Me
pedem que analise as propostas de Aécio em si tal como formuladas no Roda Viva.
Ao
trabalho.
Mais
que tudo, Aécio me pareceu tomado por idéias atrasadas em algumas décadas.
Essencialmente, ele repete clichês do thatcherismo num momento em que nem os
conservadores ingleses se atrevem a fazer isso.
“Medidas
impopulares” é a expressão acabada do thatcherismo – a doutrina consagrada por
Margareth Thatcher nos anos 1980.
Significa
você favorecer o 1% em detrimento dos 99%. Armínio Fraga, o guru de Aécio na
economia, é um thatcherista fanático.
Não
surpreende que, recentemente, ele tenha dito que o salário mínimo cresceu
demais nos anos do PT no poder.
Sabe-se
hoje, com a distância de 30 anos no tempo, que a política econômica inspirada
em Thatcher – e seguida por FHC em seus dois mandatos – leva a uma brutal
concentração de renda.
O
livro sensação dos homens públicos e economistas de todo o mundo hoje, O
Capital no Século 21, do francês Thomas Piketty, trata exatamente disso.
Ora,
o principal problema do Brasil é exatamente a desigualdade de renda. E Aécio
vem com uma palataforma que não apenas ignora o problema como, se aplicada, o
aprodunda.
É
um caso de notável miopia e descolamento da realidade.
Em
nenhum momento no programa Aécio usou a expressão “desigualdade social”, como
se fôssemos uma Noruega ou uma Finlândia.
Na
falta de ideias concretas, ele recorre a platitudes. Falou mais de uma vez no
“aparelhamento” do Estado pelo PT.
Ora,
que partido em todo o mundo ocupa os cargos públicos com pessoas de outros
partidos?
Isso
não acontece nem na Escandinávia.
No
próprio PSDB, Serra deu cargos a Soninha e filhas no governo paulista. Em uma
semana, a pedido do então impoluto senador Demóstenes Torres, Aécio, então governador
de Minas, arrumou um emprego na máquina mineira para uma sobrinha de Cachoeira.
FHC
deu um cargo vital em seu governo – diretor da Agência Nacional do Petróleo – a
seu genro David Zylbersztajn. Bastou Zylbersztajn se separar da filha de FHC
para sua posição na ANP ficar insustentável.
Outra
platitude é “ética” – o último refúgio dos conservadores brasileiros desde a
UDN de Carlos Lacerda.
Aécio,
no Roda Viva, mais uma vez trouxe a “ética” ao debate. Ora, se não fosse um
programa chapa branca, alguém lhe perguntaria: “Senador, como seu partido
concilia ética com a permanência por tantos anos no Tribunal de Contas de SP de
alguém como Robson Marinho mesmo depois de ser fartamente comprovado que ele se
locupletou com propinas?”
Talvez
Aécio pudesse ser convidado por algum jornalista ali no programa também a dizer
algumas palavras sobre a conhecidíssima, mas jamais coberta decentemente pela
imprensa, compra de votos no Congresso para que FHC pudesse se reeleger.
Mas
não foi isso que se viu.
Sem
que lhe fosse perguntado, Aécio se declarou contra a regulação da mídia, que
chamou pejorativamente de “controle social”.
Ali
mais uma vez ele mostrou que confia que o apoio dos barões da mídia – a voz do
1% — vai levá-lo longe na disputa pela presidência.
Ele
parece esquecido do que aconteceu com seu antecessor na disputa presidencial,
Serra. A despeito de todo o apoio -–que culminou no antológico Atentado da
Bolinha de Papel do Jornal Nacional – a expedição terminou em lágrimas e em
ruínas, à míngua de votos.
Serra
entrou nas campanhas certo de que subiria a rampa do Planalto pelas mãos dos amigos
donos das empresas jornalísticas e terminou batido até na tentativa de ser
prefeito de São Paulo.
Aécio
pode seguir um percurso parecido em sua Minas, pelo jeito como vem se
comportando.
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