POR FERNANDO BRITO
Comentou-se aqui que Jair Bolsonaro “miniaturizou” os dois superministros que, todos acreditavam, seriam os pilares de seu governo. Fez isso também com as Forças Armadas, mas é assunto para outro texto.
De Moro, tem ficado evidente, com as sucessivas investidas do presidente sobre sua área, situação agora provisoriamente em trégua, pois o ministro concordou em colocar “sob cabresto” a Polícia Federal, virtualmente impedida de investigar qualquer coisa que desagrade o clã presidencial.
Mas só agora começa a ficar evidente que Paulo Guedes, o ex-“Posto Ipiranga”, onde se encontrariam todas as respostas para as agruras econômicas do país é, de fato, um imenso depósito de coisa alguma.
Perdeu o ponto-chave de sua reforma da Previdência, que era o sistema de capitalização, capz de formar, em mãos privadas, um imenso fundo de recursos para financiar o mercado, como sempre acontece quando é criado um mecanismo com atribuições previdenciárias. É simples: nos primeiros anos, a entrada de recursos é alta e a saída baixíssima, por se tratar de “contas novas”, cujas obrigações levam tempo para avolumarem-se.
Seu delírio de que a volta da CPMF seria capaz de permitir a desoneração de recolhimentos da Previdência nas folhas de pagamento é absolutamente frágil, como demonstra o ex-secretário da receita, Everardo Maciel, em entrevista ao Valor: para isso a alíquota teria de ser altíssima, o peso sentido por muitos e o alívio, nem tão grande, por poucos.
Na Folha, Guedes confessa que ainda está aferrado à ideia, ainda que, formalmente, diga que está sepultada:
“Evidentemente, quando as pessoas falam de CPMF, o presidente fala que não. Porque realmente não é CPMF que a gente quer, é um imposto sobre transações diferente desse. Mas, para que não haja mal entendido, morreu em combate o nosso valente Cintra”, afirmou.
O Ministério da Economia não tem liderança sobre nada do que se discute em matéria de reforma tributária e, portanto, passa a correr o risco de que saia do Congresso um “depenamento” de suas receitas já em crise.
Seu projeto econômico não consegue ser objetivo nem mesmo naquilo que apresenta como única medida para a economia: a venda de patrimônio. A saída de capital externo no mercado de ações, que disparou a partir de julho, continua acontecendo e tende a seguir assim, em razão das posições de “vendido” dos investidores estrangeiros.
Os grupos econômicos e financeiros já não contam com qualquer recuperação digna deste nome para a economia, tanto é que vêm caindo sucessivamente as previsões de crescimento do PIB no ano que vem.
De tal modo o carro vem rateando que não demora a haver possibilidade de que Jair Bolsonaro acabe por ter vontade de abastecer em outro posto que lhe prometa mais quilômetros de vantagem.
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