Imoral não é a posse do deputado José
Genoino, como querem alguns, inclusive em nichos de esquerda. Imoral é atacar a
democracia pelas costas, desrespeitar a Constituição e vender o Brasil por
trinta dinheiros, tentando se criar um clima de violência e insegurança.
por Izaías Almada, em Carta Maior
O deputado José Genoino ao declarar em
Brasília na última semana, um dia antes da sua posse legal e garantida pela
Constituição, que o atual jornalismo brasileiro se transformou em nova forma de
tortura dos cidadãos, escancarou para o país a sua divergência com o governo
quanto à necessidade de uma reforma da Lei de Meios no Brasil. Não que o tenha
feito com essa intenção, o que posso garantir por conhecer o deputado, mas foi
o desabafo de um brasileiro que se sente perseguido e injustiçado pela forma
com a qual a imprensa e o judiciário trataram a questão do “mensalão” (que
ainda não se provou, é bom que se diga) e que mostra claramente a diferença
entre os que lutam toda a vida, como dizia Bertolt Brecht, e os que lutam por
pouco tempo, em particular aqueles que se deixam levar pelo canto da sereia do
poder.
O episódio é emblemático para a agenda
política de 2013, ano em que o xadrez eleitoral mexerá suas peças com muito
cuidado por parte do governo e – para não fugir ao figurino – incivilizadamente
por parte da oposição. A atitude da presidente Dilma, adiando a discussão sobre
a Lei de Meios, poderá sair cara ao governo, pois evidencia uma estratégia, se
é que se pode chamar assim, no mínimo incoerente para um governo que fala e age
democraticamente, promove distribuição de riqueza, é verdade, mas que a
distribui desproporcionalmente, considerando-se o número de contemplados,
quando despeja milhões e milhões de reais a mais para o maior inimigo da
democracia brasileira no momento, a imprensa venal e o oligopólio de seis
famílias em que se sustenta.
A tese do “controle remoto”, tão ao
gosto da presidente Dilma Roussef, é uma falácia que depõe contra a sua
sensibilidade e inteligência. Uma metáfora recorrente e de gosto e constatação
duvidosas, que se contrapõe a realidade, pois poderemos mudar de canal,
emissora de rádio ou jornal e a má qualidade do que se vê e lê, bem como a
manipulação da informação, será sempre a mesma. E nessa manipulação no terreno
da política, nos últimos dez anos, a vítima tem sido invariavelmente o governo,
em particular o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores.
Para não voltar muito no tempo, basta
que olhemos as recentes e indefectíveis retrospectivas das revistas semanais,
dos jornalões e dos canais de televisão do ano que findou e lá estará estampada
entre outras e sem o menor pudor esta pérola: o ano em que se começou a
combater a corrupção no Brasil. Dá para levar a sério? A quem querem enganar?
Quem começou combater a corrupção, o STF? De qual corrupção está se falando? A
do Banestado… lembram-se? A da lista de Furnas, onde até o assassinato de uma
modelo tenta-se encobrir? Da Privataria tucana? Da CPMI Veja/Cachoeira, que não
ouviu a bandidagem? E as concorrências para obras do metrô na cidade de São
Paulo, a Alston e a corrupção investigadas na Europa? O Rouboanel e inúmeros
outros casos de corrupção comprovada contra o patrimônio público em vários
estados da federação que sequer são lembrados pela mídia, envolvendo do DEM, O
PSDB, o PPS, etc?… A propósito, aguardo com ansiedade o novo livro do
jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Chega a ser indecente, para dizer-se o
menos, essa tentativa de parte da oposição brasileira em querer tapar o sol com
a peneira, esquecendo-se da corrupção em que está atolada até o pescoço e que
já ultrapassou há tempos qualquer limite de irresponsabilidade, e querer
imputá-la aos seus principais adversários. Tudo sob o exercício do jornalismo
irresponsável e de mão única, selvagem e mentiroso, esse que a presidente
procura defender sob argumentos pouco sólidos.
E assim entramos em 2013. Dúvidas,
esperanças, temores. Cada ano novo se inicia da mesma maneira para qualquer um
de nós. Aos mais velhos resta a amargura de ver que pouca coisa muda no terreno
das esperanças, que aumentam as dúvidas e – dependendo do otimismo ou do
pessimismo de cada um – revigoram-se os temores.
O mundo continua a digerir a crise
econômica iniciada em 2008, com o governo de muitos dos principais países ricos
ainda às escuras e às apalpadelas, buscando apagar o incêndio, mas sem saber se
não sobram brasas adormecidas que o possam reacender sob pequenos ventos a
surgir não se sabe bem de onde. A propósito, recomendo a leitura do artigo do
economista Paul Krugman e se encontra traduzido no portal Carta Maior.
O estrago causado pelo neoliberalismo
econômico com as suas teses de estado mínimo e mercado máximo, os prejuízos
causados a milhões de trabalhadores na Europa, nos EUA, parte da Ásia e África,
o salve-se quem puder geral, mesmo com o surpreendente desempenho da América
Latina nesse novo cenário nos últimos anos, configuram o traçado de uma nova
geopolítica de atenção, com viés de sinal amarelo, deixando a humanidade em
suspense e ansiosa para o que poderá acontecer nesse 2013 que se inicia.
O estado de saúde de dois grandes
líderes, Nelson Mandela e Hugo Chávez, não trazem bons augúrios, bem como a
possibilidade de nova intifada na Palestina. Por aqui, teremos que agüentar a
direita relinchar pelas páginas dos jornais, câmeras de televisão e microfones
de rádios, destilando o seu veneno de falsa democracia e exercendo (ou impondo)
o seu direito de crítica sem resposta, num dignificante exemplo de como entende
e pratica da democracia.
Imoral não é a posse do deputado José
Genoíno, como querem alguns, inclusive em nichos de esquerda. Imoral é atacar a
democracia pelas costas, desrespeitar a Constituição e vender o Brasil por
trinta dinheiros, tentando se criar um clima de violência e insegurança. Exigir
a autocrítica e a renúncia de homens como Genoíno e Dirceu pode, a princípio,
parecer um ato de sabedoria política, mas no fundo implica em aceitar a
condenação imposta por um julgamento de exceção, por um tribunal de atitudes
parafascistas. E com o fascismo, todo cuidado é pouco! Venha ele de onde vier…
Escritor e dramaturgo. Autor da peça “Uma Questão de Imagem” (Prêmio
Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro “Teatro de Arena: Uma Estética
de Resistência”, Editora Boitempo.
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