sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Graças aos irmãos Koch, temos mais provas de que universalizar a saúde economiza dinheiro


Créditos da foto: Senador Bernie Sanders, durante uma coletiva de imprensa sobre um projeto de lei de assistência médica de ''Medicare for All'' em 13 de setembro de 2017. (Sipa USA via AP / Oliver Douliery)

Um estudo que tinha o objetivo de gerar argumentos contra o programa de universalização da saúde 'Medicare for All' revela que a reforma poderia economizar trilhões de dólares para os estadunidenses

Por John Nichols, The Nation 

Os irmãos Koch investiram bilhões de dólares em uma campanha que já dura décadas para mudar a opinião pública no sentido de que ela se volte contra reformas necessárias, como o estabelecimento de um sistema de assistência médica universal nos EUA.

Porém, agora, um projeto apoiado pelos irmãos Koch está fornecendo argumentos a favor da reforma “Medicare for All”, que tem sido defendida por progressistas como o senador de Vermont, Bernie Sanders.

Um estudo realizado pelo Mercatus Center, financiado pelos irmãos Koch, na Universidade George Mason, que examinou os custos em potencial do decreto Medicare for All (M4A) que tem sido patrocinado por Sanders, foi lançado com grande estardalhaço esta semana. Ele foi imediatamente apoiado por políticos de direita que são próximos aos Kochs, como o presidente da Câmara de Deputados, Paul Ryan, que tuitou um artigo sobre o estudo com a mensagem: “$32,6 trilhões de dólares. Isso é quanto a proposta de assistência médica universal dos democratas de Washington custaria ao longo de 10 anos. Mesmo se duplicássemos todo o imposto de renda federal individual e corporativo, não conseguiríamos cobrir este custo. É simplesmente absurdo.”.

Ryan é teoricamente o “cara dos números” do Partido Republicano. Porém, ele não entendeu os números mais importantes do estudo. Enquanto que o presidente da Câmara de Deputados focou-se em uma previsão do autor do estudo de que o plano de Sanders aumentaria os gastos federais com assistência médica em até cerca de US$ 32,6 trilhões entre 2022 e 2031, economistas que leram de fato o relatório focaram-se em um detalhe muito mais relevante. Na página 18 do relatório, em uma seção intitulada “Efeitos nos Gastos da Saúde Nacional e o Orçamento Federal”, foi mencionado que no plano de Sanders “os custos nacionais de atendimento à saúde pessoal diminuiriam menos de 2%, enquanto que os gastos totais em saúde diminuiriam somente 4%, mesmo quando se assume uma economia substancial de custos administrativos”.

É isso mesmo. Um relatório que deveria desacreditar a universalização da saúde descobriu que, mesmo depois que os benefícios do programa Medicare for All fossem implementados — “demanda de saúde adicional que vem de eliminar-se copagamentos, fornecer-se categorias adicionais de benefícios e cobrir-se quem atualmente não tem cobertura médica” — o custo potencial do plano ainda seria menor do que “as economias potenciais associadas a corte de pagamentos de provedoras e ao alcançar-se menores custos de fármacos.”.

Isso se traduz no que os defensores do Medicare for All têm dito desde o início: sob um sistema de saúde pública universal, os estadunidenses teriam uma maior qualidade de atendimento para mais pessoas a um menor custo.

“Os custos relacionados à saúde, mesmo para aqueles que têm seguro-saúde, estão ameaçando dezenas de milhões de pessoas todos os dias neste país”, diz a enfermeira registrada Jean Ross, co-presidenta do sindicato “Enfermeiros Nacionais Unidos”. “O que até mesmo este estudo financiado por corporações admite é que podemos realmente garantir saúde pública para todos neste país, sem os custos devastadores e crescentes de bonificações, valores dedutíveis e copagamentos, por menos do que gastamos como nação atualmente em saúde.”.

Nem é necessário dizer que Sanders ficou muito satisfeito em inverter a situação em relação à classe dos bilionários.

“Obrigado, irmãos Koch, por acidentalmente defenderem o Medicare for All!” declarou o senador na terça-feira.

Mas ele não parou por aí. Sanders gravou um vídeo no qual diz: “Deixem-me agradecer aos irmãos Koch em especial, por patrocinarem um estudo que mostra que o ‘Medicare for All’ economizaria $2 trilhões para os estadunidenses em um período de 10 anos.”.

O defensor de longa data do sistema de saúde pública universal não estava exatamente louvando o estudo do Mercatus, que ele rejeitou como sendo uma tentativa “grosseiramente enganosa e parcial” dos irmãos Koch de se opor “ao crescente apoio em nosso país a um programa de ‘Medicare for All’”.

Porém, Sanders tinha todo o direito de apontar que, quando um relatório que é aceito de braços abertos por pessoas como Paul Ryan diz que o sistema Medicare for All economizaria trilhões de dólares para os estadunidenses, o argumento a favor da reforma é fortalecido pelas mesmas pessoas que pensavam estar opondo-se à ela.

O cerne de toda a defesa do Medicare for All é um argumento moral. Porém, graças aos irmãos Koch, agora há um argumento econômico ainda mais forte para atuar junto com o primeiro argumento. Como diz o senador Sanders: “Se todos os mais relevantes países do mundo podem garantir saúde pública para todos, e alcançar melhores resultados em saúde, enquanto gastam substancialmente menos per capita do que nós, é absurdo que alguém sugira que os Estados Unidos não podem fazer o mesmo.”.

John Nichols é correspondente de assuntos nacionais do The Nation. Ele é autor do livro Horsemen of the Trumpocalypse: A Field Guide to the Most Dangerous People in America, da editora Nation Books e co-autor, com Robert W. McChesney, de People Get Ready: The Fight Against a Jobless and Citizenless Democracy.

*Publicado originalmente no The Nation | Tradução de Nina Torres Zanvettor

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