. Você
vai ver isso na série “Memórias do Chumbo – O Futebol nos Tempos do
Condor”.
Explicado
didaticamente como se deu esse controle no capítulo que encerra, o quarto e
último, sobre o Brasil. (Argentina, Chile e Uruguai antecedem). Se num primeiro
momento o futebol não necessariamente esteve no campo de visão dos golpes
militares (excetuando a Argentina, onde essa preocupação com o futebol se fez
presente desde o primeiro comunicado), tão logo o poder se consolidava, os
regimes enxergavam a necessidade de controle do futebol e o potencial de
utilização. Documentos até aqui desconhecidos e entrevistas são definitivos
para tal constatação.
O condor que está presente no título vem da infame operação que se inaugura oficialmente em novembro de 1975 e que vai pensar e executar conjuntamente a repressão no continente, dizimando milhares de vidas. Naquela que é considerada a mais articulada e ampla operação de terrorismo estatal da história, com coordenação, realização e abrangência multinacional. Veremos que a maior manifestação cultural do continente não poderia ficar de fora das garras dos órgãos de informação.
O condor que está presente no título vem da infame operação que se inaugura oficialmente em novembro de 1975 e que vai pensar e executar conjuntamente a repressão no continente, dizimando milhares de vidas. Naquela que é considerada a mais articulada e ampla operação de terrorismo estatal da história, com coordenação, realização e abrangência multinacional. Veremos que a maior manifestação cultural do continente não poderia ficar de fora das garras dos órgãos de informação.
Mas
a origem do Condor é bem anterior a data oficial de fundação. A Guerra Colonial
da Argélia, nos anos 50, é o grande embrião de todo o genocídio. Um verdadeiro
laboratório. Personagens dali e suas práticas, estiveram entre os mestres dos
genocidas do nosso continente.
Foi na antiga colônia Argélia que a França desenvolveu metodologias de combate às guerras de guerrilha, sem escrúpulos para torturas, extermínio ou o desaparecimento para implementar o terror. Uma das estrelas desse esquadrão da morte francês foi o coronel Charles Lacheroy. O outro, Paul Aussaresses, que viria a ser general, acabou sendo íntimo do Brasil e seus mandatários alguns anos depois. Vivendo aqui com todas as benesses do status diplomático solicitado pela França e concedido de bom grado pelo Brasil, como vemos aqui em documentação inédita.
Foi na antiga colônia Argélia que a França desenvolveu metodologias de combate às guerras de guerrilha, sem escrúpulos para torturas, extermínio ou o desaparecimento para implementar o terror. Uma das estrelas desse esquadrão da morte francês foi o coronel Charles Lacheroy. O outro, Paul Aussaresses, que viria a ser general, acabou sendo íntimo do Brasil e seus mandatários alguns anos depois. Vivendo aqui com todas as benesses do status diplomático solicitado pela França e concedido de bom grado pelo Brasil, como vemos aqui em documentação inédita.
Se
nos anos 60 o americano Dan Mitrione se movimentou com liberdade por aqui,
ensinando práticas de tortura e formando gerações de homens da lei à margem
dela, na década de 70 o papel de mestre do horror foi de Paul Aussaresses. O
veterano da Argélia veio, apesar de todo o currículo de genocida no final dos
anos 50, com status de “adido militar” da França no Brasil entre 1973 e 1975.
Sob
esta fachada, instruiu e iniciou na tortura milhares de militares do
continente, operando como instrutor do Centro de Instrução de Guerra na Selva
(CIGS), em Manaus. Por suas mãos homens como Sérgio Fleury se desenvolveram no
genocídio e na tortura. Amigo íntimo e pessoal de João Baptista Figueiredo. Por
ele torturou e assassinou uma mulher, suspeita de vir ao país espionar o amigo.
Foi
pelos seus ensinamentos que uma máxima vigente até então nas fileiras do exército
brasileiro foi pervertida, como ensina o gaúcho Jair Krischke, brasileiro
maior, homem que deveria ter sua história contada nos bancos escolares e assim
ainda será, por sua incansável luta pelos direitos humanos, responsável por
salvar a vida de milhares de brasileiros nos anos de chumbo.
“Nossos
militares não adotavam a tortura como ‘ferramenta de trabalho’, pois eram
formados na velha escola militar de guerra convencional. Foram os militares
franceses os criadores e difusores da prática da tortura em quartéis, quando
elaboraram a tristemente famosa ‘Doutrina da Contra-Insurgência’, que acabaram
por impor em toda nossa região”, conta Jair Krischke, presidente do Movimento
de Justiça e Direitos Humanos.
Antes
da Operação Condor, homens como Aussaresses, se espalham em diversos países sob
a fachada de adidos militares. Era a rede “Agremil” (de “agregados militares”,
os adidos militares), embrião da Condor. O francês passou também pela famosa
Escola das Américas, no Panamá, e pelo Fort Bragg, nos Estados Unidos, onde
ensinou seus métodos na reorganização das forças especiais americanas, que hoje
mostram suas lições em lugares como o Afeganistão e Iraque. Além do CIGS, na
selva, Aussaresses deu aula na Escola Nacional de Informações (ESNI), em
Brasília. Por suas mãos, em terras brasileiras, dezenas de militares de todo
continente aprenderam seus ensinamentos, depois difundidos em seus países.
Suas
lições e passagem sob a capa de adido militar no Brasil foram importante
estágio para a fundação da Condor. Cujo receituário e terror estaria em todos
os segmentos de nossa sociedade, como veremos. Os documentos anexos, obtidos
junto ao Ministério das Relações Exteriores por esta reportagem, relatam a
estadia de Aussauresses no Brasil e mostram a deferência com que foi tratado no
Brasil. Aqui estão os diversos pedidos especiais do governo francês, cujo
embaixador no Brasil, Michel Legendre, segundo entrevista do próprio
Aussaresses, sabia exatamente o que fazia. Todas as facilidades possíveis. Que
seguiram mesmo depois de sua saída. Até para sua filha, que seguiu por aqui
estudando jornalismo na Universidade de Brasília (UNB). É possível até que ao
lado de alguma vítima de seu pai.
Os
documentos revelam muito mais. Curiosamente, como mostram os anexos aqui, em 26
de setembro de 1975, a embaixada francesa comunica que Aussaresses, homem-chave
e mestre de tortura da Operação Condor, encerra sua missão no Brasil em
novembro. O encontro de fundação oficial da multinacional do terror, a Operação
Condor, é de 25 de novembro daquele ano. Poucos dias depois da saída do adido
militar da França no Brasil. Saiu estrategicamente? Missão cumprida?
Coincidência? Com a palavra, a França. Recentemente, com a chegada de François
Hollande ao poder, o país instituiu uma data para homenagear os argelinos
mortos pelo país. Mas ainda não formalizou o pedido de desculpas, necessário
para passar a história a limpo. Os arquivos mostram que existe mais gente para
quem pedir desculpas. Os arquivos franceses certamente possuem mais detalhes quanto
a passagem de Aussaresses por aqui. E devem elucidar o que os documentos anexos
agora nos mostram: a estratégica retirada do facínora, em missão oficial, com
sua missão genocida concluída.
País
único, presente nos corações e mentes de todo mundo que preza as luzes no lugar
do obscurantismo, precisa abrir todos os arquivos relativos ao tema e ainda
passar parte de sua história a limpo. E isso passa pelo pedido de desculpas
pela cumplicidade no genocídio recente em nosso continente.
PS-
Como dissemos aqui, muito do que foi garimpado nos arquivos durante a pesquisa
para “Memórias do Chumbo – O Futebol nos Tempos do Condor” acabou não entrando
na série, de 18 a 21, na ESPN Brasil. Por tempo, espaço ou por termos
privilegiado na série alguns aspectos mais diretamente ligados ao futebol.
Vamos abrindo arquivos por aqui nesses dias com o que não entrou.
Reprodução/Lúcio
de Castro
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