O ex-presidente Lula e o ex-juiz suspeito Moro (Foto: Reprodução | ABr)
"Nos erros estratégicos dos fãs de Moro e na gestão trágica de Bolsonaro fermenta-se um retorno gloriosamente democrático de Lula", escreve Luís Costa Pinto
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Ansiosa por expor o candidato de sua preferência fingindo não o fazer, descoordenada na execução de suas ações e desprovida de estratégia lógica e de visão ampla do País, a mídia tradicional brasileira é sócia do sucesso pré-eleitoral do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT).
Esperava-se para fins de fevereiro, começo de março de 2022, a consolidação de um cenário de intenções de voto mostrando o petista com possibilidades reais de vencer o pleito presidencial em primeiro turno.
A soma dos erros dos cabos eleitorais midiáticos do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, considerado suspeito e parcial pelo Supremo Tribunal Federal, com o momento ruinoso de um Brasil refém de Jair Bolsonaro e vítima da ausência de um governo apto a dar respostas à fome, à miséria, ao desemprego e à inflação, anteciparam para este fim e ano de 2021 a constatação assentada em números: só Lula tem sido capaz de fazer os brasileiros terem esperança de novo, ainda que olhando o retrovisor e reavivando a memória de dias passados. “Eles eram melhores, apesar de tudo o que se urdiu e o que nos obrigaram a passar”, parecem pensar os estropiados e sofridos eleitores brasileiros. Naqueles tempos, sorria-se e sonhava-se ao mirar o horizonte.
A pesquisa IPEC divulgada ontem, mostrando que se as eleições fossem agora a vitória seria do ex-presidente, em primeiro turno, com 56% dos votos válidos, ressaltou e consolidou as virtudes competitivas que o eleitor enxerga em Lula. Ele obteve 49% de intenções abertas de votos num cenário com poucos adversários e 48% numa cartela onde se põe como adversários dele nomes como “André Janones” do Avante, Cabo Daciolo, remanescente do pleito assimétrico de 2018 e até um cientista político chamado Luiz Felipe D’ávila de um partido “Novo” que se portou como propagador de todas as velhacarias nos últimos tempos. Antes do peru de Natal e dos fogos de réveillon ainda deverão sair novas pesquisas, como PoderData e DataFolha, e elas sacramentarão este cenário.
Há 40 dias, desde que o ex-juiz Sérgio Moro anunciou, dos Estados Unidos, que regressaria ao Brasil e se filiaria ao “Podemos” para ser candidato à Presidência, a mídia tradicional cobre em frisson todo e qualquer movimento do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Evitam, sempre, o aposto que explica, em parte, Moro: ele teve sua conduta como magistrado à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) considerada suspeita e parcial pelo Supremo Tribunal Federal. Nada mais anti-republicano do que um juiz parcial e que proferia sentenças com um projeto político na cabeça. Nada mais vergonhoso para um magistrado do que ver suas sentenças ruírem pela Corte Suprema da Nação a qual jurara servir. Eis Moro, mas o nome dele nunca surge com o necessário aposto explicativo nos veículos de comunicação outrora relevantes, que se jactavam de formar opinião no passado e que seguem prisioneiros daqueles tempos.
Tendo de fingir imparcialidade quando sempre foi parcial, a mídia tradicional passou a cobrir a agenda pré-eleitoral de todos – inclusive de Lula – enquanto cobria Moro e suas manobras patéticas para forjar uma agenda política. Em meio a isso, deu-se destaque e relevância às prévias do PSDB e ao lançamento do nome da única mulher na disputa até aqui, a senadora Simone Tebet, do MDB. Num cenário do IPEC, Tebet tem 1%, metade do percentual de João Doria, nome escolhido pelos tucanos do PSDB nas prévias. Doria, que governa São Paulo, empata com os 2% de “André Janones” do Avante. Rivalizam no pelotão com Cabo Daciolo.
Realizar prévias para definir candidaturas é correto e alvissareiro. Jornais como O Globo e O Estado S Paulo sediaram até debates entre os tucanos, tomando parte numa campanha como nunca antes na História do País. Cobrados nas redes sociais, advertidos por meio de artigos nas páginas da mídia digital independente, viram-se obrigados a também registrar os movimentos do ex-presidente. De início, tentaram ignorar a ruidosamente bem-sucedida agenda europeia de Lula. Recuaram e a registraram depois. Nesta última semana, foram obrigados pelos fatos a noticiar, também, numa Praça de Maio tomada por 400.000 pessoas, em Buenos Aires, a multidão clamando pela volta do ex-presidente e o olhar de um Lula entre o surpreso e o magnânimo.
A costurar todos os reveses de pré-campanha da mídia tradicional e de suas intenções, a ruína brasileira: inflação de dois dígitos, 10,75% em 12 meses; desemprego de 14% da força de trabalho, ou 15 milhões de brasileiros; redução ampla do emprego formal e da rede de proteção social do registro em carteira, fruto da “reforma trabalhista” defendida com afinco pela mídia tradicional; fome e miséria grassando nas ruas. Nesse pano de fundo, o mesmo IPEC fotografa o que os brasileiros acham de Jair Bolsonaro, o presidente vil e perverso: 70% acham-no incapaz de governar e 55% consideram que o governo dele é ruim ou péssimo.
Nada disso autoriza, entretanto, que se dê a eleição de 2022 por vencida – muito ao contrário. Jamais houve uma disputa presidencial com tanto tempo de janela de exposição dos candidatos, nem mesmo em 1989. A campanha da primeira eleição direta para presidente da República depois da ditadura só começou depois do Carnaval democrático em que se celebrou a promulgação da Constituição de 1988 ocorrida em outubro do ano anterior. Agora, dada a ruindade e incompetência do governo e a parcialidade e ansiedade da mídia tradicional em criar um anti-Lula (estratégia malsucedida até aqui, em razão dos motivos expostos), estamos a dez meses das urnas de outubro de 2022 e bem no meio das atividades de campanha. Em campanha, por definição, candidatos expõem e debatem o que pretendem fazer – e até nisso Lula está só. Apenas o ex-presidente tem dito o vê como prioridades de ação na presidência, como quer recolocar o Brasil no centro das decisões da América do Sul e, com isso, como reconciliar o País e devolver esperança a uma Nação.
Nos erros estratégicos dos fãs de Moro, dentro da mídia e no mercado financeiro, e na gestão trágica de Jair Bolsonaro, fermenta-se um retorno gloriosamente democrático de Lula ao Palácio do Planalto. É esse o recado e também a explicação dos números das últimas pesquisas pré-eleitorais.
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