quarta-feira, 21 de março de 2018

O assédio angelical de uma emissora de televisão, por Gustavo Conde


Por Gustavo Conde

O assédio angelical de uma emissora de televisão

A Globo resolveu turbinar o Psol. E, antes que os psolistas se ofendam - ou se locupletem -, é recomendável atentar para o gesto - porque é um gesto ambíguo e perigoso. A emissora mais poderosa e manipuladora da história do país está acenando para um partido de esquerda.

Essa percepção é recuperável de alguns trechos do Jornal Nacional de ontem, 20/03/18. O viés da reportagem transversal sobre Marielle é explícito: destaque para a representação que o Psol protocolou contra uma desembargadora. A Globo não costuma fazer isso com partidos de esquerda: conceder cifras de positividade.

O espetáculo todo é muito degradante. A Globo se apropria de uma narrativa cujo conteúdo lhe é hostil: antirracismo, antifascismo, antiviolência policial, pró causas populares, pró causa LGBTT, antijudicialismo etc. A rigor, poder-se-ia dizer que Marielle era antiglobo.

A Globo parece apropriar-se com muita voracidade desta narrativa. Ontem, chegou a assustar. Deram 'aéreas' da Cinelândia, explicaram tim tim por tim tim a ocupação da praça, "local de trabalho de Marielle" e emocionalizaram muito - com a devida distância higiênica que tanto agrada a classe média.

A Globo busca desesperadamente se reconectar com o povo, com a dimensão popular do país. Viu-se encurralada pela Paraíso de Tuiuti e o sinal de alerta acendeu.

Nós estamos assistindo a batalha épica de Lula versus Globo. Isso, agora, ficou claro demais. Moro, Temer, PSDB, são todos coadjuvantes.

E, enquanto a Globo assediava o Psol em rede nacional, Lula enfrenta fascistas no sul do país. Eram meia-dúzia, mas o nanismo do ataque serviu para que as mídias oficiais subissem em suas homes a chamada "Lula enfrenta protesto no sul". Torpeza recheada do cinismo habitual.

As imagens de lula em caravana continuam incomodando a Globo, mesmo dando seu ar da graça apenas na internet. Lula parece uma estrela internacional da música pop. As pessoas gritam para tocá-lo, para reverenciá-lo, para amá-lo.

Diante desta fatal realidade, a emissora tenta seduzir e, ao mesmo tempo, dividir. Como um anjo platinado, assedia o golpeado espectador, oferecendo uma espécie de luz redentora. Viu no Psol e em Marielle uma chance única e poderosa.

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