sexta-feira, 19 de junho de 2020

Viagem ao mundo bizarro dos “bolsonaristas”


Nonato Menezes

Viajei pelo mundo dos “bolsonaristas”. Não foi uma viagem ao mundo físico, de verde e amarelo, presencial. Foi uma viagem à distância, quase protegido pelo anonimato, longe, portanto, do risco de não sair vivo para contar a História. 

A curta viagem foi ao mundo digital. Ao mundo do “eu acho”, para os “bolsomínions”. 

De tudo que encontrei no universo digital do “gado”, o que mais apreciei foi o atributo crença. Eles e elas acreditam em coisas extraordinárias. Acreditam em episódios do passado, em mensagens do presente, e pasmem, até eventos do futuro estão acorrentados às “certezas” da Fé que espalham. É o espírito coletivo em mais pura manifestação delirante. 

Percebi que não acreditam em algumas “entidades”, mas creem em outras, todas habitantes do mesmo mundo simbólico. 

Por exemplo. Não acreditam no Sítio do Pica-pau Amarelo. Repudiam Saci Pererê. Neste caso, governados pelo vento e circunstância, é a cor que chateia as almas desvairadas. Mas a razão principal para negarem ambos, é o fato de serem “símbolos” da cultura brasileira. Se pudessem, ouvi de alguns, baniriam isso de todos os livros e o tornariam crime o uso deles nas Escolas. 

Mas são fervorosos na defesa do pássaro responsável pela chegada dos bebês. Berram, com estridência, para que muitos se convençam de terem chegado ao mundo numa cestinha pendurada no bico da Cegonha. Mas desmancham barraco se alguém disser que essa lenda surgiu na Escandinávia. Para eles, há provas irrefutáveis de que ela tenha nascido na Disneylândia. Ponto final. 

Com Papai Noel acontece quase o mesmo. Nesse meio há unanimidade sobre a existência do velhinho “presenteiro”. Sem nenhuma dúvida, porém, quanto sua origem ser na Terra da ilusão Norte-americana. 

Percebi que o “ser contra” deles e delas, só vale para o que é brasileiro, da nossa cultura, dos nossos valores, da nossa gente. O que vem do estrangeiro, exceto da China, tudo é perfeito, arrumado, chique e dá status. 

Acreditam que a Terra é plana. Incrédulo, numa oportunidade, perguntei se, ao invés de ser plana, para eles, a Terra não seria chata? Ninguém respondeu. Talvez por não saberem a diferença. 

Acreditam que o Comunismo existe e está a pleno vapor, a tomar conta de países honestos, destruindo sociedades inteiras, de famílias cristãs e violando o direito à propriedade. Absurdo! Soa com a convicção dos alienados. “Imagina se vou compartilhar minha escova de dentes com alguém! ” Morte aos comunistas! É o carimbo. 

Esquerda, esquerdista e petista, para eles, são palavras que soam como um ultraje, verdadeiro insulto à dignidade, aos valores das pessoas de bem. A aversão é tamanha que em certos subgrupos só aceitam membros destros. 

No discurso do “ódio”, agredir nossa Língua é condição de normalidade. Machucam versos, grafam palavras que não existem e cometem erros ortográficos aquém de primários. 

Encontrei, por exemplo, a palavra “caus”, no lugar de caos. Fiquei em dúvida se aquela palavra tinha sua origem no Latim ou se era apenas um latido. Segui em frente. 

Observei naquele mundo cáustico, que inteligência é atributo de luxo. Sem lugar e tempo para raciocínio, nem para sentimentos de humanidade. O que há naquele mundo risível, na forma mais petrificada, é a força bruta, berros, ameaças, falsas mensagens e reverências ao que há de pior na espécie humana. 

Tal a aridez intelectual e estilo bizarro de defenderem a vida e a Democracia, que as almas mais leves que ali perambulam soltam o verbo em defesa da liberdade individual, desde que assegurada com armas nas mãos e direito a matar. 

É assim o mundo digital “bolsonarista” que encontrei. Um mundo enredado na farsa que ainda ilude os incautos, lava cérebro de inocentes úteis e continua a carregar a cantilena que fez um “mito” de papel presidente da República.

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