Ato contra fascismo (Foto: Guilherme Santos (Brasil de Fato))
“Tudo gira em rede na ideologia do dinheirismo produzida pelo ódio e pelas mentiras dos curandeiros da extrema direita”, escreve o colunista Moisés Mendes
Moisés Mendes
O capitalismo, já diziam antes mesmo da sua invenção, não sobreviveria sem guerras, colonização, exploração, fome, doenças, desgraças e pilantragens. O fascismo brasileiro, com suas feições bolsonaristas, não teria vida longa se não fosse um vasto negócio em várias áreas.
Tudo que eles fazem é negócio, desde muitos antes dos PIXs que transferiram mais de R$ 20 milhões, em valores atualizados, para as contas de Bolsonaro, como forma de socorro ao sujeito que perdeu uma eleição e fracassou como golpista e como vendedor de joias.
Pablo Marçal, o estelionatário explorador de velhinhas, é apenas a versão mais recente do extremismo dinheirista. Ele, coachs, influencers e celebridades que aderem ao bolsonarismo negociam quase tudo o que fazem no mundo dos famosos, quase famosos ou a caminho da fama.
O fascismo do ódio, da mentira e da difamação movimenta as redes e assegura as maiores receitas às big techs. O X vive da audiência do fascismo e por isso afronta quem se atreve a tentar controlá-lo.
A transição do mundo analógico para o mundo virtual é financiada, no espaço das falações e das gritarias, pela lacração do empreendedorismo fascista, no varejo e no atacado. A ideologia é eventualmente apenas um pretexto para a expansão das bandidagens.
Tanto que um levantamento divulgado essa semana mostrou que um grande influenciador é investigado por semana pela polícia no Brasil. Pelos mais diversos golpes.
Não qualquer um, mas um influencer grandão, com milhões de seguidores. Geralmente associado à pregação bolsonarista ou com vínculos com suas estruturas e dedicado a todo tipo de crime, quase sempre envolvendo lavagem de dinheiro.
E ficamos sabendo agora que Pablo Marçal, o melhor exemplar do extremista milionário, tentou aplicar golpe até em Bolsonaro. Em 2022, o ex-coach queria cuidar do impulsionamento pago da campanha nas redes de Bolsonaro. E se ofereceu para fazer o serviço.
O objetivo era chamar os eleitores para que se cadastrassem em um banco de dados. O banco seria administrado por ele. A partir desse cadastro, venderia seus cursos e pilantragens e criaria mais um lastro de nomes para seu projeto político.
Não deu certo, porque o entorno de Bolsonaro o alertou. Era uma armadilha do farsante. E além disso os textos oferecidos por Marçal eram considerados precários.
Imaginem a precariedade das mensagens marçalianas, para que os conteúdos fossem rejeitados pela turma de Bolsonaro. Marçal, conta a Folha, fracassou ao tentar enganar o pai e os filhos e provocou a ira de Carluxo.
Foi apenas uma falcatrua que não deu certo, enquanto outras prosperam. O bolsonarismo está na índole dos que exploram a jogatina das bets na internet. E dá suporte à retórica do empreendedorismo, que até pouco tempo era coisa do mais romântico liberalismo.
Não é mais. O empreendedorismo se neopentecostalizou e virou produto da extrema direita associado à religiosidade absolutista. Desde que um Deus com sua ética particular esteja acima de tudo.
E assim a religiosidade, como bom negócio, vai vivendo da credulidade, dos dízimos e do moralismo que ataca gays, trans e todos os diferentes. O preconceito, um negócio antigo, foi reciclado pelo fascismo brasileiro. Todos ganham dinheiro odiando, porque esse é o principal produto do bolsonarismo.
Marçal é apenas um mercador fora de controle, por ter desafiado hierarquias e facções mais antigas, na tentativa de ampliar seus rebanhos e acumular mais dinheiro. E assim vai misturando religião, motivacionismo e curandeirismo e levando adiante suas ambições políticas.
Parece que não, mas ele faz parte da mesma turma de Bolsonaro, Trump, Elon Musk, Milei. A cultura da prosperidade a qualquer custo é a marca dos grandes e pequenos gurus pilantras do século 21. O fascismo é um negócio em rede.
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