domingo, 10 de maio de 2020

Durante e depois do golpe


Nonato Menezes

O golpe contra Dilma Rousseff foi uma trama de densidade licenciosa em formato espetáculo bizarro. Com traços de comédia grosseira, de paródia gênero pastelão e pornografia política, ficou consagrada como uma obra épica da nossa vida política. Um momento riquíssimo para historiadores e desbravadores da “Comédia Humana”. 

Tudo que vimos, ouvimos e o que se desenrolou nas alcovas deixaram rastros explícitos da trama urdida contra o governo Dilma. Ficaram visíveis os rastros de sucessivas passadas de criminosos de alto nível, de inocentes úteis, aproveitadores ruidosos e cafajestes imaculados.
Foi uma trama que buliu com todos nós; com sentimentos, fé e com a razão. Foi hilária, patética, criminosa e burra. 

Burra porque foi uma trama às cegas, forjada ao arrepio da História, desdenhosa de suas consequências mais previsíveis. Urdida por pessoas simplórias como Michel Temer, um idiota com pressa de ser presidente, incapaz de observar o balanço do bambolê político. Foi o apressado que não comeu cru; está comendo embolorado. 

Dali, o alarido dos criminosos foi ouvido alhures, seus dolos expostos a cores soaram com a certeza da impunidade e a garantia de apenas exemplos sacrificados para esconderem a farsa, porque não há farsa que não se tente encobrir com exemplos. 

Seus atores primitivos, cegos de História e civilidade, não perceberam o abismo à frente. O abismo que engoliu todos nós. 

Foi desprezado, também, o fato de criminosos, patéticos e hilários só se cortejarem no bônus. Ao descer o pano, a maioria se aquieta ou sucumbe ao anonimato, sem sequer assumir responsabilidade pelos danos. 

O cálculo, se houve, resultou incerto até para os arquitetos do golpe. Se benefício teve, até agora percebido, foi ao Império. Com seu rol de golpes, assassinatos e destruição de sociedades inteiras, os EUA tem sido sempre os beneficiados, pois não basta o lucro econômico imediato, é necessária submissão aos seus caprichos. 

Se houve benefício à nossa ruinosa elite, ainda há de ser averiguado até que ponto ela se sente grata pela trama empurrada por sua ganância e estupidez. 

Poucos anos se passaram. O culto bestial ao Fascismo e ao ódio nos espreita, sacudido por um sujeito despreparado, infiel à decência, seco de afeto e de qualquer respeito ao outro. Estaríamos a viver o "gran finale" daquele triste espetáculo ou o pior ainda nos aguarda? 

O caos já nos engoliu e não há quem não sinta o frescor do medo. Medo de amanhã, por exemplo, o pior vir a ocorrer. 

Os indicadores econômicos importantes apontam para baixo, sem quaisquer expectativas de retorno em médio prazo. Investimento Público e ou privado não se têm notícias. Sem os quais a produção míngua, o desemprego avança e a capacidade de consumir se desmancha. 

A veracidade dos fatos e autenticidades dos dados nos fazem observar a sociedade em desencanto, com a esperança arruinada, os desejos difusos e as crenças alimentando os espíritos. 

É tudo que não precisaríamos passar, não fosse o golpe e muitas de suas consequências previsíveis.


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