
O economista Jeffrey Sachs discursa no Fórum de Boao para a Ásia 2025, em Hainan, China (Foto: Guilherme Paladino/Brasil 247)
Em discurso no Fórum de Boao, no gigante asiático, o economista defendeu iniciativas de cooperação global e pediu "mais Confúcio e menos guerras" ao mundo
Por Guilherme Paladino, de Hainan (China), para o 247 - No segundo dia do 'Fórum de Boao para a Ásia 2025', realizado em Hainan, China, especialistas e líderes políticos debateram o futuro da governança global em um cenário de crescente turbulência geopolítica. Como um dos destaques do evento desta quarta-feira (26), o professor Jeffrey Sachs, renomado economista e diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, fez duras críticas à administração de Donald Trump e elogiou o modelo de desenvolvimento chinês.
"Os EUA são a última grande nação fora da lei"
Durante o painel "Diálogo de Alto Nível: Construindo Confiança no Cenário Global em Transformação", Sachs acusou o governo Trump de minar a governança global baseada em leis e princípios. "Meu governo, os EUA, não acredita no direito internacional. E devemos ser muito claros. Trump diz seriamente que o Canadá será um novo estado dos EUA. Isso é uma expressão de poder bruto", analisou.
Para Sachs, os Estados Unidos se tornaram "a última grande nação fora da lei" e instou outras potências globais a se posicionarem contra essa postura agressiva: "a maioria do mundo quer paz, ordem e respeito às regras. Os EUA não querem isso. Creio que estamos nessa encruzilhada agora, e o que espero é que o resto do mundo – China, Índia, Rússia, União Europeia, União Africana, países islâmicos – aumentem suas vozes contra esse comportamento ilegal dos EUA."
O modelo de desenvolvimento chinês como referência
Sachs também destacou o crescimento econômico e os avanços sociais da China como um exemplo para o mundo. "O crescimento econômico da China entre 1980 e 2020 chegou a 10% em média por ano. A pobreza foi erradicada. Os feitos da China mostram o que é possível de se atingir no mundo hoje ao aplicar tecnologia e investir em educação e infraestrutura", afirmou.
"A África pode ser a região que mais cresce economicamente no mundo nos próximos 40 anos, se houver investimentos apropriados em eletrificação, tecnologias digitais e, especialmente, na educação das crianças, que representam quase a metade da população do continente", complementou o economista.

Da esquerda para a direita: Danilo Turk, presidente da Eslovênia entre 2007 e 2012; Paulo Rangel, Ministro de Estado e Relações Exteriores de Portugal; Jeffrey D. Sachs, professor e diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia; Yongnian Zheng, Reitor da Escola de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade Chinesa de Hong Kong, Shenzhen.(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247
Além disso, Sachs elogiou iniciativas como a "Cinturão e Rota": "programas como a iniciativa Cinturão e Rota são alguns dos mais positivos e dinâmicos no mundo hoje, porque promovem benefícios mútuos."
O fortalecimento da ONU e a visão chinesa sobre a paz
Outro ponto de destaque na fala do economista foi a necessidade de fortalecer a ONU. "Grandes potências deveriam ser defensoras do fortalecimento da ONU. Pensar que a ONU é uma ameaça é a maior confusão atual dos EUA", frisou.
"Devemos fortalecer a ONU, não enfraquecê-la. Acredito que essa seja uma ideia estranha ao governo dos EUA na atualidade, mas creio que a Rússia, China, Europa, Índia, Brasil, Irã, Turquia, todos os grandes países do mundo hoje, concordam em fortalecer a ONU. Essa voz, de forma unida, pode fazer a diferença no mundo".
Ainda citando a China como modelo a ser seguido pelo Ocidente, Sachs avaliou que o mundo precisa de mais 'paz confuciana' - a exemplo da tradição do gigante asiático de poucos conflitos com países vizinhos ao longo de sua história - e menos guerra.
"Na Europa, a guerra é tida como algo natural, porque os países guerrearam entre si por milhares de anos. Mas para a China, a guerra não é vista como um fato inevitável entre países. Entre 1368 e 1839, quase não houve guerra no Leste Asiático - período este que só terminou com a invasão britânica. Apesar de sempre ser dominante na região, a China nunca invadiu a Coreia ou o Japão. Alguns historiadores chamam isso de 'paz confuciana'. Acho que precisamos de muito Confúcio no resto do mundo."
O avanço da multipolaridade
No mesmo evento, o ex-presidente da Eslovênia, Danilo Türk, destacou a transição do mundo para um sistema multipolar e foi categórico ao afirmar que "a era da unipolaridade já acabou. A multipolaridade está crescendo e avançando".
"A questão é: é possível ter esse sistema multipolar dentro do sistema das Nações Unidas e instituições multilaterais?’", indagou Turk.
Já o Ministro das Relações Exteriores de Portugal, Paulo Rangel, enfatizou a necessidade de adaptação a essa nova ordem mundial: "temos que discutir que passos tomar no meio do desenho de uma nova ordem. Sabemos que a ordem antiga desapareceu, mas não sabemos o que virá. Então, devemos construir confiança no meio da tempestade."

Foto aérea da sede do 'Fórum Boao para a Ásia' na província de Hainan, localizada no sul da China(Photo: Xinhua/Guo Cheng)Xinhua/Guo Cheng
O Fórum Boao 2025
O Fórum de Boao para a Ásia 2025 ocorre em um momento de crescente fragmentação econômica global e tensões geopolíticas. Com o tema "Ásia no Mundo em Transformação: Rumo a um Futuro Compartilhado", o evento se consolida como uma plataforma para fortalecer a cooperação regional e a governança global.
A China, como segunda maior economia do mundo, anunciou estar reestruturando sua economia com foco em manufatura avançada, digitalização e indústrias verdes, abrindo novas oportunidades para a Ásia e além.
A conferência prossegue até o dia 28 de março, com novos debates sobre o papel da Ásia na governança global e o futuro da economia mundial.
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