por Michel Alecrim
O diretor do Banco Mundial
defende que os programas de transferência de renda são fundamentais para
garantir uma alimentação adequada e, assim, um futuro às crianças
(…)
Istoé – O programa Bolsa Família
é eficiente no combate à pobreza?
Arup Banerji – Há muitos anos, o
Banco Mundial vem avaliando o que funciona ou não nas políticas de
transferência de renda. O Bolsa Família passou a ser uma experiência muito
discutida por conta de alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, porque
foi ambicioso na escala que tentou atingir. Muitos países que adotaram
programas parecidos usaram um esquema de cima para baixo. O Estado apenas se
preocupa em transferir dinheiro para os pobres. O Bolsa Família fez uma
inversão, pensando primeiro na pessoa. E os bons resultados estão sendo
comprovados através de pesquisas científicas. Não são apenas comentários.
Istoé – Por que frisa a
importância de dar atenção à pessoa?
Arup Banerji – Vou dar um
exemplo. Se você digitar Bolsa Família no Google Imagens, a foto mais comum que
vai aparecer é de uma pessoa sorrindo e
segurando o cartão do programa. Para muitas dessas pessoas esse cartão mostra
que estão vinculadas ao Estado pela primeira vez. Pessoas pobres muitas vezes
não se sentem parte de um país. São subjugadas, tratadas como se fossem de
fora. O cartão estabelece uma relação legal e formal com o Estado. Equivale a
dizer: ‘O País valoriza você e sua família e por isso estamos repassando esses
recursos.’ A pessoa passa a ser cidadã de um país e, consequentemente, começa a
valorizar a educação dos filhos, a criá-los bem nutridos, e os filhos, por
outro lado, passam a cuidar mais de suas mães. Cria-se, assim, uma relação de
mútua responsabilidade. Esse é um dos aspectos centrais do Bolsa Família.
Istoé – Uma das principais
críticas a esse tipo de programa é a dependência que supostamente gera, e não
autonomia.
Arup Banerji – No caso do Brasil,
eu não concordo com isso. Em outros lugares do mundo, talvez. O que significa a
dependência econômica? Em poucas palavras, seria o seguinte: a pessoa que
recebe ajuda chega à conclusão de que é melhor não fazer nada o dia inteiro e
não procurar emprego porque o valor recebido compensa. O segredo do sucesso é
que o pagamento não seja tão alto que leve a esse tipo de situação nem tão
baixo que não dê nem para as famílias se alimentarem. É importante que o
benefício não chegue a um salário mínimo. Estudos comprovam: depois de dez anos
do Bolsa Família, não há dependência.
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