O presidente sem votos Michel Temer, a julgar pela sua difícil situação de pária no contexto nacional e internacional, já estaria arrependido do golpe. Além da rejeição da população, que exige a sua saída do Palácio do Planalto em crescentes manifestações em todo o país, ele também não conseguiu o reconhecimento da comunidade internacional, experimentando vergonhoso constrangimento na reunião do G-20, na China, onde foi praticamente ignorado pelos demais chefes de Estado, sendo tratado como se fosse um penetra. Até o presidente americano Barack Obama, que contribuiu com o golpe que o conduziu à Presidência da República, evitou ser fotografado ao lado dele. E com receio das vaias que o perseguem por toda parte, ele evita qualquer aparecimento em público. Como, porém, não poderia ausentar-se das comemorações do 7 de Setembro, alterou o protocolo, não desfilando em carro aberto, como de praxe, e dispensando a faixa presidencial, advertido talvez pela consciência de que não tem legitimidade para usá-la. Será que vale a pena ser Presidente e viver se escondendo do povo?
Ao retornar desapontado da viagem à China, onde pretendia satisfazer a sua vaidade como Presidente, Temer foi recebido pela pressão, de aliados e da imprensa, para enviar imediatamente ao Congresso Nacional o projeto de reforma da Previdência, que só pretendia apresentar após as eleições municipais. Apesar do seu pouco tempo à frente do governo, parece não haver dúvidas de que ele não é mais o dono de si mesmo. Temer ainda não se deu conta de que está sendo manipulado por empresários e pela mídia, integrantes das chamadas "forças ocultas", os quais vem orientando os seus passos e ditando a sua agenda. A pressa em mandar para o Legislativo as tais medidas impopulares, entre elas a reforma das leis trabalhistas, faz parte de um projeto de poder que Temer desconhece e no qual não está incluído. Ele estava no lugar certo e na hora certa da derrubada de Dilma, mas não é o nome escolhido por aquelas forças para ocupar o Palácio do Planalto. Está sendo usado como "boi de piranha", atraindo para si o descontentamento pelas medidas impopulares e deixando o caminho tranquilo para o nome que o substituirá, ungido pelos seus manipuladores.
Ninguém tem dúvidas de que Temer não chegará em 2018 na Presidência. Sua permanência no Planalto se prenuncia muito curta, não apenas pela rejeição da população, cujas manifestações de rua exigindo a sua saída tendem a agigantar-se a cada dia, como, também, porque está com a espada do Tribunal Superior Eleitoral no pescoço. Tramita naquela Corte a ação do PSDB pedindo a cassação da chapa Dilma-Temer, sob a acusação, entre outras coisas, de abuso de poder econômico. Como Dilma já foi cassada, sobrou Temer, que pode perder o mandato até o fim do ano ou, no máximo, no inicio de 2017. Além disso, está engavetada na Câmara dos Deputados, apesar de uma decisão judicial, o pedido do seu impeachment, só dependendo da indicação de nomes, pelos líderes partidários, para a formação da comissão que apreciará os argumentos para o seu afastamento. Ou seja, dependendo da vontade daquelas "forças", a qualquer momento pode surgir uma decisão no TSE ou na Câmara, abrindo caminho para a eleição do "ungido".
Com Temer cassado, o presidente da Câmara assume o governo, sendo obrigado a convocar imediatamente eleições indiretas para escolha de um novo presidente para um mandato tampão de dois anos. Como os eleitores serão os membros do Congresso Nacional não será difícil à Direita eleger o candidato da sua confiança, já que controla os mesmos parlamentares que votaram pelo impeachment de Dilma. Considerando-se, no entanto, que a política não é uma equação matemática, não se pode descartar a imprevisibilidade, o que significa que um fato não previsto pode alterar o plano da Direita. Neste caso, deve-se registrar uma carta, aparentemente fora do baralho, que pode ressurgir como um furacão, provocando uma catástrofe no governo Temer e no Congresso: o deputado afastado Eduardo Cunha. Poucos acreditam que haverá quórum na Câmara Federal na segunda-feira, dia 12, para a votação da cassação do seu mandato. Essa data, na verdade, foi cuidadosamente escolhida pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia, justamente para não ter quórum, mas se por acaso houver número suficiente e Cunha for mesmo cassado a sua resposta, como diria um personagem do saudoso Chico Anisio, será "maligna".
Preparando-se para a possibilidade de cassação, o parlamentar carioca, que estranhamente ninguém consegue encontrar para entregar a notificação sobre a sessão da Câmara – ele parece ter o poder de tornar-se invisível porque também o juiz Sergio Moro não conseguiu achar o endereço da esposa dele para intimá-la a depor – já teria procurado discretamente o Ministério Público, através de assessores, para negociar uma delação premiada. Cunha, de espirito vingativo, certamente não aceitará conformado a perda do mandato e, portanto, deverá abrir o bico e entregar todos os que tem rabo de palha, a começar por Temer. Como participante ativo da conspiração que culminou com a cassação do mandato de Dilma, além de acusado de participar de operações ilegais milionárias que lhe permitiram abrir contas em bancos suíços, Cunha sabe dos podres de muita gente que integra o governo Temer e, também, de mais de duas centenas de membros do Congresso Nacional. Vai provocar, portanto, uma verdadeira hecatombe na política nacional, cujas consequências são imprevisíveis.
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