segunda-feira, 9 de abril de 2018

CARTA PARA MEU COMPANHEIRO LULA: AGUENTA FIRME AÍ, MANO VELHO



São Paulo, 9 de abril de 2018.

Meu bom e velho companheiro Lula,

como não sei se as cartas enviadas para a Polícia Federal aí de Curitiba chegam ao destinatário, escrevo aqui no Balaio mesmo, que é a minha ligação com o mundo.

Também não sei se você tem acesso à internet, mas algum parente ou advogado poderia te repassar esta carta.

Primeiramente, meus parabéns pelo título do teu Corinthians. Foi muito merecido, a vitória do tostão do Carille contra o milhão da porcada.

Fora isso, sem boas notícias por aqui.

Continua o troca-troca de ministros no governo e o Supremo deve se reunir de novo na quarta-feira para analisar a segunda instância, mas acho que desse mato não sai mais coelho.

Não duvido de mais nada e estou começando a não acreditar em mais nada vindo do Judiciário. É tudo jogo de cartas marcadas.

Aquela imagem do final da missa da Marisa no sábado não me sai da cabeça, e acho que nem nunca vai sair.

Você deve ter visto a foto de um menino de 18 anos, enteado do Chico, que rodou o mundo, aquele mar de gente te carregando sem você conseguir colocar os pés no chão.

Me fez lembrar os melhores momentos das nossas campanhas, das muitas caravanas, das assembleias na Vila Euclides no início desta longa travessia.

O que mais me impressionou naquela interminável sexta-feira em que você deveria se entregar em Curitiba foi a tua serenidade diante do fato consumado, ao tentar animar as pessoas que estavam chorando no sindicato e ainda encontrando tempo para brincar com os amigos, sem perder o bom humor, mesmo nos momentos de maior tensão.

Teve uma hora, lembra?, que o pessoal quis tirar uma onda do Eduardo Suplicy com aquela história de querer ir junto para a cadeia, e você cortou no ato:

“Vocês ficam falando, mas este é o único macho que tem aqui dentro. Quem mais quer ir comigo pra lá? Não liga, não, Eduardo, nós vamos ter muito tempo lá pra você me explicar esta história da Renda Mínima…”

Pena que você não pode acompanhar o que acontecia do lado de fora do sindicato, o dia inteiro com gente se revezando no caminhão de som para te prestar solidariedade, e mais gente chegando a toda hora.

Quando acabou a água no sindicato, o caminhão-tanque não conseguia passar porque as ruas estavam tomadas por militantes que vieram de várias partes do país. Reencontrei companheiros que não via há muito tempo e eles sempre lembravam de alguma passagem tua pelas cidades deles.

Para mim, o momento mais emocionante foi o ato inter-religioso no meio da tarde, bem na hora em que você já deveria estar em Curitiba.

Falaram os representantes de sete denominações religiosas, ao mesmo tempo em que três mil peões da Volks estavam chegando em passeata pela Via Anchieta. Anotei algumas falas:

“Nós, judeus, sofremos na pele e na história o que é nazismo. Aonde há arbítrio e injustiça nós estamos contra. E o Lula hoje é vitima da opressão e da injustiça”.

Logo em seguida falou um muçulmano representando os palestinos e usando quase as mesmas palavras:

“Nós estamos aqui hoje como estamos na Faixa de Gaza, lutando contra a opressão e a injustiça. E estamos aqui lutando pela liberdade de Lula”.

Depois veio um grupo de umbanda e candomblé, cantando e dançando, parecia uma festa ecumênica.

Foi muito tocante também o discurso em tua defesa feito pela nossa Luiza Erundina, firme e forte em cima do caminhão, de onde não arredou pé.

Naquela sala do sindicato onde se reuniram teus amigos mais antigos, o Djalma Bom distribuía cópia da carta que entregou com a assinatura de nove diretores do tempo em que você presidia o sindicato. Vi que vocês dois ficaram bem emocionados quando se abraçaram, lembrando outros tempos em que a polícia cercava o sindicato. Diz um trecho da carta:

“No ano de 1969, quando você começou sua militância como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, tudo era proibido. Era proibido participar, discordar, contestar. Vivíamos num dos momentos mais cruéis da nossa história, da ditadura militar implantada em 1964, com forte repressão política contra o movimento sindical”.

E termina assim: “Não te garantem o direito constitucional da presunção da inocência. O que querem mesmo é te prender para que você não seja novamente presidente da República pela terceira vez como indicam as pesquisas eleitorais. Lula, nós acreditamos em sua inocência e você será sempre a nossa referência na luta contra qualquer tipo de injustiça”.

De tudo que li nos últimos dias sobre você, guardei uma frase do Jeferson Miola, colunista do portal 247, que resume o que também penso:

“Com sua dignidade, Lula derrotou os indignos”.

Vida que segue.

Forte abraço do Ricardo Kotscho

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