segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O Brasil nunca mais será o mesmo

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Nesse confronto vencerá não as armas, mas aqueles que compreenderem que o novo nasceu no dia 8 de janeiro

Carlos D'Incao
www.brasil247.com/

A História é um processo dinâmico e, por vezes, nos dá a oportunidade de vermos com clareza o que marca uma era de outra nova que se insurge. O dia 8 de janeiro de 2023 será para sempre o dia em que o Brasil nunca mais voltará a ser o mesmo.

O confronto entre a barbárie e o fascismo contra a civilização e a democracia era inevitável. Por tempo demais essa nação conseguiu esconder as chagas das gigantescas e infames desigualdades sociais criadas pela mais cruenta e violenta luta de classes já vista nesse hemisfério. Agora os véus estão rotos e as feridas pusilânimes romperam os tecidos. Ou teremos a cura ou teremos a amputação do Brasil.

Bolsonaro foi criação das oligarquias que nunca quiseram uma república nesse país, pudera então uma democracia. Mas junto com ele se organizou e se sistematizou a barbárie e o fascismo que antes era difuso e sincrético. Como ato contínuo, o genocida - como todo fascista - destruiu todas as forças de segurança, da polícia civil ao exército, cooptando-as para servirem de algozes da democracia e suas instituições.

Hoje não temos mais exército, pois o mesmo não serve à República, não temos mais polícia federal, pois essa não cumpre ordens judiciais, não temos mais polícia militar porque a mesmas é sujeita ativa da desordem e junto com ela se esvaio a polícia civil que nada investiga sobre os crimes impetrados contra tudo e todos.

Não há espaço para reformas. Nesse dia de infâmia que teve a vandalização plena de todos os poderes democráticos, o general mais condecorado vale tanto e é tão criminoso quanto o lunático que defecava junto a mesa da Suprema Corte aos olhos do mundo. Essas forças devem ser substituídas em sua totalidade por outras que cumprirão o seu dever democrático e constitucional. Não será um trabalho fácil, mas o Brasil do dia 8 de janeiro não conseguirá nunca mais se reconciliar com a civilidade.

Não tenhamos a ilusão de que prisões em massa irão deter os bolsonaristas. Suas consciências já estão presas perpetuamente no inferno da loucura e da intolerância. Não tenhamos a ilusão de que a massa evangélica sob o comando de Malafaia e Macedo, junto com a massa católica carismática ungida pelas bênçãos do padre Paulo Ricardo um dia voltarão a ser “bons cristãos”. Essas são almas perdidas que não tem espaço em um mundo plural e progressista. Elas só trazem para a nossa sociedade ódio e destruição. Nada mais.

Hugo Chávez bem que tentou, em seu primeiro mandato, criar uma sociedade mais igualitária, um “capitalismo renano”. Em troca recebeu uma tentativa de golpe, frustrado pela massa trabalhadora venezuelana. O que teve que fazer? Reconstruir todas as forças de segurança. Refundar uma nova república dentro das forças sociais que estavam ao seu alcance.

Lula, tão hábil negociador, um político de tantas qualidades… teve o mesmo, ou até um pior destino que Cháves. Foi preso injustamente e teve sua imagem manchada para sempre. Impossível reverter o que as oligarquias fizeram com ele. Um milhão de Jornais Nacionais não servirão para reverter o que essa emissora, que prosperou nos porões da Ditadura Militar de 64, fez com o nosso maior estadista da República. Os opositores de Lula nunca o respeitarão e sempre irão conspirar contra o seu governo.

O sonho de pacificação acabou. A nação inevitavelmente entrará em seu combate derradeiro, tal como previa Florestan Fernandes que afirmava ser o PT - ainda que um partido apartado do marxismo-leninismo - uma existência suficientemente impossível de ser tolerada pelos setores estamentais do atraso e da mesquinhez social. Ele previu que seria pelas mãos da eleição de Lula que o Brasil resolveria sua dívida histórica com os pobres e oprimidos. Dito e feito. Lula foi eleito e dois “Brasis” se prostraram frente a frente.

Não foi Lula que quis isso, não foi o PT, não foi quem aqui escreve, mas forças históricas que existem e são maiores do que tudo, pois tudo a representa. Nesse confronto vencerá não as armas, mas aqueles que compreenderem que o novo nasceu no dia 8 de janeiro. A arma da consciência histórica é de todas a mais poderosa. Depois, se assim a História demandar, teremos armas convencionais. Mas aí será uma outra História…

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