Marcelo
Carneiro da Cunha
Fato é que, noves fora tudo, a Copa está sendo uma beldade.
As redes sociais, que não nos deixam mentir sem estatísticas, já migraram
fortemente de uns 68% de comentários negativos há dez dias para algo como 70%
positivos nesse final de semana. Isso se chama mood, em bom português, e só
militante do PSTU sofrendo de azia não reconhece que o mood, ora vejam, mudou.
Nenhum aeroporto sucumbiu diante das hordas de torcedores,
que se tenha notícia, e os gramados vocês têm visto em HD. Uma beleza, não é
mesmo?
E, na contramão de tudo isso, caros leitores, a direita
mostrou a cara feia a bexigosa, e o povo viu.
Durante o jogo de abertura, em um momento em que o país se
apresentava diante do mundo, e fazendo bonito no conjunto da obra, uma gangue
formada por representantes do que existe de mais arcaico no andar de cima da
sociedade brasileira usou de palavras inaceitáveis contra a presidente Dilma.
A vaia já teria sido desagradável, e provavelmente injusta.
Mas ela pertence à tradição iconoclasta da cultura brasileira. Não gostamos de
ídolos, ou gostamos, desde a gente possa maltratá-los livremente.
Já o festival de insultos com que a direita brindou a
Presidente da República, foi uma demonstração de explícita de selvageria e
desrespeito não apenas a ela, mas ao país. Não se trata a Presidência da
República como se lixo fosse, a não ser que a gente a veja como tal. Essa
gente, vê assim.
A direita brasileira posa de boazinha. Ela é o sinhô que se
acha bom por distribuir sobras, desde que pagas pelo erário. Ela se imagina
como a nata de um líquido que não é leite, mesmo que branco, a prova de que
somos chiques, mesmo nos trópicos e apesar do povo mestiço que precisam
tolerar, ou não teriam quem fizesse o trabalho pesado, deus no salve.
Ela finge que tolera, mas intolera pelos poros. Ela detesta
ver um Lula sendo celebrado como estadista. Ela detesta estar nessa posição de
coadjuvante, mesmo ganhando os tubos. Se a direita não podia com Lula, achou
que podia com Dilma. E ali, em pleno Itaquerão ela se mostrou pra valer, se
divertiu, se lambuzou.
E, estimados leitores, essa direita pode ter virado o jogo
contra ela, em um belo caso de tiro no pé, coisa de quem não entende o que
acontece, mesmo que possa comprar muitas das coisas que não entende.
Até então a narrativa estava na mão deles, desde que a
perdemos em 2013. Os protestos contra tudo, nas mãos da imprensa e de um setor
que ainda consegue construir narrativa, viraram um protesto contra a Copa e
contra o PT.
A direita vive de tentar provar que é uma queridinha, uma
tia-avó daquelas com bigode e hábitos exóticos, mas incapaz de maldade. Aquilo
que se viu no estádio foi pura maldade. Foi fel escorrendo pelos beiços, foi
ódio. De classe.
Se alguém odeia nesse país, é a direita, e ela deixou isso
claro.
O povo pode ver ali a sua representante eleita sendo vítima
de ódio, de uma classe que ofende por se sentir ofendida com a presença de uma
mulher como a Dilma no posto que é deles, por direito divino.
Agora é a nossa vez. A narrativa voltou para o nosso lado, e
mantê-la aqui é uma questão de competência. Lula já percebeu, e os movimentos
vão começar logo, observem.
A direita é o que é, e sua política de massas cabe em uma
Kombi. A convenção do PSDB que decretou Aécio o novo ungido teve que trazer
militante pago, como sempre. Cravar uma cunha entre esse movimento sem povo e o
povo é algo que depende, apenas, da nossa competência.
A Copa mal começou e lá fora já começam a dizer que é a
melhor Copa de todos os tempos. Isso não quer dizer que, subitamente, CBF,
governos e o Fortunati passaram a dar certo. Mas simplesmente o reconhecimento
de que o Brasil já tinha infraestutura pra dar conta de um evento desses, por
não sermos a África do Sul, e que em termos de cultura futebolística somos
potência, e não colônia. Jogos aqui estão envolvidos em uma das grandes
molduras do mundo, em todos os sentidos, algo que até os centroavantes já
perceberam.
A direita mostrou as garras, e elas assustaram a quem até
agora estava assim, meio sem saber o que achar. A partir desse momento, é
impossível não ver, e cabe a nós simplesmente garantir que isso seja visto.
Cabe agora não dar a eles o espaço que cederam pela própria
burrice e selvageria. Deixar claro que aquilo não foi um deslize, mas uma
revelação. A direita é horrível, e ela deixou que sua feiura se mostrasse. Isso
deve ser mais do que o suficiente para colocar as coisas em seus respectivos
lugares, e lembrar a todos que defeitos são parte do negócio, mas existe o que
está acima do defeito, e que se chama de alma. Nós temos uma, e isso, caros e
estimados leitores, faz toda, mas toda a diferença.
Uma boa Copa a todos, e vamos em frente.
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