Em negociações secretas, Governo Obama tenta impor
em outros países medidas pró-indústria farmacêutica que ele mesmo combateu nos
Estados Unidos
Sarah
Lazare, Common Dreams / www.cartamaior.com.br
Com uma nova rodada de negociações do Acordo
Transpacífico (TPP) prevista para o final do mês, o governo de Barack Obama
busca impôr às nações em desenvolvimento políticas favoráveis à indústria
farmacêutica tão ruins para a saúde pública que o próprio Obama as combateu nos
Estados Unidos.
Citando vazamentos de versões do acordo, bem como
membros do governo "a par da versão mais recente, de 11 de maio", o
jornalista da Bloomberg Peter Gosselin relatou na sexta-feira que o acordo pode
incluir disposições que devem aumentar os custos dos medicamentos, ao mesmo
tempo em que dificultarão o acesso a medicamentos genéricos em todo o mundo:
"Em jogo estão centenas de bilhões de dólares em custos adicionais que os
consumidores podem ser obrigados a pagar se a aprovação de genéricos mais
baratos se tornar mais difícil".
Nas negociações, Obama está apoiando as mesmas
políticas pró-corporações que rejeitou em seu país.
"Negociadores americanos querem assegurar para
os desenvolvedores de medicamentos avançados uma exclusividade de 12 anos sobre
dados que poderiam ajudar os concorrentes a produzir versões semelhantes, mais
baratas", escreveu Gosselin. Nos EUA, o governo Obama procurou reduzir
esse prazo para sete anos.
Não para por aí. "Os negociadores também buscam
meios de tornar mais fácil para as grandes companhias farmacêuticas garantir
patentes ‘secundárias’ para reforçar o controle sobre os produtos",
continuou Gosselin. Internamente, o governo Obama "propôs alterar a
legislação americana para tornar mais difícil a obtenção destas patentes
adicionais", explicou Gosselin.
Obama está disposto não apenas a impor essas
políticas a outros países, como também a aprisionar os EUA a elas através do
TPP.
Segundo Gosselin, “os negociadores dos Estados
Unidos pressionam os países em desenvolvimento da região a se comprometer com
um calendário de adoção das normas mais rígidas, para reverter as isenções
anteriores que facilitavam o acesso aos medicamentos baratos”.
Obama tem enfrentado oposição oposição dos países
envolvidos nas negociações. Ao mesmo tempo, a sociedade civil e movimentos
sociais de todo o mundo também têm se organizado para demonstrar forte oposição
ao acordo, através de protestos e cartas abertas. A resistência provavelmente
seria muito maior se o conteúdo das discussões fosse público.
Em negociação desde pelo menos 2008, o TPP deve se
tornar o maior acordo corporativo da história – ainda assim, tem sido negociado
em extremo sigilo: quase tudo o que se sabe sobre ele foi revelado através de
documentos vazados. O acordo inclui os EUA e 11 países do Círculo Pacífico –
Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru,
Cingapura e Vietnã, que juntos respondem por 40% do PIB do mundo.
A informação disponível, mesmo pouca, é desoladora.
Em um vídeo recente, a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras afirma
sem rodeios: "Como está hoje, o TPP promete ser o mais prejudicial acordo
comercial no que diz respeito ao acesso a medicamentos”.
Como Common Dreams relatou anteriormente, o TPP
seria uma dádiva para a indústria farmacêutica e uma ameaça para a saúde
pública em escala global. O acordo também deixa os programas de saúde nacionais
vulneráveis, incluindo o Medicare. O grupo de pressão da sociedade civil Public
Citizen alertou recentemente: "As empresas farmacêuticas podem tentar
aproveitar a linguagem geral do anexo (do acordo) para criar impasses ao
Medicare e aos programas de saúde de muitos dos países envolvidos nas
negociações do TPP”.
As preocupações com o acordo, no entanto, vão muito
além do acesso a medicamentos, e grupos da sociedade civil alertam para as
implicações do TPP para a própria democracia, o meio ambiente, e o poder das
corporaçõres. Entre suas muitas disposições, o acordo inclui um sistema de "solução
de controvérsias investidor-Estado" (ISDS, "investor-state dispute
settlement") – formado por tribunais secretos que permitem que as
multinacionais processem governos por perda de "lucro futuro
esperado".
Tradução de Clarisse Meireles
Créditos da foto: The U.S. Army / Flickr
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12