LEONARDO YAROCHEWSKY // http://www.brasil247.com/
Sétimo dos oito filhos de um
casal de lavradores analfabetos que vivenciaram a fome e a miséria na zona mais
pobre de Pernambuco, Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo,
Luiz Inácio da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 em Caetés, que à época era
um distrito do município de Garanhuns, interior de Pernambuco. Como ele mesmo
disse:
Antes de chegar à presidência da
República Luiz Inácio Lula da Silva amargou três derrotas. A primeira derrota
do homem de origem humilde, nordestino, torneiro mecânico, metalúrgico do ABC
paulista, sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), veio nas
eleições diretas após a redemocratização do país. Em 1989, Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) chega ao segundo turno das eleições, mas perde para o candidato
Fernando Collor de Mello (PRN) – o caçador de marajás - que recebeu amplo apoio
da mídia e do empresariado que se sentiam ameaçados pelo
"radicalismo" do ex-sindicalista de esquerda.
Naquela época, até a barba, ainda
negra, cultivada por Lula causava arrepios na classe dominante que avistava com
medo a possibilidade de ser governada por um homem que fugia completamente o
perfil idealizado e cultivado pela "fina flor" e pela classe média.
Um homem que embora fosse a cara do povo brasileiro e, talvez, por isso fosse
odiado pela elite e pela oligarquia. De igual modo, o neófito Partido dos
Trabalhadores(PT), fundado em 1980, apesar da presença de vários intelectuais,
ainda não conseguia por si só arrebatar um número de pessoas suficientes para
eleger o presidente da República.
Depois de ser derrotado por
Fernando Collor, que acabou sofrendo o impeachment, Luiz Inácio Lula da Silva
amargou mais duas derrotas para Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1994 e
1998.
Foram necessárias três derrotas e
mudança de estilo, inclusive no vestir, para que a elite engolisse o "Sapo
Barbudo", no dizer de Leonel Brizola. A elite, incluindo boa parte da
classe média, política, econômica e social do país.
Finalmente, em 27 de outubro de
2002, derrotando o candidato da situação José Serra (PSDB), Luiz Inácio Lula da
Silva é eleito o 35º presidente da República do Brasil.
Em 29 de outubro de 2006 Luiz
Inácio Lula da Silva é reeleito presidente da República derrotando Geraldo
Alckimin (PSDB). A rivalidade do Partido dos Trabalhadores (PT) com o PSDB
aumentava a cada nova eleição.
Após deixar a presidência da
República, Luiz Inácio Lula da Silva com o seu inegável prestigio político,
alto índice de aprovação e enorme cacife eleitoral fez em 2010 sua sucessora
Dilma Rousseff. A presidenta Dilma, na eleição mais acirrada e disputada do
país, se reelege em 2014, derrotando Aécio Neves, mais uma vez um tucano.
Inconformado com a derrota nas urnas o PSDB, DEM e outros partidos que se opõem
ao projeto político e social do governo, continuam tentando no "tapetão"
dos tribunais do país destituir Dilma Rousseff da presidência da República.
Paralelamente há uma sórdida tentativa por parte dos setores mais conservadores
e autoritários da sociedade brasileira em destruir Luiz Inácio Lula da Silva e
tudo que ele representou e representa para o povo brasileiro e para o país.
Embora tenha deixado a
presidência da República há cerca de seis anos, Luiz Inácio Lula da Silva
continua sofrendo ataques preconceituosos e discriminatórios. Agora as ofensas
estão acompanhadas de uma tentativa vil de criminalizar o ex-presidente.
Por que Lula? Porque ele é filho
da miséria; porque ele é nordestino; porque ele não tem curso superior; porque
ele foi sindicalista; porque foi torneiro mecânico; porque é fundador do PT;
porque bebe cachaça; porque fez um governo preferencialmente para as classes
mais baixas e vulneráveis; porque retirou da invisibilidade milhões de
brasileiros etc.
Fosse Luiz Inácio Lula da Silva
um homem de posses, sulista, "doutor", poliglota, bebesse vinho e tivesse
governado para os poucos que detêm o poder e o capital em detrimento dos que
lutam sofregamente para ter o mínimo necessário para uma vida com dignidade,
certamente a história seria outra. Grande parte daqueles que rejeitam Lula o
fazem pelo que ele representa e pelo que ele simboliza. A elite nunca suportou
ser governada por um homem do povo, com a cara e o jeito do povo brasileiro. Do
mesmo modo que a elite não aceita ver pobres, negros e a classe operária saindo
da invisibilidade para frequentar lugares, antes exclusivos das classes
dominantes.
No que se refere aos excluídos e
"invisíveis" Agostinho Ramalho observou que:
"Nos últimos anos, muitos
deles têm sido vistos fora do 'seu' lugar: nos aeroportos, nos shopping
centers, nos restaurantes. De repente, tornaram-se 'visíveis'. E isso choca e
ameaça a classe que se acostumou historicamente a olhá-los 'de cima' e que
agora se sente ameaçada de ser 'desalojada' do que sempre se acostumou a
enxergar como o 'seu' lugar. O sentimento, agora, já não é de indiferença ('sou
indiferente em relação a quem nem vejo'), mas de ódio ('odeio a quem vejo como
ameaça para mim')".
Este mesmo "ódio"
contra os excluídos (negros e pobres) é, também, direcionado a Luiz Inácio Lula
da Silva quando ele passa de coadjuvante a protagonista, passando a ocupar a
presidência da República. O "ódio" a Lula e ao povo se reflete nos
ataques aos programas sociais do governo como Bolsa Família, ProUni, Luz para
todos etc.
Muitos dos que se dizem
democratas esquecem o verdadeiro sentido da democracia do ponto de vista
material e não apenas formal. Democracia em sentido material compreende seres
humanos com autoestima, portadores de dignidade e detentores de direitos e
garantias. No dizer do constitucionalista José Afonso da Silva
"A democracia que o Estado
Democrático de Direito realiza há de ser um processo de convivência social numa
sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I da CR), em que o poder emana do
povo, e deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por representantes
eleitos (art. 1º, parágrafo único); participativa, porque envolve a
participação crescente do povo no processo decisório e na formação dos atos de
governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de ideias, culturas e etnias
e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e
possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes
da sociedade; há de ser um processo de libertação da pessoa humana da forma de
opressão que não depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos
individuais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições
econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício".
Foi necessário que um
trabalhador, filho da pobreza nordestina, identificado com o povo brasileiro
assumisse a presidência para dar o verdadeiro e substancial sentido à
democracia. Não há democracia com o povo de barriga vazia. Não há democracia na
miséria. Democracia pressupõe vida digna. O Estado que se pretende democrático
e de direito não pode ter cidadãos de primeira e segunda categoria. Não há
democracia com o encarceramento em massa dos jovens, negros e pobres. Não há
democracia quando o Estado Penal toma o lugar do Estado Social.
Infelizmente, por tentar
construir um país mais igualitário, justo e verdadeiramente democrático Luiz
Inácio Lula da Silva vem pagando um alto preço pela sua história, pela sua luta
e pela sua origem. O preconceito e a discriminação nunca, absolutamente nunca,
deixaram de acompanhar o ex-presidente.
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