Mas Guedes não veio para resolver problemas. Veio para implementar sua guerra ideológica, tão obsessiva quanto a de seu chefe no plano moral.
Por Luis Nassif
É curioso a transformação recente do Ministro da Economia Paulo Guedes.
Nas últimas semanas, passou a praticar um discurso pragmático, aderindo ao novo pensamento que começa a se tornar hegemônico globalmente.
Trata-se de princípio moldado na análise prática de realidade. O problema atual é emprego, renda e nível de atividade econômica. Sem a recuperação do crescimento, não haverá receita fiscal, arrecadação de impostos, nem recursos para garantir a rede social necessária para evitar uma explosão política.
Então, Guedes resolveu se desprender um pouco da ideologia cega que o move. Passou a defender a ênfase no emprego, a reconhecer a relevância da social democracia no reconhecimento de direitos e por aí afora.
Chegou até a defender a tributação sobre dividendos e ganhos de capital, contrapondo-o à injustiça da tributação indireta.
Ontem, em entrevista à CNN, fez uma crítica racional ao Plano Real e às décadas perdidas, com juros altos e câmbio baixo – política que começou com Fernando Henrique Cardoso e foi mantida nos anos do PT -, que acabaram matando o dinamismo da indústria brasileira.
Agora, diz ele, estamos apresentando juros baixos e câmbio competitivo. Obviamente não menciona o trajeto para esse modelo: um brutal aumento do desemprego.
Nada disso muda o essencial.
De um lado, continua sendo um desastre gerencial, não conseguindo sequer resolver, até agora, a oferta de crédito para pequenas e micro empresas e modelos eficazes de preservação do emprego e renda.
De outro, muda o discurso mas continua cegamente apegado às políticas que dão sustentação a esse neoliberalismo de araque.
Continua defendendo ferreamente a Lei do Teto.Supõe que, terminado o ano, a recuperação da economia se dará apenas com sinalização de recuperação do equilíbrio fiscal.
Busca a geração de emprego através da precarização total do trabalho, sem nenhuma preocupação com os desdobramentos sociais, políticos, econômicos e fiscais dessa política. O aumento da informalidade está produzindo rombos cada vez maiores na Previdência Social.
Guedes prefere a destruição completa do modelo atual, para o nascimento de uma nova era, sem a menor capacidade de avaliar o que se sucederá na transição. Porque seu objetivo não é desenvolvimento, equilíbrio econômico e social, mas a implementação de um novo modelo em cima dos escombros do anterior.
Nunca o mercado de capitais ganhou tanto. O Banco do Brasil está queimando sua carteira de crédito vendendo por deságios monumentais para bancos de investimento privados. O BNDES enfrenta uma taxa de juros que se tornou maior do que as de mercado. Não foi desafiado para nenhum programa de reestruturação estrutural. Mas está sendo impelido a buscar recursos no exterior para bancar fundos de private equity de bancos privados.
Nada contra o uso do mercado como ferramenta de capitalização e de complementação do crédito. Mas de forma complementar, sabendo da incapacidade do capital privado de fornecer recursos de longo prazo ou correr riscos em setores de infraestrutura.
Mas Guedes não veio para resolver problemas. Veio para implementar sua guerra ideológica, tão obsessiva quanto a de seu chefe no plano moral..
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