Para ele, a Constituição deve ser interpretada levando em conta a opinião pública. Estranho, não? Juízes fazem conluio com a mídia para formar opinião pública, e depois decidem de acordo com a opinião pública que ajudaram a formar.
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“In Fux nóis num trust” (Batatinha quando nasce…)
por Armando Rodrigues Coelho Neto
The Intercept Brasil abriu a sarjeta da Farsa Jato. Entre áudios e mensagens divulgadas, veio à tona o que sempre se soube: nunca houve combate efetivo à corrupção, mas sim perseguição ao Partido dos Trabalhadores. Foi e é o caminho para adequação do Brasil aos interesses geopolíticos americanos. A corrupção edificadora de carreiras nas instituições não passou de pretexto. Aliás, a mesma corrupção, a mesmíssima “morocutaia” que até hoje circunda o atual Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
Foi na corrupção sistêmica nacional que a elite enriqueceu, igrejas evangélicas proliferaram, pobres foram expropriados, negros, gays e outros foram marginalizados. Foi nela que juízes arrastaram bundas em busca de apoio para chegar ao Supremo. Tomaram muito chá de espera e café requentado em antessalas de parlamentares corruptos, apoiados até por traficantes. O PT não criou o departamento de corrupção da Petrobrás ou da Odebrecht, nem inventou doações republicanas para Lula, Aécio, Maduro e Capriles.
Nada é tão velho no Brasil quanto a palavra novo. A propósito, o atual ministro da Justiça é o “novo”, até João Dória é novo, e, Tabata Amaral que é nova, já está velha e caquética. Por isso é bom repetir: novo mesmo foi tentar acabar com a fome e promover inclusão social.
Da fraude eleitoral ao sumiço do Queirós, do conluio da Farsa Jato às tramoias palacianas com quadrilha de milicianos, fartas são as provas incontestes de que a republiqueta de Curitiba foi usina do golpe. Lá se deu a maior farsa jurídica do Brasil, quiçá da história mundial. Afinal, tribunais superiores dariam selo dignificante às condutas erráticas de juizecos de primeira instância. O sumidíssimo Jucá já havia anunciado o grande acordo nacional com supremo e tudo. Fossa aberta, o acordão está nu.
Cético, vejo as revelações do The Intercept Brasil (TIB) soarem como a “vingança dos fracos, que é contar pra todo mundo”, no dizer da escritora Clarice Lispector. A facção golpista alijada da “Ceia do Senhor” jogou no colo de um certo Glenn Greenwald o que dissera Jucá. Um imbróglio nacional que derrubou Dilma Roussef, içou Michel Temer, prendeu Lula à revelia de toda legislação e da tradição jurídica do Brasil e da ONU. Por meio de manobras, adiamentos e contorcionismo jurídico, o Supremo Tribunal Federal apadrinhou e apadrinha o golpe.
Prova fraca e forjada, uma procuradora “fraquinha” foi afastada, a Fundação Casa de Mãe Joana reluz, conluio entre acusação e julgador em quatro instâncias e, pasmem (!), o fedelho DD criou sua indústria de palestras. Nossa! O Fachin é deles e da sarjeta da Farsa Jato surgiu um “In Fux we trust” (No Fux confiamos), que só perde espaço para o “Aha uhu, o Fachin é nosso” – expressão com a qual piás mimados comemoram vitórias no videogame.
Ainda que Fachin continue deles, Queiróz e Jucá permanecem sumidos e o Brasil corre o risco de ter um fritador de hambúrguer como diplomata, precisamos deixar claro desde que “In Fux nóis num trust”, nem a pau! Esclareço nas linhas seguintes.
Li uma matéria publicada na revista Piaui, na qual o ministro Fux teria promovido um “campanhão” para dar à filha dele o cargo de desembargadora no Rio de Janeiro. Segundo a repórter Malu Gaspar, a filha do “In trust” seria a mais despreparada entre os candidatos. Não galgara sequer preencher condições primárias exigidas, já que não teria apresentado “trabalhos suficientes para os anos de 2007, 2008, 2009, 2010, 2012 e 2014”. A exigência teria sido “suprida” por amigo do pai dela, por meio de uma insólita declaração. Consta ainda que um grupo de 28 conselheiros da OAB teria pedido a impugnação da candidatura dela, fato que rendeu “notas e reportagens em jornais e revistas”. Segundo a Piauí, o rolo foi tamanho “que Fux-pai visitou algumas redações”.
De acordo com a revista, o “In trust” queria dar o cargo para a filha como um presente. Em protesto, 25 desembargadores faltaram à sessão e, de acordo com a revista, o desembargador Siro Darlan, amigo do ministro há cinquenta anos, declarou carinho pelo “In trust”, mas teria dito: “Se eu fosse ele, faria com que meus filhos seguissem o meu exemplo. Trata-se de um cargo republicano. Não é algo que se possa dar a alguém, como um presente.” Tudo em vão, a herdeira do “In trust” acabou sendo nomeada pelo governador Luiz Fernando Pezão (preso por corrupção – sem vínculos com o episódio filhinha de papai).
Aqui termina a primeira parte da razão pela qual “In Fux nóis num trust”. Reporto o leitor a esse link.
Vamos à parte 2.
Assisti à palestra do tal “In trust” proferida na Expert 2019 (evento da XP investimentos), que contou com diversificada trupe. De juízes a empresários, do atual ministro da Justiça ao jogador de futebol Kaká, até o “Veio da Havan” foi lá dar pitaco… Pois bem, lá, além de se declarar futuro presidente do STF, Trust teve a pachorra de antecipar voto – defendeu privatizações, reforma da previdência e trabalhista (ele a filha estão fora). Imaginem se uma causa sobre esses temas surge para ele analisar? Achando pouco, declarou apoio à Farsa Jato (aplausos!) para uma plateia de “honestos”, que por certo não devem à previdência, não sonegam impostos e, certamente não precisaram de Refis, Refis de Refis ou Refis de Refis de Refis…
Para ele, a Constituição deve ser interpretada levando em conta a opinião pública. Estranho, não? Juízes fazem conluio com a mídia para formar opinião pública, e depois decidem de acordo com a opinião pública que ajudaram a formar. Mais pérolas! Trust afirma que todo cidadão deve ter resposta do judiciário “em tempo razoável” e defende direitos humanos. E os processos do Lula sistematicamente adiados? E o silêncio imposto a Lula pelo próprio ministro? E a desobediência à ONU? Para finalizar, o magistrado declama um poema de viés patriotada piegas. Mais apropriado seria encerrar declamando ¨Batatinha quando nasce…”. Definitivamente, “In Fux nóis num trust!
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.
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