A ponte do PMDB levará o Brasil rumo ao abismo
econômico e social, retroagindo vigorosamente as conquistas da Constituição de
1988.
Francisco Fonseca* // www.cartamaior.com.br
O documento lançado pelo PMDB em 29/10/15,
intitulado “Uma ponte para o futuro”, prima pelas premissas
liberal/conservadoras, dinamitando inteiramente o que restou do então MDB, que
fora forjado no bojo da ditadura militar.
As principais recomendações do partido para o Brasil
“voltar a crescer” e se “desenvolver” são as seguintes, abaixo. Sublinhamos
alguns dos aspectos que corroboram a visão e os interesses neoliberais e do
rentismo:
“a) construir uma trajetória de equilíbrio fiscal
duradouro, com superávit operacional e a redução progressiva do endividamento
público;
b) estabelecer um limite para as despesas de
custeio inferior ao crescimento do PIB, através de lei, após serem eliminadas
as vinculações e as indexações que engessam o orçamento;
c) alcançar, em no máximo 3 anos, a estabilidade da
relação Dívida/PIB e uma taxa de inflação no centro da meta de 4,5%, que juntos
propiciarão juros básicos reais em linha com uma média internacional de países
relevantes – desenvolvidos e emergentes – e taxa de câmbio real que reflita
nossas condições relativas de competitividade;
d) executar uma política de desenvolvimento
centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se
fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e
infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de serviços públicos e
retorno a regime anterior de concessões na área de petróleo, dando-se a
Petrobras o direito de preferência;
e) realizar a inserção plena da economia brasileira
no comércio internacional, com maior abertura comercial e busca de acordos
regionais de comércio em todas as áreas econômicas relevantes – Estados Unidos,
União Europeia e Ásia – com ou sem a companhia do Mercosul, embora
preferencialmente com eles. Apoio real para que o nosso setor produtivo
integre-se às cadeias globais de valor, auxiliando no aumento da produtividade
e alinhando nossas normas aos novos padrões normativos que estão se formando no
comércio internacional;
f) promover legislação para garantir o melhor nível
possível de governança corporativa às empresas estatais e às agências
reguladoras, com regras estritas para o recrutamento de seus dirigentes e para
a sua responsabilização perante a sociedade e as instituições;
g) reformar amplamente o processo de elaboração e
execução do orçamento público, tornando o gasto mais transparente, responsável
e eficiente;
h) estabelecer uma agenda de transparência e de
avaliação de políticas públicas, que permita a identificação dos beneficiários,
e a análise dos impactos dos programas. O Brasil gasta muito com políticas
públicas com resultados piores do que a maioria dos países relevantes;
i) na área trabalhista, permitir que as convenções
coletivas prevaleçam sobre as normas legais, salvo quanto aos direitos básicos;
j) na área tributária, realizar um vasto esforço de
simplificação, reduzindo o número de impostos e unificando a legislação do
ICMS, com a transferência da cobrança para o Estado de destino; desoneração das
exportações e dos investimentos; reduzir as exceções para que grupos parecidos
paguem impostos parecidos;
k) promover a racionalização dos procedimentos
burocráticos e assegurar ampla segurança jurídica para a criação de empresas e
para a realização de investimentos, com ênfase nos licenciamentos ambientais
que podem ser efetivos sem ser necessariamente complexos e demorados;
l) dar alta prioridade à pesquisa e o
desenvolvimento tecnológico que são a base da inovação”.
Esse conjunto de predições pode ser classificado da
seguinte forma:
- Organização das finanças públicas para criar
“ambiente de negócios” ao capital, notadamente ao rentismo (itens a, b, c, d).
- Retorno às relações Norte/Sul nas relações
exteriores, em termos econômicos e consequentemente políticos – portanto, de
subserviência –, suplantando o esforço Sul/Sul e a política externa autônoma,
ampla e plural (item e).
- Desmonte dos programas sociais, retroagindo-se o
que sequer foi inteiramente consolidado (item h).
- Desmonte (do que resta efetivamente) da
legislação trabalhista (item j).
- Retroação nos licenciamentos ambientais em nome
do “desenvolvimento” (item k).
Ao verificarmos a recomendações explicitadas,
nota-se o ensurdecedor silêncio de predições democráticas, populares e sociais,
tais como:
- Participação popular e controle social, caso da
adoção do gerencialismo neoliberal sem qualquer forma de controle social para
os quadros burocráticos estratégicos (item f).
- Reforma tributária progressiva e que desonere os
pobres e taxe os mais ricos, progressivamente, a começar pelas grandes fortunas
e pela adoção de impostos sobre a renda e não sobre o consumo (item j).
- Não qualificação do significado de “eficiência
orçamentária”, como se fosse algo natural e caracterizada pelo consenso, caso
do controle sobre o orçamento, em que se objetiva falar ao “mercado” e não ao
cidadão (item g).
- Igualmente não qualificação de quais os
propósitos da ciência e tecnologia, em que a inovação pode aumentar ou diminuir
o emprego, a miséria, o bem-estar, entre outros aspectos, a depender dos
compromissos políticos que se tenha. Pelo visto, o compromisso é apenas e
tão-somente com o Capital.
Nada disso é casual. Apenas demonstra que o PMDB,
em larga medida promotor institucional da “Constituição Cidadã” de 1988,
transformou-se no partido da reação, do conservadorismo e do neoliberalismo
rentista, secundado pelo PSDB e pelo DEM, entre outros.
Ulysses Guimarães deve estar se remexendo nas águas
profundas tendo em vista a alteração das placas tectônicas do “atual” PMDB.
Se há alguma esperança nesse oceano de desesperança
e obscurantismo que vivenciamos nos dias de hoje é a possibilidade de depuração
do falido sistema político brasileiro tendo em vista a proibição do
financiamento empresarial às campanhas e partidos. Nessa pretensa depuração,
muito possivelmente um partido como o PMDB estará com seus dias contados!
Afinal, a ponte do PMDB levará o Brasil rumo ao
abismo econômico e social, retroagindo vigorosamente as conquistas da
Constituição de 1988, que são conquistas dos que lutaram pela democracia
política e social da sociedade brasileira.
Créditos da foto: Jefferson Rudy / Agência Senado
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