Julia Rocha, médica e cantora (Foto: Twitter)
Médica, cantora e escritora mineira defende a ampliação da saúde pública e o fim dos convênios privados; veja vídeo na íntegra
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No 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (18/05), o jornalista Breno Altman conversou com a médica, cantora, escritora e militante comunista mineira Júlia Rocha, que afirmou que o déficit de médicos nas periferias das grandes cidades e no interior do Brasil reflete o interesse de uma classe que ganha com o adoecimento da população.
“A gente vive num sistema capitalista, e saúde é considerada uma mercadoria. Quanto mais eficaz a mercadoria de saúde, maior é seu preço”, disse.
Defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), Rocha declarou que os direitos da classe trabalhadora por saúde são sabotados por quem lucra com o adoecimento da população. Para ela, a legislação brasileira deveria inviabilizar a assistência privada oferecida pelos convênios particulares.
“Por interesses mercadológicos, questionam o tempo todo a existência do sistema público de saúde. É uma fronteira para o capitalismo explorar”, disse a médica, declarando que o capitalismo "faz mal à saúde".
A médica reivindica, por isso, a adoção de uma saúde radicalmente pública no país.
Por sua vez, Altman lembrou que 9,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro são gastos em saúde, sendo apenas 3,9% desses com o SUS, e que o gasto anual per capita com saúde é de R$ 1.880 para os usuários do sistema e de R$ 8.730 reais para os detentores de planos privados.
Nesse sentido, a militante observou que a alocação da maior parte dos recursos para quem menos precisa é uma inversão que acentua as desigualdades no país. Segundo ela, os trabalhadores com renda menor estão mais expostos ao adoecimento e recebem atendimento precarizado, enquanto os que comem melhor, trabalham menos e têm acesso a lazer e cultura gozam também de acesso privilegiado aos melhores profissionais, equipamentos e cuidados, sobretudo em regiões específicas do Sudeste.
Sobre o caráter elitista dos cursos de medicina no país, a também cantora afirmou que a rejeição de parte dos médicos contra a vinda de 10 mil profissionais cubanos ao Brasil pelo programa Mais Médicos foi essencialmente racista.
“Uma parte importante dos trabalhadores médicos nem se veem como trabalhadores. São originalmente de classes mais altas. É uma bolha, uma caverna”, disse. Ainda assim, afirmou entender a posição de profissionais que resistem a trabalhar em condições precárias, sem infraestrutura ou mesmo internet nos consultórios.
Complementou que a pandemia da covid-19 teve o papel positivo de ensinar a importância do exercício da telemedicina. “Uma boa internet e um bom equipamento de áudio e vídeo dentro de uma Unidade Básica de Saúde reduziria a demanda por especialistas e tornaria o trabalho mais resolutivo", comentou Rocha, recordando que há médicos que recusam salários de R$ 20 mil por ausência total de suporte.
O ataque do governo Bolsonaro às políticas de saúde e ao programa Mais Médicos, implementado no governo Dilma Rousseff, levou, segundo a médica, à destruição de serviços públicos, como a assistência pré-natal e do parto e a assistência à saúde mental, com participação do sistema privado no processo.
“Os conselhos estaduais e federal de medicina, bastante alinhados contra a luta antimanicomial e com o negacionismo científico do governo, atacaram as políticas de saúde pública, provocando muitos retrocessos", declarou. Na direção oposta, defendeu o combate à desumanização da medicina, que reflete o tratamento de determinados grupos sociais em todos os âmbitos da vida, como no acesso ao sistema de educação ou na vulnerabilidade à repressão policial violenta.
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