Guerreiro do povo
Paulo Nogueira / http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
Todos os livros escritos por FHC
não valem o discurso do Papa Francisco na Bolívia.
Não apenas os livros. Inclua aí
os discursos, as entrevistas, as cartas, os emails e o que mais for.
Faço esta comparação porque ambos
são senhores de idade avançada, o Papa com 78 anos e FHC com 82.
Os anos fizeram bem ao Papa e mal
a FHC.
O Papa, desde que chegou, se pôs
a combater como um gladiador o grande câncer do mundo: a desigualdade social.
O resto foi consequência disso.
Francisco retrata, à perfeição, o
Zeitgeist, a palavra alemã que designa o espírito do tempo.
Rapidamente, ele venceu a
resistência de progressistas que não acreditavam que de uma Igreja Católica
corroída pudesse brotar um Papa como aquele.
Hoje, Francisco é provavelmente a
voz mais admirada, mais reverenciada e de maior repercussão em todo o mundo.
A pregação igualitária lhe dá
tanta força que ele parece um adolescente octogenário.
Poucos notaram isso, mas uma de
suas maiores virtudes é o constante sorriso.
Ele combate o bom combate, para
usar as palavras de São Paulo, com um sorriso nos lábios.
É um exemplo para todos nós.
Da luz, passemos para a sombra.
Quantas vezes você viu FHC falar
em desigualdade? E estamos falando de um homem de um país que é recordista
mundial em iniquidade.
Não me lembro de tê-lo visto
falar nisso uma única vez.
Em compensação, FHC
demagogicamente fala compulsivamente em corrupção, ele que comprou a sua
reeleição.
Por que ele fala tanto?
Por duas grandes razões, ambas
canalhas.
A primeira.
Historicamente, corrupção tem
sido uma cortina de fumaça para encobrir a tragédia da desigualdade nacional.
Você fala tanto nela que a iniquidade
cai, automaticamente, para um segundo plano, ou terceiro, ou quarto.
A segunda.
A classe média – composta
majoritamente de pessoas pouco politizadas — é facilmente manipulada com o uso
de denúncias (tantas vezes falsas) de corrupção.
É uma receita velha: a
plutocracia matou Getúlio com isso em 54, derrubou Jango em 64 e vem buscando
loucamente liquidar Lula e Dilma, em nossos dias.
FHC se juntou à plutocracia, e
age como um serviçal dela. Em vez de iluminar o debate, como faz Francisco, ele
ajuda no embuste.
A corrupção deve ser atacada, é
claro. Mas de verdade – não de mentira, como sempre fez a plutocracia.
O uso demagógico da corrupção
impede que ela seja extirpada.
Desconfie de quem fala, o tempo,
todo em corrupção. Assim como você com certeza já faz em relação aos que, como
os Malafaias, vivem falando sobre a moral e os bons costumes.
É o mesmo tipo de demagogia, de
falácia.
Francisco faz bem ao mundo, com
seu empenho desmesurado pelos pobres e sua crítica constante aos gananciosos.
FHC faz mal ao Brasil, e à
própria biografia, com seu discurso repetitivo e enganador sobre corrupção.
Na velhice, Francisco é um homem
puro. E FHC é uma alma corrompida e corruptora.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é
fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do
Mundo.
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