por Kostas Papadakis [*] / http://resistir.info/
entrevistado por a odiario.info
1. Qual é a posição do KKE sobre o referendo?
Funcionários do governo de coligação estão a apelar
ao povo a que diga "Não" e deixam claro que este "Não" ao
referendo será interpretado pelo governo grego como uma aprovação da sua
própria proposta de acordo com a UE, o FMI, o BCE, cujas 47+8 páginas contêm
igualmente medidas antipopulares e anti-operárias duras, com o fim de aumentar
a rentabilidade do capital, o "crescimento" capitalista e a
permanência do país no euro.
O governo SYRIZA-ANEL, que nem por um momento
deixou de elogiar a UE, "a nossa casa europeia comum", o "acervo
europeu", reconhece que a sua proposta é 90% idêntica à proposta da UE, do
FMI, do BCE e tem muito pouco a ver com o que SYRIZA tinha prometido antes das
eleições.
Juntamente com os partidos do governo de coligação
(SYRIZA-ANEL) e a favor do "Não" posicionou-se o Aurora Dourada
fascista, que apoiou abertamente o retorno à moeda nacional.
Por outro lado, a oposição de direita da ND e o
PASOK social-democrata, que estiveram no governo até Janeiro de 2015,
juntamente com o partido TO POTAMI (nominalmente de "centro" mas na
essência reaccionário) posicionaram-se a favor do "Sim" às bárbaras
medidas da Troika e afirmam que isto será interpretado como consentimento e
"permanência na UE a qualquer custo"
Na realidade ambas as respostas levam a um
"Sim" à União Europeia e à barbárie capitalista.
Durante a sessão no parlamento, em 27 de Junho, a
maioria governamental de SYRIZA-ANEL rejeitou a proposta do KKE de colocar
perante o julgamento do povo grego as seguintes propostas:
Não às propostas de acordo da UE, do FMI, do BCE e
do governo grego
Saída da UE – Abolição dos memorandos e de todas as
leis da sua aplicação
Com a sua postura o governo mostrou que quer
chantagear o povo para que este aprove a sua proposta à Troika, que é a outra
face da mesma moeda. Está a pedir ao povo que aceite os seus planos
antipopulares e responsabilizá-lo pelas suas novas opções antipopulares, seja
através de um acordo supostamente "melhorado" com os organismos
imperialistas, ou por meio de uma saída do euro e o retorno à moeda nacional,
que o povo será chamado a pagar de novo.
Nestas condições, o KKE está a apelar ao povo para
que utilize o referendo como uma oportunidade para reforçar a oposição à UE,
para que se reforce a luta pela única saída realista da actual barbárie
capitalista, que tem apenas um conteúdo: Ruptura – Saída da UE, cancelamento
unilateral da dívida, socialização dos monopólios, poder operário e popular.
O povo, com a sua acção e a sua escolha deve
responder ao engano da falsa pergunta que o governo coloca e rejeitar tanto a
proposta da UE, do FMI, do BCE como a proposta do governo SYRIZA-ANEL. Ambas as
propostas contêm medidas antipopulares bárbaras que se acrescentarão aos
memorandos e às leis da sua aplicação dos governos anteriores, da ND-PASOK.
Ambas servem os interesses do capital os lucros capitalistas.
O KKE sublinha que o povo não deve escolher entre
Esquila e Caribdis mas sim expressar no referendo, por todos os meios e formas,
a sua oposição à UE e aos memorandos permanentes. Deve "cancelar"
este dilema ao votar pela proposta do KKE.
Não à proposta da UE, FMI, e BCE
Não à proposta do governo
Saída da UE, com o povo no poder
2. Como avalia os resultados das negociações do
governo grego com a Comissão Europeia?
O governo do Syriza-ANEL está há quatro meses a
negociar com a troika, as "instituições", ou seja a Comissão
Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o FMI, mas não a favor dos interesses
do povo. Trata-se de uma negociação com os credores, que é a priori
antipopular, com a qual o governo está a tratar de assegurar os interesses da
burguesia grega no quadro do antagonismo geral que se desenvolve entre os
Estados Unidos e a Alemanha, assim como entre os países da zona euro, sobre a
fórmula da gestão capitalista. Esta negociação reflecte a confrontação geral em
que a burguesia grega tem como objectivo, entre outros, assegurar um superavit
baixo para os próximos anos, passando capitais destinados à amortização de
empréstimos para o financiamento estatal dos grupos empresarias. Com estes
capitais como ferramenta tentam recuperar da crise capitalista. Portanto, os
grupos empresariais e as associações (Federação de Industrias etc.) apoiam o
governo que se apressou a servir os seus interesses. O acordo antipopular de 20
de Fevereiro já previa que se mantivessem as leis antipopulares do memorando
aprovadas pelo ND e pelo PASOK, enquanto se preparam novas medidas
antipopulares no sistema tributário, privatizações, abolição de direitos de
segurança social, etc. As negociações estão a levar a um novo acordo-memorando,
seja qual for o seu nome.
Portanto os interesses do povo grego não são
servidos se alinharem por planos antipopulares, que aliás implicam medidas
anti-laborais bárbaras; pelo contrário, é necessário lutar contra eles de modo
combativo e sem passividade. O povo não é responsável pela dívida da
plutocracia; nem a criou nem tem de a pagar. Contra a lógica de uma
renegociação antipopular, cujo resultado o povo já pagou e estão a chamá-lo
para pagar de novo, o KKE pede ao povo que exija a abolição das leis
antipopulares e a recuperação das perdas dos anos anteriores, abrir caminho
para o cancelamento unilateral da dívida e, ao mesmo tempo, sair da UE, com o
povo no poder.
Cada trabalhador deve pensar que o SYRIZA se tinha
comprometido a romper com os memorandos mas agora traz outro e mantém vigentes
todas as leis do memorando. O KKE, pelo contrário, apresentou de novo em
Fevereiro no Parlamento um projecto de lei para o cancelamento dos memorandos e
das leis antipopulares pertinentes. Além disso, apresentou uma proposta para o
restabelecimento do 13º salário e do 14.o, aplicação imediata do salário mínimo
de 751€ como base para aumentos — que haviam sido abolidos pelo governo da ND e
do PASOK — aplicação obrigatória dos convénios colectivos sectoriais, etc.
3. Como estão a reagir os que votaram com o SYRIZA
sobre os retrocessos perante as exigências da Comissão Europeia que invalidam
as promessas feitas durante e período eleitoral? E a classe operária?
As "promessas" eleitorais do SYRIZA, o
chamado programa de Tessalónica, eram migalhas que de qualquer modo não
tirariam as famílias da pobreza e da miséria. Tratava-se de medidas que
reciclariam a pobreza mais extrema, mesmo sob a consigna: "contra a crise
humanitária", exonerando o próprio sistema capitalista, dando a entender
que se trata de uma ocasião excepcional e não da própria natureza de um sistema
explorador que está a apodrecer. Constituiriam mesmo os primeiros projectos de
lei do governo que iam ser aprovados independentemente do resultado da
negociação. Mas logo depois das eleições "o programa de Tessalónica"
transformou-se de um programa de 100 dias num programa de quatro anos. Assim as
promessas de restabelecer o salário mínimo passaram para um futuro longínquo e
dependem do "apetite" dos próprios empregadores. Enquanto o imposto
sobre bens imóveis (ENFIA) mantém-se no período próximo. Assim, os impostos
existentes estão a aumentar e o povo vai pagar muito caro o aumento das taxas
de IVA. Ao mesmo tempo, o 13º mês (pelo Natal) foi adiado, mesmo para os mais
fracos economicamente.
O aumento do limiar de entradas isentas de
tributação foi também adiado para os finais de 2016. Em contrapartida, estão a
promover as privatizações de portos, aeroportos, bloquearam as reservas
disponíveis dos municípios, de organismos estatais e os fundos de segurança
destinados a cobrir as necessidades populares básicas. Enquanto se está a
planificar o corte das pensões antecipadas e entre elas as profissões pesadas e
insalubres, das mulheres trabalhadoras com filhos menores de idade, etc.
Perante essa política governamental profundamente antipopular, os trabalhadores
e outros sectores populares pobres que acreditaram nas esperanças que
fomentaram as forças da nova social-democracia do SYRIZA, não devem ficar
decepcionados mas sim tirar as conclusões políticas necessárias. Ou seja, que
não existem "soluções fáceis favoráveis ao povo" quando o povo
concede a responsabilidade a um governo que opera no quadro da UE e na senda do
desenvolvimento capitalista. Portanto, o povo é soberano só quando possui os
meios de produção, livre da UE, e pode satisfazer as suas necessidades com uma
planificação científica central.
4. Como interpreta o enfraquecimento relativo da
reacção popular nos últimos meses? Quais são as perspectivas para a luta de
massas no futuro próximo?
Para lá da repressão e das provocações utilizadas
pelos governos da ND e do PASOK nos anos da crise, um factor determinante que
foi usado para enfraquecer o movimento operário e impedir o desenvolvimento da
sua união e da sua orientação de classe, foi que a classe burguesa e o seu
pessoal proporcionaram a ideia de que outro governo de gestão burguesa se
encarregará de resolver os problemas populares e dos trabalhadores. A intenção
de apresentar o governo com o SYRIZA no seu núcleo como salvador do povo
provocou uma contenção grave do movimento operário. Fomentou a passividade e
falsas ilusões, do que resultou que exista mesmo agora um retrocesso na luta
operária e popular. Nos primeiros dias depois das eleições o novo governo
tratou de por o povo a aplaudir activamente os objectivos da burguesia nas
negociações antipopulares. Poucos meses depois, cada vez mais gente compartilha
as advertências do KKE sobre o carácter e a missão deste governo. Uma série de
mobilizações de trabalhadores não remunerados, grevistas, contratadores nos
centros de trabalho são um fenómeno diário. A greve dos trabalhadores no sector
da saúde, a 20 de Maio, foi um passo importante porque a situação nos hospitais
estatais é explosiva dado que nem sequer têm gaze e os pacientes não só pagam
caro por tudo, como ainda trazem os medicamentos de casa, materiais, etc. As
mobilizações que o PAME está a organizar a 11 de Junho reclamando que não se
aplique o novo acordo antipopular podem significar uma mudança na força, na
combatividade do movimento operário, podem marcar um novo ponto de partida para
o confronto da ofensiva do governo, da UE e do capital contra o povo, para a
recuperação das perdas. A organização do seu contra-ataque para a criação de
uma aliança popular forte contra os monopólios e o capitalismo.
5. As divergências no movimento comunista
internacional actualmente são óbvias. A que se atribuem? Qual é a posição do
KKE?
Sim, efectivamente há desacordos e divergências em
assuntos-chave de importância estratégica. Mas o crucial é determinar qual é a
base sólida e os critérios para os examinar. Os alicerces estão na cosmovisão
marxista-leninista, nos princípios da luta de classes, na estratégia
revolucionária. Só nesta base é possível fortalecer o verdadeiro carácter
comunista dos partidos comunistas, conquistar a unidade da classe operária e a
sua aliança com as demais camadas populares pobres, conseguir agrupar e
preparar as forças trabalhadoras e populares para o derrubamento da barbárie
capitalista, pelo socialismo-comunismo. De outro modo, os partidos comunistas
ficam expostos ao efeito corrosivo das forças burguesas e oportunistas, ao
parlamentarismo, à incorporação na gestão burguesa, às alianças sem princípios,
à participação em governos de gestão burguesa sob o título de
"esquerdas" "progressistas", à opção e à alienação por
detrás das uniões imperialistas, a convergência com forças e formações
oportunistas, como o chamado Partido da Esquerda Europeia ou a sua expressão
política, GUE-NGL. A base de tudo isso é a lógica daninha de etapas entre o
capitalismo e o socialismo. O etapismo, que historicamente não se confirmou em
caso algum, está a embelezar o capitalismo, está a criar ilusões de que se pode
humaniza-lo através da gestão burguesa, com a participação dos partidos
comunistas. Este caminho levou à mutação e dissolução de partidos comunistas,
por exemplo, em França, Itália, Espanha, etc. Esta percepção de
"etapas", que se baseia em elaborações obsoletas do movimento
comunista internacional, acalma o derrubamento do poder capitalista, o próprio
socialismo, a "segunda vinda" e fragiliza a preparação da classe
trabalhadora e dos seus aliados para esta tarefa monumental. Na pergunta crucial
"revolução ou transformação", o etapismo opta pela transformação. O
KKE quer um debate aberto e essencial entre os partidos comunistas sem
etiquetas e sem aforismos sobre assuntos chave de importância estratégica para
que se elabore uma estratégia revolucionária contemporânea. Cada partido é
responsável por responder e justificar a sua opinião e postura.
6. Como encara o KKE a ofensiva actual do
imperialismo em múltiplas frentes: Ucrânia, Médio Oriente, América Latina,
China, Rússia?
Os Estados Unidos, tal como a União Europeia, a
NATO e os seus governos, estão a levar a cabo planos perigosos contra os povos.
O fortalecimento da articulação da UE com a NATO, assim como as intervenções
imperialistas independentes da UE com a formação de um euro-exercito regular e
o fortalecimento das forças militares para executar guerras e missões
imperialistas pelos interesses dos monopólios, confirmam a agudização dos
antagonismos pelo controlo dos mercados, das fontes e das rotas de transporte
de energia. A corrida armamentista com os estandartes da NATO, os programas
avançados de armamento dos chamados países emergentes como a China e a Rússia e
de países do Médio Oriente, são reveladores e constituem um prelúdio perigoso
da forma e dos métodos com que o sistema capitalista procura recuperar da sua
crise profunda. São pura hipocrisia as alianças das potências que estão
"dispostas" a actuar contra os jihadistas, que foram apoiados pela
NATO, Estados Unidos e a UE, os traficantes de pessoas nos países onde a UE e
seus aliados entraram a ferro e fogo em intervenções imperialistas causando
enormes vagas de imigrantes.
O governo grego que subscreveu tudo isso, anunciou
que vai criar uma nova base da NATO no Egeu para as necessidades da UE e da
NATO e dos planos imperialistas e que disponibilizará forças armadas e bases ao
serviço da NATO. Subscreveu todos os comunicados militares da UE nas cimeiras e
dos ministros de assuntos exteriores e de defesa da UE, enquanto fortalece as
relações políticas, económicas e militares com Israel que ataca o povo
palestino. É esse o governo das "esquerdas" do SYRZA-ANEL e queremos
sublinhar que as forças que se apressaram a celebrá-lo, ficaram
irremediavelmente expostas.
Os povos devem intensificar a sua luta para
frustrar os planos imperialistas, pelo que é necessário estar em vigilância
militante. O KKE desempenha um papel essencial na luta contra a implicação da
Grécia nos planos imperialistas, exige que regressem as forças militares gregas
das missões euro-atlânticas ao estrangeiro, que sejam encerradas as bases dos
Estados Unidos e da NATO. O KKE luta pelo afastamento da NATO e da UE, sendo o
povo dono do seu destino.
7. Como vê a nova estratégia de Barack Obama sobre
as relações dos Estados Unidos com Cuba?
É particularmente importante que a longa luta do
povo cubano em condições muito difíceis e a mobilização mundial de
solidariedade contra o bloqueio inaceitável dos Estados Unidos tenham exercido
pressão sobre o governo dos Estados Unidos para discutir o seu levantamento. O
mesmo acontece com a UE com a chamada Posição Comum e as sanções que impõe há
anos contra Cuba. Esta pressão e este movimento mundial de solidariedade que se
tem desenvolvido impulsionaram a libertação dos cinco patriotas cubanos.
Mas, não há qualquer complacência ou ilusão já que
o imperialismo não deixa de utilizar tanto o engodo como o chicote com o fim de
incorporar e subjugar os povos sob a sua estratégia. Por isso é necessário que
a solidariedade internacional revele os ajustes da táctica do adversário para
que se não apliquem os planos que o imperialismo internacional está a preparar
e que se implementem através de sanções, chantagem, e ameaças ou negociações.
8. Qual a opinião do KKE sobre o chamado Socialismo
do século 21 e o papel dos intelectuais de esquerda da América Latina a esse
respeito? Mesmo hoje em dia, consideram como modelo os chamados governos
progressistas, de esquerda, da América Latina?
Ainda hoje os chamados governos progressistas, de
esquerda, da América Latina que constroem o "socialismo do séc.21"
são considerados como modelo. Esta fabricação ideológica opõe-se à própria
experiência popular daqueles países que estão a experimentar a política
antipopular, a pobreza, a exploração enquanto os monopólios estão a enriquecer.
A fabricação ideológica do "socialismo do séc. 21" reúne as diversas
correntes social-democratas e oportunistas, académicos latino-americanos que
garantem que falam em nome do marxismo mas distorcem-no, porque o
"socialismo do séc. 21" no seu conjunto caracteriza-se pela
agressividade contra o marxismo-leninismo e o movimento comunista
internacional, promovendo como solução as reformas burguesas que não afectam o
poder do capital. É a expressão de certas secções da burguesia, sobretudo na
América Latina, que aspiram a uma melhoria do financiamento estatal para a
criação de infra-estruturas, mão-de-obra especializada necessária para os
monopólios – que não estão dispostos a financiá-los – a fim de aumentar a sua
rendibilidade. Uma orientação semelhante existiu também nas décadas anteriores
nos países da Europa Ocidental. Trata-se das necessidades das classes burguesas
desses países para que se reforça a sua posição no antagonismo internacional. O
"socialismo do séc. 21" é uma fonte de distorção do conceito do
socialismo científico já que não afecta o poder burguês. É apenas uma fórmula
de gestão do sistema capitalista a expensas da classe operária e das demais
amadas populares de cada país.
9. Quais as razões – em contradição com a posição
de Marx sobre a extinção gradual do Estado – para que o Estado em vez de
enfraquecer estava continuamente a agigantar-se (URSS, Cuba, China)?
O estudo da experiência da construção socialista é
o assunto de que o nosso partido se tem ocupado nos últimos 20 anos. Tirámos
conclusões sobre os princípios da construção do socialismo através de um estudo
a fundo, de um debate colectivo sobretudo da experiência da URSS,
principalmente das decisões tomadas no âmbito da economia. Hoje em dia, este
debate é necessário para cada partido comunista. Porque, por exemplo, é um
problema e uma expressão da situação difícil do movimento comunista
internacional o facto de que hoje em dia existem partidos comunistas que negam
os princípios, as leis científicas da construção socialista, o poder operário,
a socialização dos meios de produção, a planificação e o controlo operário e
popular.
O KKE defende a necessidade da revolução socialista
e os princípios da nova sociedade e, desse ponto de vista, participa no debate
que está em curso no movimento comunista. Nesta perspectiva examinamos, por
exemplo, os acontecimentos na China onde, segundo os dados, prevalecem as
relações capitalistas de produção.
Para chegar ao ponto de falar da extinção do Estado
uma pré-condição necessária é o fortalecimento das relações de produção
comunistas, não o seu enfraquecimento. A experiência histórica da
contra-revolução, que ainda não acabou, mostra que a tarefa de desenvolver
relações comunistas de produção e distribuição requer o desenvolvimento da
teoria do comunismo científico pelo partido comunista através do estudo das
leis da construção socialista. A experiência mostrou que os partidos no poder,
na URSS e noutros Estados socialistas, não só não tiveram êxito nessa tarefa
como também sofreram a erosão do oportunismo e se transformaram em veículos da
contra-revolução e da restauração do capitalismo.
10. O homem realizou conquistas destacadas no
âmbito da ciência e da técnica, mas mudou muito pouco desde a Grécia e Roma,
como mostram as guerras, cada vez mais cruéis, e a escalada de crimes do
imperialismo. A velocidade com que o "homem velho" reapareceu para
milhões na Rússia e na China, e está a aparecer em Cuba, parece mostrar que a
transição do socialismo para o comunismo será muito mais lenta do que o
previsto por Marx e Engels. A história desmentiu o mito do "homem
novo"? Que pensam disto?
Não concordamos com essa ideia. Tudo o que
afirmaram Marx e Engels, assim como Lénine, se confirmou e confirma de modo
absoluto hoje em dia. A resposta à pergunta surge no próprio carácter da época
inaugurada pela Grande Revolução Socialista, que é a época da transição do
capitalismo para o socialismo. O capitalismo está na sua última fase
imperialista. As condições materiais para a construção do socialismo estão já a
amadurecer. O partido comunista deve pois ser capaz de responder com a sua
estratégia e táctica para o desenvolvimento da luta de classes, ajudar a classe
operária a estar consciente da sua missão histórica, a prepará-la para o
confronto com o verdadeiro inimigo, ou seja a UE, os monopólios e o seu poder.
A elaboração da estratégia revolucionária é a tarefa dos partidos comunistas
independentemente da correlação de forças.
O objectivo é que os partidos comunistas que crêem
na luta de classes e seus princípios, na necessidade histórica do derrubamento
do poder burguês e na construção do socialismo-comunismo elaborem uma
estratégia que cumpra com a própria razão da existência de um partido
comunista: reunir forças para o confronto com o poder dos monopólios e não para
a gestão e perpetuação da barbárie capitalista. O capitalismo é um sistema
apodrecido e obsoleto e nenhum modo de gestão pode dar-lhe rosto humano. A luta
pelo socialismo, portanto, não é uma declaração para um futuro longínquo mas um
tema chave que determina todos os outros. A questão chave é como trabalha dia
após dia um partido comunista para alcançar esse objectivo.
[*] Membro do CC e eurodeputado do KKE.
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=3692 . Tradução de Manuela Antunes.
Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=3692 . Tradução de Manuela Antunes.
Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .
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