Donald Trump (à esq.) e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
Nos EUA houve um crime inequívoco contra a democracia, e um exemplo para o mundo do que não pode ser feito se se pretende preservá-la
Jose Carlos de Assis
brasil247.com/
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Uma declaração atribuída pela imprensa corporativa ao Congresso dos Estados Unidos, mas de fato de responsabilidade exclusiva do Partido Republicano, constitui um verdadeiro insulto ao Supremo Tribunal Federal, por sua decisão, através do ministro Alexandre de Moraes, de não liberar o passaporte de Jair Bolsonaro para ir à posse de Donald Trump em Washington, na próxima segunda-feira.
Pela declaração, Bolsonaro é um grande “democrata”, amigo dos Estados Unidos. Quanto à amizade do ex-presidente brasileiro com a América do Norte não há grandes dúvidas. É que ele prestava continência abertamente à bandeira desse País. Já quanto ao grande “democrata”, trata-se de um qualificativo que só se aplica aos cúmplices fascistas do ex-presidente brasileiro que, quatro anos atrás, em Washington, estimularam a invasão do Capitólio sob inspiração do próprio Trump.
Para o Partido Republicano norte-americano Bolsonaro também é um grande “patriota”. Patriota em relação a que Pátria? Ao Brasil não é, pois foi o condutor nas sombras do golpe contra as instituições e a democracia brasileira, em janeiro de 2023, quando um grupo de seus comparsas, membros do alto escalão do governo – entre os quais generais de quatro estrelas -, assaltou e arrasou a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e tentou apropriar-se do governo para o entregá-lo a ele de volta, agora na qualidade de ditador.
Pode-se justificar a posição dos republicanos norte-americanos como fruto especialmente da desinformação em relação ao que ocorre no Brasil. De fato, trata-se de uma sociedade que vive de costas para os outros países, concentrada em si mesma, e indiferente ao que acontece em volta. O presidente que será empossado no dia 20 tem como prioridade fazer com que o País volte à condição de “grande América”, ou seja, de uma posição imperialista perante os outros povos, aí incluindo a Rússia como potência nuclear e a China como potência econômica.
Ele ignora inclusive o óbvio, que está à vista de todo o mundo, pobres e ricos, e que tem sido anunciado há anos pela Ciência, manifestando-se de forma dramática em vários países, inclusive na Califórnia: os desastres climáticos extremos. Com relação especificamente ao Brasil, porém, não é possível que as agências de informação de seu País não lhe tenham informado do golpe que se preparava no Brasil, e que foi explicitamente repudiado pelo governo de seu antecessor, Joe Biden.
É uma audácia que os Republicanos se arrogam no direito de atacar a Suprema Corte brasileira por negar a liberação do passaporte de um criminoso contra a democracia. De fato, a única saída política que ele tem, diante das evidências dos crimes de conspiração antidemocrática que cometeu, é encontrar uma porta aberta para escapar do País e comandar de fora a guerra civil que sempre pregou para “limpar o Brasil” dos comunistas que só existem em sua cabeça.
Em lugar de emitir julgamentos sobre decisões de instituições governamentais soberanas de outros países, como o Brasil, atacando o Supremo por não dar a Bolsonaro a oportunidade de escapar da Justiça brasileira e refugiar-se no exterior sob a proteção fascista de um Trump, o Partido Republicano deveria assumir a vergonha coletiva por colocar na Presidência o principal instigador da invasão do Capitólio. Este se valeu das chicanas judiciais que os ricos dos Estados Unidos aproveitam para prolongar indefinidamente seus julgamentos, por quaisquer tipos de crimes que cometem, até se candidatarem, impunemente, à Presidência.
Lá houve um crime inequívoco contra a democracia, e um exemplo para o mundo do que não pode ser feito se se pretende preservá-la. O Brasil prepara-se para julgar Bolsonaro e torná-lo inelegível, provavelmente para o dobro dos oito anos a que já foi condenado. Diferente do norte-americano, nosso STF não é um órgão partidário, que viole o princípio da independência entre os Poderes da República que a própria Constituição daquele país estabelece. Certamente, dará a Jair Bolsonaro a pena suprapartidária que merece – ou seja, a de tirá-lo definitivamente da política brasileira por seus crimes contra a democracia, aliviando de vez a ameaça de um “ditador” do mesmo tipo do qual o povo pouco informado norte-americano não soube escapar.
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