Em nenhum momento de sua vida Aécio Neves fez algo
pelos direitos humanos ou pela liberdade de expressão.
Eric Nepomuceno / www.cartamaior.com.br/
Teria sido apenas um gesto um tanto bizarro, um
tanto patético, um desses vexaminosos momentos em que um garoto mimado reúne um
grupo de ressentidos para demonstrar sua contrariedade. Para isso, contou com
meia dúzia de desconhecidos em busca de protagonismo, figurantes opacos
reforçando o destempero de um político que deveria respeitar um pouco mais a
própria trajetória.
À frente de tudo, ele, esplendoroso garotão
provinciano que insiste em querer virar um jogo jogado.
Poderia ter sido, sim, um gesto um tanto bizarro,
um tanto patético. Mas que também poderia ter sido encarado, pela Venezuela,
como uma intromissão inadmissível, colocando em risco algo muito mais sério que
as figuras que participaram da pantomina.
Feitas as contas, o resultado final é inócuo. Mas
ainda ocupa amplo espaço nos grandes meios de comunicação, que uma vez mais
irão prestar sua robusta contribuição para que o ambiente político brasileiro
permaneça nessa tensão estéril.
Sem medo algum do ridículo, Aécio Cunha, que usa o
nome político de Aécio Neves, agora quer simplesmente que se debata, no Senado
brasileiro, a expulsão da Venezuela do Mercosul. Já o presidente da Comissão de
Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira – o iracundo que deveria respeitar
um pouco mais a própria história – culpa, claro, Dilma Rousseff por alguma
coisa que ele mesmo não consegue demonstrar. E, claro, exige (é curioso como a
direita não propõe, defende, reivindica ou pede: a direita exige) a expulsão
sumária da Venezuela do bloco regional.
Outra figura bizarra, José Agripino Maia (este sim,
faz jus ao próprio passado de parlamentar da ARENA, e se mantém, rigoroso e
impassível, na defesa de suas convicções desavergonhadas) quer convocar o
embaixador brasileiro na Venezuela. Para quê? Ora, para manter acesa a fogueira
da sua inutilidade. Na falta de propostas viáveis de alternativa, nada melhor,
para esse velhote birrento, que espicaçar o governo.
Quando embarcaram num avião da Força Aérea
Brasileira – portanto, do Estado brasileiro – numa missão autonomeada (afinal,
para isso o destemperado Aloysio Nunes Ferreira preside a Comissão de Relações
Exteriores do Senado), os viajantes tinham um só objetivo evidente: ganhar
espaço nos meios de comunicação e continuar seus desvairados ataques contra
Dilma e seu governo.
Dizer que estavam realmente comprometidos com a
defesa dos direitos humanos dos políticos presos na Venezuela seria uma ofensa
e um escárnio, não fosse ridículo. Em nenhum momento de sua vida de coloridas
frivolidades Aécio Neves dedicou três gotas de suor a essa questão. Mencionar a
liberdade de imprensa deveria enrubescer suas faces rechonchudas, diante do que
ele fez durante seus oito anos de governador de Minas Gerais.
Em resumo: tudo não passaria de uma desastrada
bizarrice, mas há dois pontos a serem levados em conta. O primeiro: o apoio
incompreensível dos grandes meios de comunicação, que não apenas abriram espaço
nobre para essa bobagem, sem dedicar um ínfimo parágrafo a uma análise responsável
sobre a aventura, como continuam insuflando a história. E segundo: o momento
extremamente delicado vivido pelo Congresso brasileiro, cujas duas casas – a
Câmara de Deputados e o próprio Senado – são presididas por dois elementos de
qualificação mais do que discutível. O país tem, hoje, um dos Congressos mais
conservadores e lamentáveis, em termos do nível de seus integrantes das últimas
décadas. E se o impoluto Renan Calheiros aceita levar essa patuscada adiante?
Será que ninguém vê até que ponto vai a falta de
noção do playboy provinciano, sua falta de limites? Até quando o presidente do
maior partido de oposição continuará se portando como se estivesse numa de suas
alegres e saltitantes tardes de sábado, cercado por um punhado de cafajestes,
num bistrô de Ipanema?
Será que nenhum dos sem-noção desse turismo
ridículo percebe que essa farsa pode trazer consequências para o já tão
enredado cenário político interno que vivemos, e ao mesmo tempo respingar nas
relações com um país cujo peso na balança comercial brasileira – para não
mencionar o difícil equilibro geopolítico regional – é importante?
Há uma evidente cumplicidade irresponsável de quem
abre espaço e leva a sério tudo isso, querendo criar espaço para um debate ao
redor dessa bizarrice oportunista, cuja base tem a consistência de um pudim de
caramelo. Será que não surge uma única e solitária voz para desnudar essa
brincadeira irresponsável?
Lástima que Nicolás Maduro careça de sentido de
humor. Tivesse permitido a essa caravana Brancaleone chegar até o centro de
Caracas para um almocinho frugal, e a manobra patética teria sido esvaziada.
Pena que até o governo venezuelano tenha levado essa esparrela a sério.
Ao exigir respeito de quem não merece respeito
algum, acabou facilitando a manobra de desinformação, contribuindo para que a
maioria dos brasileiros, cuja noção do cenário da América Latina é muito
parecida à sinceridade dos integrantes da caravana do ridículo, continue sem
saber o que realmente está acontecendo na Venezuela.
Créditos da foto: Geraldo Magela /Agência Senado
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