sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Dilma sobre Maia: “Não tem compromisso com a democracia”

Ex-presidenta divulgou uma nota dura em crítica ao presidente da Câmara, que reafirmou, no Roda Viva, sua "convicção" no impeachment da petista e ainda disse que não vê elementos ou crimes para abrir um processo contra Bolsonaro

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A ex-presidenta Dilma Rousseff divulgou, nesta terça-feira (4), uma nota dura e incisiva contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (3), Maia disse que não se arrepende de ter votado a favor do impeachment da petista em 2016, e ainda adicionou que há mais elementos para o afastamento de Dilma do que um possível afastamento de Jair Bolsonaro.

Apesar de já contar com mais de 50 pedidos de impeachment de Bolsonaro em sua gaveta, que apontam inúmeros crimes que teriam sido cometidos pelo presidente, o deputado diz que não enxerga elementos e nem crime do capitão da reserva para abrir nenhum deles. Por outro lado, afirmou que as chamadas “pedaladas” que motivaram o impeachment de Dilma têm mais consistência para um afastamento.

“”Não surpreende as declarações do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) reiterando sua posição favorável ao meu impeachment e descartando a possibilidade de abrir um processo de afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência da República. O deputado não tem compromisso com a democracia ou com o povo brasileiro. Seu compromisso é com a manutenção da atual política econômica, responsável pelo aumento da desigualdade social e com a agenda neoliberal nefasta imposta pelo ministro Paulo Guedes”, escreveu Dilma.

Na nota, a petista destacou alguns dos fatos que poderiam levar Bolsonaro a um impeachment.

“O presidente da República se atira contra as instituições democráticas, apoiando manifestações em defesa do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Negligencia o combate à pandemia, segurando o repasse de recursos a governadores e prefeitos. Nomeia um general intendente sem experiência na saúde pública para ocupar o Ministério da Saúde em meio à mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. Nada disso parece sensibilizar Rodrigo Maia e demonstra o caráter pusilânime de sua liderança”, pontou.

Confira, abaixo, a íntegra da nota da ex-presidenta.

“Não surpreende as declarações do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) reiterando sua posição favorável ao meu impeachment e descartando a possibilidade de abrir um processo de afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência da República. O deputado não tem compromisso com a democracia ou com o povo brasileiro. Seu compromisso é com a manutenção da atual política econômica, responsável pelo aumento da desigualdade social e com a agenda neoliberal nefasta imposta pelo ministro Paulo Guedes.

A manifestação do presidente da Câmara em favor da manutenção do atual governo, feita no programa ‘Roda Viva’, diz mais sobre a sua percepção da política brasileira do que sobre o desejo de defender a democracia. “No caso do presidente Bolsonaro, não tenho elementos para tomar uma decisão agora sobre esse assunto”, disse Rodrigo Maia. “Impeachment é uma coisa que devemos tomar muito cuidado, não pode ser instrumento para solução e crises. Tem que ter um embasamento para essa decisão e não encontro ainda nenhum embasamento legal”.

O presidente da República se atira contra as instituições democráticas, apoiando manifestações em defesa do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Negligencia o combate à pandemia, segurando o repasse de recursos a governadores e prefeitos. Nomeia um general intendente sem experiência na saúde pública para ocupar o Ministério da Saúde em meio à mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. Nada disso parece sensibilizar Rodrigo Maia e demonstra o caráter pusilânime de sua liderança.

O parlamentar diz não ter convicções para apoiar um processo de impeachment contra um genocida como Jair Bolsonaro, mas não se furtou a defender meu afastamento do governo, mesmo sem crime de responsabilidade, como determina a Constituição Federal. Certamente porque as supostas divergências políticas que diz ter com Bolsonaro são de pequena monta já que não o impedem de manter cargos na estrutura do atual governo. Ou ainda assegurem que sua conduta dócil não afronte aos interesses reais das tropas bolsonaristas. Rodrigo Maia dança conforme a música.

Sua visão utilitarista da política, que serve para a manutenção de privilégios e do status quo, tão ao gosto de conservadores como ele mesmo e os que o apoiam – as classes dominantes do país, incluindo seus braços político e empresarial –, é a mesma das oligarquias que governaram o país por mais de 500 anos.

Também é a negação da esperança, da Justiça Social e da luta por um país mais justo e solidário. E, nos dias atuais, da defesa e da garantia da vida. É o que, sem dúvida, permitiu a ascensão de Jair Bolsonaro e da extrema-direita em 2018. Os conservadores apoiam o bolsonarismo porque é o que garante aos ricos ficarem mais ricos, enquanto metade do país vive com menos da metade de um salário-mínimo.”

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