Precisa ficar claro aos conspiradores que não
bastará uma vitória no Congresso; vão ser obrigados a encarcerar muita gente.
Wanderley Guilherme dos Santos | Via Segunda
Opinião // www.cartamaior.com.br
Quando as instituições falham, o caráter prevalece.
Há quem nunca fraudou a lei por falta de oportunidade e há os que resistiram
apesar dos convites das circunstâncias. Em crise, o caráter de cada um é
desnudado. De vários políticos já conhecemos o material de que são feitos, uns
de primeira, outros de segunda qualidade. Não há coletividade humana que escape
ao vírus da safadeza. A esperança é que não se propague.
Para mim, o pedido de impedimento apresentado por
conspiradores paulistas é absurdo. Prova-o a discussão dos beneficiários e
associados: qual a melhor data para dar andamento? as ruas acompanharão os
conjurados? Como reagirão os deputados do PMDB a uma defecção do vice-presidente?
Qual o melhor acordo entre os pré-candidatos tucanos e os conspiradores do
PMDB? Não há apresentação de evidências de que a presidente Dilma Rousseff
tenha cometido crime de responsabilidade, única base constitucional legítima
para impedi-la. Com todas as letras, dizem não ser necessário.
Se não é necessária a comprovação de crime, convém
à oposição irresponsável preparar-se para o que acontecer fora do Congresso.
Antes de ter início o processo, por exemplo, ou o Vice-presidente Michel Temer
declara peremptoriamente que não vê razões substantivas para o impedimento ou
não ficará como Vice-Presidente para assistir o final e se beneficiar dele. O
destino do País não depende somente de tratativas em palacetes paulistanos,
entre as quais figuraram com certeza os termos da missiva bombástica selando o
acordo paulista contra a democracia. A carta de rompimento que o Vice enviou a
Dilma Rousseff, repudiando antecipadamente qualquer resposta amistosa da
destinatária, é uma justificativa para o oportunismo de manter-se à margem,
pronto para “reunificar o País”. Duvido. O que há de reunificar o País é o
respeito de boa fé a suas leis fundamentais. E estas são ofendidas quando o
signatário prefere se declarar, preferencialmente, Presidente do PMDB. Ou o Vice renuncia ao mandato ou será
despejado pelas ruas, que fariam bem acampando nos portões de sua residência.
Pacificamente, mas com justificada razão para impedi-lo de governar, a saber:
por quebra do compromisso constitucional de cumprir o mandato de acordo com as
leis. E as leis condenam conspiradores.
Ninguém deve obediência a governos ilegítimos a não
ser por coação explícita. Precisa ficar claro aos conspiradores que não bastará
uma vitória no Congresso; vão ser obrigados a encarcerar muita gente. A
promessa é de um espetáculo de confissão de caráter: quem se candidata a
carcereiro e quem se dispõe a ser encarcerado.
Estou para ver quem se apresenta como condutor da democracia à cadeia.
Créditos da foto: Gustavo Lima / Câmara dos
Deputados
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