quarta-feira, 14 de setembro de 2022

0 Brasil ad portas da definição do seu futuro

Fontes: Rebelión / Socialismo y Democracia [Imagem: Presidente Bolsonaro, junto com sua esposa, durante a parada militar no Dia da Independência, em 7 de setembro de 2022. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil]


Neste artigo, o autor analisa o espetáculo constrangedor oferecido por Bolsonaro durante a comemoração do Dia da Independência e a situação eleitoral que se configura às vésperas das eleições de 2 de outubro.

O infeliz espetáculo do Bicentenário

As manifestações convocadas pelo presidente para comemorar o Dia da Independência tiveram como palco principal as cidades de Brasília e Rio de Janeiro. Era uma data importante, tendo em vista que naquela ocasião se comemorava o Bicentenário do Brasil. No entanto, ninguém imaginaria que no final das contas o que ficaria na memória de milhões de brasileiros seria a sucessiva declaração -aos gritos- do Chefe do Executivo de que ele é um " imbrochável " (traduzido, é algo como o que sempre tem o membro ereto).

O Brasil não merece a ignomínia e a humilhação de ter um governante que no dia de seu Bicentenário deve suportar as demonstrações de virilidade de um espécime de homem das cavernas que, pelos acasos da história, foi eleito presidente desta nação. Atrevo-me a sustentar que nenhum presidente do mundo ousaria afirmar -em um ato cívico e massivo- que é um ser dotado de qualidades de masculinidade e potência sexual dignas de serem divulgadas e reconhecidas urbi et orbi .

E isso não é o mais bizarro. O pior é que essa exaltação da masculinidade do presidente gerou um longo e intenso debate sobre o suposto envolvimento do ex-capitão. Não é à toa que a instalação do tema na pauta jornalística surge justamente quando Bolsonaro e seu clã estão sendo investigados pela compra de 107 imóveis nos últimos 30 anos, dos quais 51 foram parcial ou totalmente adquiridos à vista com dinheiro vivo. A manobra de distração é tão óbvia que é difícil entender por que a imprensa e muitos especialistas gastaram tanto tempo reproduzindo um debate irrelevante e patético.

O xadrez eleitoral começa a se resolver

Esse tema absurdo também pretende encobrir os resultados obtidos pelas recentes pesquisas sobre as preferências dos eleitores nas próximas eleições de outubro. De fato, com os resultados das diversas pesquisas realizadas pelo Datafolha , IPEC, Quaest e outros institutos de pesquisa eleitoral, fica cada vez mais claro que, se algo realmente extraordinário não acontecer, o ex-presidente Lula da Silva será o próximo vencedor do próximo mês eleições. Embora tenha tido ligeiras oscilações nas últimas medições, o candidato do PT tem um apoio que oscila entre 48 e 44 por cento do eleitorado e seu índice de rejeição se mantém em torno de 30 por cento.

Por sua vez, Bolsonaro experimentou um leve aumento nas intenções de voto (em torno de 31%), embora tenha um nível de rejeição acima de 50%, ou seja, não tem como alcançar a maioria na próxima disputa eleitoral. São pessoas que apontam que não votariam no ex-capitão de forma alguma, nem no primeiro nem no segundo turno. Então, a questão que está sendo debatida neste momento não é se Lula vai ou não ganhar as eleições, porque ele deveria ganhá-las, a questão é se ele vai conseguir no primeiro turno.

Configurando uma diretoria complexa, com 11 candidatos na disputa pela presidência, os próximos movimentos do candidato Lula da Silva devem ser orientados preferencialmente para avançar na aproximação com as igrejas pentecostais que representam parcela significativa do voto popular. Lula é preferido entre as populações mais pobres que ganham até 2 salários mínimos, entre pretos, pardos e entre as mulheres. É preciso consolidar e aumentar esse apoio para liquidar a vitória no primeiro concurso nas urnas. Com a violência política desencadeada em muitas localidades do país, é muito importante tentar conter a escalada de agressões e mortes que ocorrerão em maior magnitude, caso as eleições sejam decididas entre Lula e Bolsonaro em segunda instância marcado para o dia 30 de outubro.

A partir de um cenário que propõe a formação de um amplo bloco democrático, Lula teve um reencontro com sua ex-correligionária e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), prometendo incorporar as diretrizes ambientais que o atual candidato a deputado federal entregou em um documento que contém propostas para "um Brasil mais sustentável, mais justo e que mais uma vez proteja o meio ambiente", segundo as próprias palavras de Lula. A isso se soma a polêmica incorporação de Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente da empresa, buscando com esta decisão "tranquilizar o mercado e os empresários" e, aliás, levantar a imagem de que está sendo construído um grande pacto de unidade nacional para derrotar a extrema direita.

Lula e Marina Silva. Créditos: frame de um vídeo do YouTube

Faltam menos de três semanas para os brasileiros decidirem quem vai governar nos próximos quatro anos e o clima de hostilidades se aprofunda, apesar das declarações "oportunistas" dos demais candidatos que pedem o fim da radicalização dos extremistas e a pacificação urgente do país. Todos esses apelos à sanidade e ao diálogo entre grupos polarizados não passam de uma mentira, pois na verdade é apenas a extrema direita que vem utilizando o recurso da violência, da mentira, da desqualificação e do assassinato. De fato, muitos candidatos da oposição não estão conseguindo fazer suas campanhas em partes do Rio de Janeiro dominadas por milícias, a maioria ligada aos filhos, parentes e amigos do presidente.

Para neutralizar o impacto do uso exacerbado do aparato governamental implantado pelo Executivo, o candidato Lula da Silva terá que agir com muita discrição e analisar cuidadosamente os próximos passos que precisa dar para ampliar sua base de apoio eleitoral. Há setores nos quais certamente não deve fazer muito esforço, como as associações de caça e tiro, o agronegócio -especialmente o pecuário-, as Forças Armadas e as denominações evangélicas controladas por pastores corruptos que obtiveram isenções fiscais da atual administração.

Fora deles, Lula pode conseguir a adesão de vastos setores que já o consagraram como o presidente de maior apoio popular nas últimas décadas, alcançando mais de 80% de aprovação ao final de seu segundo mandato em 2010. Lula, o metalúrgico do ABC paulista que liderou as greves contra a ditadura no final da década de 1970 e que comandou o destino do Brasil por 8 anos (2003-2010), é a esperança de milhões de cidadãos que querem ver renascer oportunidades de maior bem-estar e mobilidade social com base em políticas inclusivas e na concretização do Estado Social de Direito contemplado na Carta Constitucional de 1988. Que um Brasil mais justo,democrática e ambientalmente sustentável devem lutar paralelamente para desmantelar os efeitos deletérios do pesadelo neofascista que está destruindo o país e poluindo a alma nacional.

Fernando de la Cuadra é doutor em Ciências Sociais, editor do blog Socialismo y Democracia e autor do livro De Dilma a Bolsonaro: itinerário da tragédia sociopolítica brasileira (Editora RIL, 2021).


Rebelión publicou este artigo com a permissão do autor através de uma licença Creative Commons , respeitando sua liberdade de publicá-lo em outras fontes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

12