sexta-feira, 14 de junho de 2024

O Verão de Viver Perigosamente


Macron e Biden durente cerimônia comemorativa dos 80 anos do desembarque na Normandia REUTERS/Christian Hartmann (Foto: Christian Hartmann/REUTERS)

"A plutocracia acredita que poderá comprar tudo a preço de banana, enquanto as moscas ainda estarão botando ovos nas carcaças europeias", diz Pepe Escobar


Então, Le Petit Roi, em Paris, foi previsivelmente esmagado nas urnas europeias. Ele convocou eleições antecipadas, dissolvendo a Assembleia Nacional em um ato de vingança cega e pueril contra os cidadãos franceses, atacando de fato as instituições democráticas da França.

Não que isso signifique muita coisa, porque os atributos de "liberdade, igualdade, fraternidade" há muito foram usurpados pela oligarquia.

O segundo turno dessas novas eleições francesas será em 7 de julho – quase coincidindo com as eleições antecipadas britânicas de 11 de julho, e poucos dias antes da catástrofe urbana em fogo lento que serão as Olimpíadas de Paris.

Os salões de Paris fervilham com intrigas sobre os porquê de o pequeno sabujo dos Rothschild com complexo de Napoleão estar agora atirando todos os brinquedos para fora do berço porque não consegue o que quer.

Afinal de contas, o que ele deseja ardentemente é se tornar o "Presidente da Guerra" – lado a lado com o Cadáver da Casa Branca, Starmer do Reino Unido, Rutte da Holanda, a Medusa Tóxica von der Lugen em Bruxelas e Tusk da Polônia, sem ter que responder frente ao povo francês.

É quase certo que Le Petit Roi irá enfrentar a perspectiva real de se tornar um pato manco forçado a obedecer a um Parlamento de direita. O diz-que-diz no Palácio Elysée já virou um circo, dando a impressão que ele poderia renunciar (o que mais tarde foi negado). Mas se o Petit Roi correr para guerrear com a Rússia, nenhum cidadão francês o seguirá, e menos ainda o deplorável – exército francês.

Entretanto, coisas mais importantes estão em jogo. Acompanhando as _ auspiciosas e revolucionárias mensagens à Maioria Global vindas do Fórum de São Petersburgo, na semana passada, ancoradas na abertura e na inclusividade, a reunião de chanceleres do BRICS 10, em Nizhny Novgorod, carregou o bastão em inícios desta semana.

O Chanceler Lavrov ressaltou três pontos principais:

"Os países do Sul Global não querem continuar dependendo dos padrões duplos do Ocidente, nem de seus caprichos".

"Todos sabem que os países BRICS já funcionam como a locomotiva da economia mundial".

"Nós, [na reunião de chanceleres dos BRICS] ressaltamos a necessidade de esforços consistentes visando a criação de uma nova ordem mundial, onde a igualdade de estados independentes será o fator chave".

Compare-se isso ao minguado encontro do G7, realizado nos últimos dias desta semana em Puglia, no sul da Itália: a velha cantilena de sempre, indo desde uma "outra grave advertência" aos bancos chineses (Não façam negócios com a Rússia, ou então...) até ameaças vociferantes contra a parceria estratégica China-Rússia.

E por último, mas não menos importante, novas conspirações com o objetivo de se apoderarem dos juros dos enormes ativos russos congelados/roubados, com a intenção de direcioná-los ao país 404. A Medusa Tóxica, em pessoa, anunciou que, em julho, o país 404 receberá da União Europeia 1,5 bilhões de euros provenientes dos juros dos ativos russos roubados, 90% dos quais destinados à compra de armamentos.

Quanto ao vice-secretário de Estado dos Estados Unidos Kurt Campbell – o homem que inventou o hoje defunto "pivotar para a Ásia" durante o mandato de Hárpia Hillary Clinton em inícios da década de 2010 – ele já havia declarado que Washington irá sancionar empresas e bancos chineses em razão das relações de Pequim com o complexo industrial-militar russo.
Falsas bandeiras e perfeita simetria

Segundo diversas métricas, a Europa está prestes a implodir-explodir, não com um estrondo, mas com um agonizante gemido, a qualquer momento dos próximos meses. É de importância crucial lembrar que as eleições antecipadas na França e na Grã-Bretanha coincidirão também com a cúpula da OTAN marcada para 11 de julho – onde o belicismo movido a russofobia atingirá seu paroxismo.

Dentre possíveis cenários, algum tipo de falsa bandeira a ser descaradamente imputada à Rússia é de se esperar. Essa falsa bandeira poderia ser um momento Franz Ferdinand; um momento Golfo de Tonkin, ou mesmo um momento USS Maine anterior à Guerra Hispano-Americana.

Resta o fato de que a única maneira de esses "líderes" do OTANistão mais o agente vagabundo do MI6 em Kiev, com sua suarenta camiseta verde, virem a sobreviver é fabricando um casus belli.

Se isso de fato vier a acontecer, uma data pode ser sugerida: entre a segunda semana de julho e o fim de agosto, e certamente não após a segunda semana de setembro.

Outubro será tarde demais: muito perto das eleições dos Estados Unidos.

Estejam preparados, portanto, para o Verão de Viver Perigosamente.

Enquanto isso, o Urso não está exatamente hibernando. O Presidente Putin, antes e durante o Fórum de São Petersburgo, falou sobre o quão "simétrica" será a resposta de Moscou a ataques de Kiev usando mísseis do OTANistão – o que já vêm acontecendo.

Há três membros do OTANistão que vêm fornecendo mísseis com alcance de 350 quilômetros ou mais: os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.

Uma resposta "simétrica", portanto, implicaria a Rússia fornecer aos países do Sul Global armamentos avançados – capazes de causar sérios danos a nós do Império da Bases.

E aqui vão os três principais candidatos a receber esses armamentos – como extensivamente debatido não apenas em canais de televisão russos, mas também nos corredores do fórum de São Petersburgo.

Oeste Asiático: Irã (que já os possui); Síria (que precisa muito deles); Iêmen; Iraque (eles seriam muito úteis à Hashd al-Shaabi); e Líbia.

Ásia Central, Nordeste e Sudeste Asiáticos: Afeganistão, Myanmar (esses dois estavam presentes em São Petersburgo.

América Latina: Cuba, Venezuela e Nicarágua (vide a atual incursão russa no Caribe).

África: República Centro-Africana, Congo, Etiópia, Somália, Sudão do Sul e Zimbabue (vide a recente tournée africana de Lavrov).
O Sr. Zircon diz alô

O que nos leva à interessantíssima questão de uma força naval russa circulando pelo Caribe, liderado pela Fragata Admiral Gorshkov, armada com mísseis hipersônicos e também o submarino nuclear Kazan.

O indispensável Andrei Martyanov observou que a Gorshkov "leva 32 Onyx, Zircon, Kalibrs e Otvet. Esses são os mais avançados e mortais mísseis de cruzeiro de toda a história, com um sério pedigree de combate. O Kazan, que é um SSGN de classe Yassen, leva também 32 VLS e, além disso, possui dez tubos de torpedo capazes de disparar não apenas torpedos".

Bem, é óbvio que essa força naval não está ali para deslanchar a Terceira Guerra Mundial. Martyanov explica que "embora ambos sejam capazes de atacar toda a costa leste dos Estados Unidos e do Canadá, não é por essa razão que eles estão posicionados ali. Deus nos livre, mas se chegarmos ao ponto de uma Terceira Guerra Mundial, haverá uma abundância de Bulavas, Avangards, Sarmats e Yarses para tratar da aterrorizante questão. Não, tanto a Gorshkov quanto o Kazan estão onde estão para mostrar que são capazes de atingir qualquer navio de combate ou qualquer navio cargueiro portando algum tipo de equipamento militar de combate originário dos Estados Unidos ou da Europa, caso algum maluco decida tentar sobreviver a uma guerra convencional com a Rússia no 404.

O que é ainda mais intrigante é que, após passar algum tempo em Havana, a força naval permanecerá no Caribe para uma série de exercícios – e outros navios da Marinha Russa virão se juntar a ela. Essa força permanecerá nessas águas até o fim do Verão de Viver Perigosamente. Só para o caso de algum maluco ter ideias extravagantes.

Enquanto isso, a possível escalada rumo à Guerra Quente na Europa prossegue com a mesma intensidade, com a OTAN, por meio de seu pedaço de pau norueguês mudando radicalmente as regras estabelecidas das guerras de procuração, com um ataque de besteirol após o outro.

As Forças Armadas da Ucrânia já têm a capacidade, através da OTAN, de destruir ativos russos, tanto militares quanto civis – depósitos de petróleo, aeroportos, usinas elétricas, entroncamentos ferroviários e até mesmo concentração de tropas.

A humanidade em peso estará à espera das respostas "simétricas".

Para todos os fins práticos, a decisão crucial foi tomada pela plutocracia rarefeita que realmente comanda o espetáculo: forçar a Europa a declarar guerra à Rússia. Essa é a razão de ser de todo esse kabuki retórico por trás de uma "Schengen militar" e de uma Nova Cortina de Ferro, indo do Ártico através dos chihuahuas bálticos até a hidrófoba Polônia.

A plutocracia realmente acredita que, depois, ela poderá comprar tudo a preço de banana, enquanto as moscas ainda estarão botando ovos sobre as carcaças radioativas da Europa.

Tradução de Patricia Zimbres



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