sexta-feira, 24 de março de 2017

Milhares de professores voltam às ruas de Buenos Aires em defesa da educação pública

Marcha de professores em Buenos Aires reuniu 50 mil pessoas no início da mobilização. 
|Foto: Reprodução/Facebook

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Milhares de professores voltaram às ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira (22) em uma nova manifestação por melhores salários e condições para docentes da rede pública na Argentina.

A Marcha Federal Educativa em direção à Praça de Maio, diante da sede do governo de Mauricio Macri, acontece no quarto dia de paralisação nacional dos professores da rede pública e um dia depois de o presidente dizer que lamentava pela “terrível desigualdade entre aquele [estudante] que pode ir a uma escola particular e aquele que tem que cair na escola pública”.

Os professores da rede pública na Argentina estão mobilizados desde o começo de março, quando abriram o ano letivo com manifestações em várias cidades do país e 48 horas de paralisação.

Os docentes exigem um aumento salarial de 35%, para compensar a inflação de 40% registrada no país em 2016, e negociação nacional, e não provincial, como pretende o governo Macri. Eles afirmam que desativar a negociação de salários a nível nacional é uma violação da lei argentina e impede um acordo sobre o salário que servia de base para as discussões em cada uma das províncias.

O governo Macri pretende fixar um limite às reivindicações salariais deste e de outros setores e afirma que os professores têm motivações políticas, já que este ano se realizam eleições legislativas na Argentina.

Professores partiram de todo o país para marchar em Buenos Aires nesta quarta-feira (22), e docentes da rede particular também participaram do protesto em solidariedade aos colegas do setor público.
Macri fez a declaração em detrimento do ensino público nesta terça-feira (21) enquanto apresentava os resultados de uma avaliação do ensino na Argentina, pontuando que é “muito ruim” a situação da educação no país e ressaltando que estudantes do setor público apresentaram desempenho pior do que aqueles do ensino particular no estudo realizado pelo governo. “Isso marca um problema de fundo: a terrível desigualdade entre aquele [estudante] que pode ir a uma escola particular e aquele que tem que cair na escola pública”, disse o presidente.

Docentes e sindicatos de várias categorias repudiaram a declaração de Mauricio Macri, apontando a arbitrariedade do exame elaborado pelo governo federal para avaliar alunos das redes pública e privada. Eles destacaram também como a apresentação do presidente se deu em meio às três semanas de mobilização dos funcionários da educação pública e a um dia da marcha nacional dos professores.
“Isso é voltar a colocar a escola pública contra a escola privada, quando não se investem os recursos para que a escola pública seja a melhor opção”, afirmou Mirta Petrocini, da Federação de Educadores de Buenos Aires.
Manifestantes marcharam nesta quarta-feira levando cartazes com frases como “não caímos na escola pública, a escolhemos e a defendemos” e “na escola publica não caímos: nos levantamos”.
Após a declaração de Macri, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner publicou em seu perfil no Facebook um trecho de um livro de Mario Benedetti em que o escritor uruguaio comenta o desmonte do ensino público: “O sistema é simples. Por exemplo, retiremos fundos da Universidade da República, e quando esta começa a agonizar, e os estudantes, funcionários e docentes saiam às ruas, apontemos então que ineficaz se tornou a educação pública, inclusive a superior, e destaquemos mais uma vez que a solução é a universidade privada, onde não há greves e há até certa facilidade para se formar.”
“É indissimulável a atitude do governo contra o Estado, os trabalhadores e o povo”, comentou o ex-ministro da Educação Alberto Sileoni. “Macri não comete uma gafe quando diz que ‘tem que cair’ na escola pública. É o que ele pensa, é o desdém que tem em relação ao Estado”, completou o ex-membro do governo Cristina.

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