
Inicialmente este texto gritava como pessimista dentro de mim. Em muito tempo não me sentia tão mal frente ao cenário social e da educação. Não, não acredito que temos milhões de fascistas neste país, muitos foram enganados por falsos discursos e pela consolidação das informações que a mídia insistiu em vomitar sobre nós. Deram força ao ovo da serpente… que chocou!
Tenho a sensação que atravesso anos no deserto, mas chegamos apenas ao 5° mês do ano. Nesses últimos tempos tenho visto a fome voltar avassaladora, desemprego em níveis absurdos, a depressão ganhar ainda mais espaço e perdi quatro amigos desde o pós-eleição, todos por suicídio.
São dos fatos mais bizarros às perdas sociais mais drásticas, com retiradas de direitos, e a esquerda se debatendo em diversos momentos sobre como atuar ou não. Sinto como se estivesse num carrinho de batida descontrolado.
Somando nesse quadro, nós, profissionais da Educação, somos vistos como inimigos do Estado. A falsa idéia de “doutrinadores”, “foro de São Paulo” entre outras frases vomitadas na campanha, teimam em inflar quem é avesso ao que pensa ser a esquerda ou disseminar ódio a determinados partidos políticos. Isso tudo numa tentativa do reality show familiar, que se tornou a presidência da República, em manter uma popularidade que despenca ladeira abaixo.
Nessa semana, mais uma porrada: cortes drásticos em universidades, institutos federais de ensino e, pasmem, na educação básica. Sempre com a desculpa “mas o PT”. Cobram autocrítica da esquerda, mas essa quadrilha que assumiu o país entrega o pouco de dignidade que restava.
Sim, chorei escondido. Chorei pelas lutas que tantos travaram nesse país. Por professores que atuam em periferias e outros rincões e são invisíveis. Tão invisíveis quanto o meu texto será.
Sim, senti o ódio crescer dentro do peito. Tentei sufocá-lo, mas não pude. A ideia de ninguém largar a mão de ninguém me parece mto falha porque sinto uma legião de abandonados nas ruas. Ainda bem que os amigos próximos cuidam de nós, mas a letargia social parece fazer a população vagar como zumbis ou o desalento e desesperança fazendo com que não tenhamos força pra sair no murro, no peito e nas ruas pra brigar por alguma coisa.
Eu sei! Eu sei que até aqui o texto tem um ar pessimista, mas é desabafo! Poucos sabem que participo de movimento social e isso também tem sido meu alicerce de luta e afeto. Sim, as ocupações me lembram muito as escolas de inspiração zapatistas onde “ser rebelde” é buscar a autonomia, a criticidade e tudo a partir da construção do poder popular.
Nessa perspectiva autônoma, a comunidade é ouvida, os alunos têm voz ativa e professores constroem coletivamente currículos e competências. Existem dificuldades quanto aos espaço, bens materiais, mas tudo é superado pela política de afetos e verdadeira resistência que é gerada. Esse é o diferencial.
Sim, vejo muito disso nas ocupações que tantos falam em “espaços de doutrinação”. Na verdade são espaços de escuta e elaboração de leituras de mundo. Interpretações possíveis de (re) existência e nos enxergarmos como humanos que somos e nossos direitos que deveriam ser garantidos por lei. A insurreição é um desses caminhos de transformação.
As escolas zapatistas me inflam com a ideia que estou viva ainda e que enquanto não tombar, meu trabalho dentro e fora das escolas tradicionais será a preciosa “arma” de combate.
Acredito no diálogo, mas com ação forte, e muitas vezes vista como radicalização, como forma de romper essa letargia, arrancar a dor que nos toma de assalto e adoece quem se deixou levar por esse discurso falso que está no poder e começa a perceber o quanto foi enganado.
Nós ainda estamos vivos! Isso que quero dizer e vou resistir até o último instante possível.
Conforme disse Zapata e ainda diz nas múltiplas vozes dessas escolas que se mostram como vida e luta: “se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo”!
Força para todos nós e coragem! Ainda estamos vivos e lutaremos pela memória de nossos mortos!
(Francis Paula)
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