Por Alexandre Ribondi / http://www.jornaldoromario.com.br/
“Muita mentira, mas não inventada pelos dois senhores (que ouço) que apenas repetem, como papagaios, o que é dito e clamado nas redes sociais e na mídia nacional”.
Hoje à tarde, sentado num café, ouvi da mesa ao lado dois senhores que lamentavam a imensa vergonha de ver a presidente do Brasil ir aos Estados Unidos de pires na mão, já que o nosso país está quebrado.
Tudo isso é mentira, é claro, mas não foi inventada pelos dois senhores que apenas repetem, como papagaios, o que é dito e clamado nas redes sociais e na mídia nacional.
E não é para se surpreender, porque qualquer brasileiro sabe que da Dilma Rousseff já se inventou de tudo. Que a filha dela se tornou dona de 20 empresas e está milionária. Que ela liberou R$ 13 milhões para erguer estátua do Lula. Que proibiu divulgação de investigações de acidentes aéreos acontecidos no nosso céu.
Que é lésbica de dar porrada. Que foi assaltante de banco e terrorista (informação dada pela Folha de S. Paulo, que, em seguida, desmentiu, com pedidos de desculpas). Que quer deturpar a língua portuguesa ao pretender ser chamada de 'presidenta'.
Podemos até nos perguntar se ela consegue dormir, que calmante tarja preta ela toma, se sofre de tremedeira e suores. Eu teria tudo isso, porque uma coisa é fato: a imprensa e a elite brasileiras, enlouquecidas com a possibilidade de o governo de Dilma continuar levando o Brasil para o bom caminho e, com isso, firmar a plataforma eleitoral de Lula na próxima eleição não têm mais pudor em difamar, atacar moralmente e psicologicamente, mentir, inventar. Isso tem nome e certamente não é jornalismo nem oposição. Isso é bullying.
Mas tanto a elite quanto a imprensa sabem que já tiveram vitórias anteriores. Quando, em 1888, a princesa Isabel saiu de casa para assinar a Lei Áurea (a que acabou com a escravidão), ela avisou ao marido, o Conde d'Eu, que provavelmente seria deposta.
Mas ela tinha reservas financeiras, no banco, para garantir a inserção dos negros na sociedade brasileira e esperava certa compreensão. Que não veio. Jornais e fazendeiros gritaram aos quatro ventos que o Brasil iria à falência com o fim da escravatura - o que nunca aconteceu, naturalmente.
Mas a monarquia foi banida do território nacional, e a República nunca tratou de convidar os antigos escravos a participarem da nova sociedade. O resultado foi a manutenção da elite nos mesmos padrões e a criação de uma horda de mendigos, famintos, marginais. Todos pretos.
Mais de 50 anos depois, imprensa e elite voltaram a atacar quando o ditador Getúlio Vargas, inventou de criar o salário mínimo, em 1936. Foi um deus-nos-acuda. Os jornais estamparam em suas manchetes que o Brasil estava à beira da falência.
O Brasil não faliu, mas a elite ainda afirma que se o salário mínimo subir muito, o país acaba. E quando Vargas voltou, nos anos 50, como presidente eleito, os ataques às suas reformas sociais foram tão intensas que o resultado pertence à história: um suicídio no Palácio do Catete.
O bullying praticado contra Dilma Rousseff parte do princípio de que uma mulher pode ser desrespeitada - assim como é do senso absurdamente comum a ideia de que um retirante nordestino operário sindicalista não podia nunca ter chegado à presidência da República.
Lembram-se de quando Lula, esse pé-rapado com apenas quatro dedos numa das mãos, benzeu uma garrafa do elegantíssimo vinho Romanée-Conti? Disseram que esse é o vinho dos ricos e dos corruptos.
Ora, os detratores de Lula bebem Romanée-Conti e isso é natural. Quem não pode beber é nordestino pobre. O bullying funciona assim mesmo: quer humilhar, ofender, esmagar a auto-estima da pessoa atacada.
Para os difamadores de Dilma, uma mulher que tem voz de comando, que desafia a monstruosa ordem estabelecida, que coordena um grupo de homens engravatados, só pode ser feia e mal amada.
E lésbica, naturalmente - o que, para eles, é ofensa. E como ela teve a ousadia e a coragem de vencer para um segundo mandado presidencial, os ataques começaram na manhã seguinte.
A psicologia já sabe que as pessoas que praticam o bullying adulto mostram suas forças quando se sentem ameaçados pelo êxito do outro. Surge aí um sentimento de irritação, de rancor, em relação ao sucesso que o outro possa ter.
Mas, infelizmente, ainda não há leis que proíbam o bullying contra adultos. Se alguma atitude for tomada contra a imprensa, que se tornou uma latrina de mentiras, conspirações e desacatos, sempre poderão alegar que a liberdade de expressão está sendo ameaçada e que a bolivarianização do Brasil caminha a passos largos.
Então, o que resta fazer, no momento, é contar com o poder transformador e impactante das redes sociais e discutir ideias, encontrar soluções, por a boca no trombone, mostrando que o Brasil não é um poço de analfabetos políticos e que os herdeiros dos donos de escravos não vencerão sempre. Isso vai passar a ter nome: anti-bullying.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12