segunda-feira, 6 de julho de 2020

Dr. Rosinha, sobre anjos e Anjo: O dos Bolsonaro não tem asas, mas se falar, o céu desaba

Dr. Rosinha, sobre anjos e Anjo: O dos Bolsonaro não tem asas, mas se falar, o céu desaba
                                                                                                                                                Reprodução
Anjo

por Dr. Rosinha*

https://www.viomundo.com.br/
Cada vez que ouço ou penso na palavra anjo vem à mente uma ilustração que era frequente – hoje menos — na parede de casas modestas das cidades, principalmente nas da zona rural.

Muitas vezes a ilustração fazia parte de uma “folhinha”, assim chamada por ser calendário.

Se calendário, ficava na parede da sala ou da cozinha.

Se não era calendário, ficava geralmente pregada na cabeceira da cama ou berço de uma criança.

A imagem era a de um anjo da guarda atento a uma ou mais crianças em perigo; por exemplo, prestes a cair num rio ou poço, ou ser atacada por um animal.

Anjo significa mensageiro, especialmente emissário de Deus.

No caso a ilustração, indica que ele (o anjo da guarda) não leva uma mensagem – a menos que seja espiritual –, mas que está preparado para um ato em defesa da criança.

Sempre, independente do tema que abordo, recorro ao dicionário.

Em geral, ao Houaiss. E quando tem algum fundo religioso, ao Diccionário de la Bíblia, Serafín de Asuejo, Hebert Haag e A. Van den Born.

No Gênesis (28, 12), o sonho de Jacob em Betel diz que ele (Jacob) teve um sonho no qual viu uma escada apoiada na terra.

O seu topo alcançava os céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela.

Informa também que os anjos aparecem em forma humana sem asas. Os querubins e serafins aparecem com asas.

“Se descreve os anjos como seres celestiais que rodeiam Deus, formando sua corte e seu exército e ajudam-no na sua ação sobre a terra e são enviados por Ele como seus emissários junto aos homens.”

Houaiss esclarece que quando a criança é tranquila e quieta é chamada de anjinho.

Diz também que a palavra é usada como ironia quando a criança é irrequieta, travessa ou quando é um adulto, uma “pessoa que se faz de ingênua”.

Assistindo à vida politica e criminal de muitos no Brasil atual dá-me a impressão –usando a ironia referida por Houaiss –que o Brasil vem sendo governado por anjinhos.

Imagino que Bolsonaro pai e Bolsonaros filhos eram anjinhos quando crianças. E, agora adultos, além de anjinhos, são protegidos pelo anjo da guarda Frederick Wassef, o advogado Anjo.

Até a prisão de Queiroz, é bem provável que na cabeceira da cama da família Bolsonaro tivesse uma foto, uma ilustração ou um cartãozinho do Anjo com o número do telefone em caso de emergência policial/judicial.

Frederick Wassef, o Anjo, tinha livre trânsito nos gabinetes e residências da família Bolsonaro.

Esta liberdade de chegar — sem marcar hora– e entrar — sem bater na porta– persistiu até 18 de junho passado.

Na ocasião, a polícia bateu à porta da casa de Wassef, em Atibaia (SP), e encontrou Lúcifer, que também é anjo do “demônio” Fabrício Queiroz.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Queiroz, o agora demônio, movimentou cerca de R$ 3 milhões, entre 2007 e 2018.

Sob o comando do então deputado Flávio Bolsonaro, ele recolhia parte dos salários de outros assessores ―fantasmas― e repassava o dinheiro para o chefe.

Frederick Wassef, Fred para os íntimos e Anjo para os Bolsonaros que necessitam de proteção, declarou à CNN:


“Todos estão convictos hoje de que o Fred virou o alvo. Se bater no Fred atinge o presidente, eu e o presidente viramos uma pessoa só”.

Mas não explicou por que Queiroz estava na casa dele. Só disse ser uma armação para incriminar o presidente.

A repórter Andrea Sadi, da TV Globo, perguntou ao Anjo, por telefone: “O Queiroz pulou o muro? Apareceu voando para casa do senhor?”

“Para a casa do senhor”.

Lembra as orações de Bolsonaro e seus apoiadores.

Lembra também que Queiroz pode ser um querubim ou serafim da família Bolsonaro e que entrou voando na casa do Anjo.

O que se pode dizer é que alguém puxou a escada que estava apoiada na terra e o topo no céu. Justamente por onde o Anjo subia e descia para falar com os seus senhores Jair e Flávio Bolsonaro.

Fechou-se a porta dos palácios e gabinetes para o emissário do crime organizado das rachadinhas.

O Anjo não tem asas, mas tem boca, o que afasta a possibilidade dele voar. Facilita também a polícia pegá-lo.

Este é o medo –não do Anjo – do clã Bolsonaro. Se o Anjo falar, o céu desaba.

Outra coisa é obter justiça: é necessário dar muitas asas a imaginação.

Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

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